terça-feira, 26 de novembro de 2013

colcha de retalhos

Eu conto aqui as histórias que vivo, que ouço na rua. Conto as histórias que me contam, que percebo sem que me contem. Conto o que acho que pensam, influenciada talvez por tanta coisa que tenho lido ultimamente, Contos. E escrevo. Escrevo o dia todo, e é só nessa hora que sinto menos dor (como tem doído). Contar tornou-se terapia e remédio, tornou-se uma fuga boba, uns minutos de suspiro.

Eu tenho muitas histórias e queria contá-las todas. Queria contar também para não esquecer. Queria estar um dia velha e ler essas histórias todas e saber que fui eu, que foi alguém que me contou, que afinal eu até que sabia contar.

Minha avó paterna fazia colchas de retalhos. A mãe dela sobreviveu e cuidou da filha por um bom tempo com uma máquina de costura, tudo o que lhe sobrou depois que o marido morreu e a família dele decidiu que ela não tinha direito a nada.

Minha avó materna era professora. Dedicou a vida toda aos outros, nunca nos deixou duvidar do quanto era bom estudar, aprender, ler, se educar. Amou a educação até o dia em que decidiram que ela não tinha mais direito.

Cada vez mais dolorosamente próxima das minhas raízes, eu leio, eu reúno casos, eu os transformo em colchas de retalhos de histórias temperadas com esse meu sonho que distorce as coisas. Eu escrevo. Conto coisas. Até o dia em que me deixarem.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Compra compra compra

Desde a história do vestido preto eu não paro de comprar. Já fechei um pacote estético de drenagens, ultrassom e derivados, já fui duas vezes no bazar de uma marca carérrima que eu amo (mas que tava com 80% de desconto, diga-se de passagem). Virei a louca das compras, gente. Sinto uma culpinha porque no último ano eu só comprei coisa usada porque é preciso comer, afinal. Muquirana assumida que sou, jurei nunca mais comprar nada que não seja absolutamente essencial e etc.

Mas o post nem era pra falar disso. Eu ia falar da tia da ~clínica estética~ onde fechei o tal pacote, que de clínica mesmo não tem nada, é uma casa improvisada onde cada cômodo é dividido com BIOMBOS para que caibam duas pessoas na mesma sala. Eu já vi várias bundas alheias nesse processo (hihi, tenho 12 anos).

A moça que faz a drenagem lá queria me convencer a fechar um pacote de 350 reais com aplicações de carboxiterapia. Que nada mais é do que mini injeções de gás carbônico. Tirando o fato de que gás carbônico faz mal do lado de fora do corpo, e daí imagino que do lado de dentro não deve ser essa maravilha, eu tenho medo de agulhas e não acredito nessas merdas. Faço drenagem porque é gostoso e pode até ser que funcione, mas pelo menos gasto o meu dinheiro com massagem e não sendo furada por agulhas cheias de gases tóxicos.

Não satisfeita, ela quis me dar uma sessão grátis. Não, obrigada. Daí ela começou a apelar. Começou a apontar lugares no meu corpo onde a tal carboxi ia ser super eficiente. LUGARES QUE EU NUNCA TINHA REPARADO. Tipo, curvas normais do meu corpo que eu nunca vi como gordura, que nunca me incomodaram. E que eu não quero eliminar. Depois me disse que, apesar de magra, eu tinha muita retenção de líquido (sim, madame, é por isso que estou aqui perdendo meu horário de almoço pra fazer drenagem). E quando comentei com ela de um inchaço que tenho desde que sofri um acidente há dois anos, adivinha a resposta dela: "Carbóxi nele!"

Eu tento. Mas tá difícil.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Um vestido preto

Fui lá comprar. Não sei porquê, mas eu não tinha um vestido preto, desses que se pode usar para trabalhar e, sei lá, se quiser sair depois. Um vestido preto, gente.

Eu queria entrar e sair meio despercebida da loja. Entrei mesmo porque vi uma plaquinha de promoção, e com promoção nunca se sabe, né.

Uma mulher me atendeu com cara de dona da loja. Disse que a coleção estava linda e perguntou se eu já conhecia a marca. Como sempre, eu não estava a fim de papo. Fui educada mas meio monossilábica. Escolhi o vestido que queria e já fui me esgueirando para o provador.

Ela praticamente se enfiou na minha frente para ver que eu estava levando um vestido e queria me empurrar mais uns quinze. Disse que não estava procurando nada, só queria aquele vestido para trabalhar. Chamando uma das vendedoras, ela disse: traz TODOS os vestidos para trabalhar que você achar.

Enquanto eu estava me vestindo, ela me deu mais um monte de coisa, e um cinto para ornar com o tal vestido. Disse que meu corpo era bonito e que eu devia aproveitar. Ficou bonito o vestido, decidi levar. Mas não o cinto, e nem experimentei as outras coisas.

No caixa, ela quis fazer um cadastro. Perguntou se eu trabalhava com cheque. Disse que eu ganhava 10% de desconto no meu aniversário, e se comprasse mais de R$ 200, ganharia um brinde especial. Um inferno.

Não sei onde fica a Academia Internacional de Vendedores Bajuladores e não faço ideia do motivo pelo qual ensinam que o combo elogio + promoção + subserviência funciona. Não pra mim. Não consigo ter uma faxineira porque me incomodo com os outros me servindo, imagina isso.

Na hora de sair, jurei que nunca mais voltava lá. Tive vontade de dizer isso, mas fiquei com medo que ela me jogasse uma caixa de lenços palestinos grátis para "fidelizar a cliente". Melhor não.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Por um mundo com mais chinelos

Tá calor. E eu passei o fim de semana todo de chinelos. Meus pés estão uma lástima, esperando por um tratamento vip com parafina importada de 39 reais do Groupon que eu jamais farei.

Existe apenas uma coisa mais deprimente que a musiquinha do Fantástico na TV do vizinho anunciando que o domingo está acabando: o pensamento automático que vem logo depois de "o que vou vestir amanhã?". Eu sempre deveria optar pelos saltos se fosse levar em conta o que eu vejo à minha volta, mas acabo decidindo por sapatos que evidenciam a minha incapacidade de me equilibrar sobre mais de cinco centímetros ou, fracasso dos fracassos, que mostram que eu jamais uso parafina nos pés.

Houve um tempo em que eu trabalhava de jeans e rasteirinha. Houve tempo que eu não usava sutiã pelo menos duas vezes por semana (alô, 2004!). Mas o dia revolucionário mesmo virá quando eu puder usar chinelos no trabalho. Sigo esperando.