Estamos numa eterna quinta série. A vida nos trata assim: com avaliações, fofoquinhas, disputas inúteis e joguinhos típicos dos 11 anos. Comigo nunca funciona, nunca funcionou, nem na quinta série. Eu sempre fui direta demais pra isso. Quando gostava de um menino, ele sabia que eu gostava. Algumas vezes eu falava. Outras eu simplesmente me fazia entender. Aos 5 anos eu beijei um menino que gostava. Sou assim e sempre me ferrei porque não me encaixei no quinta série way of life.
Não sei porque estou escrevendo isso. Talvez porque tenha acabado de voltar de férias e esteja naquele momento fundo do poço/ressaca, em que tudo lindo e legal que aconteceu já não vale mais e a vida é uma merda. Visitando o site da ONU e querendo ser voluntária. Revendo todas as coisas, como eu faço todos os anos.
Minha incapacidade de jogar o jogo da quinta série não me torna idiota, porém. Sei que há coisas que não posso falar. A necessidade de guardar dinheiro para meu próximo projeto pessoal não me permite que eu saia chutando o balde. Me sobra a angústia, o tédio e o desamor. E hoje eu senti que preciso de um remédio para lidar com tudo isso. E me odiei pra caramba, porque eu sei que esse remédio vai me tornar menos eu. Mais quinta série.
O que me leva ao momento em que parei de tomar pílula. Foi engraçado sentir aquele turbilhão de coisas, vontades, emoções, altos e baixos. "Porra, sou eu de novo", foi o que pensei. E era eu mesma. Só que, né, eu. As pessoas me chamam de louca. Sou impulsiva, aventureira, boca suja. Vou pra frente. Não fico tímida, não mais. Assusto às vezes, muitas vezes. Com a pílula, aquela coisa que me continha e equilibrava meus desejos e humores, era mais fácil. Passei 4 anos sendo eu. Até o momento em que me dei conta que não dava. Que era preciso um remédio que me tornasse um pouco menos eu, para que a vida fosse mais leve e menos suicida.
Hoje tomo pílula. E já não estou dando conta. Quero colocar mais um remedinho aí na fatura. Seja porque eu estou ficando cada vez mais selvagem, o bicho enjaulado que quer comer o braço do menino, seja porque o mundo tá jaula demais pra mim.
Queria entender. Fui burra demais pra não aprender noções básicas aos 11 anos. E talvez nunca aprenda, né.