Eu conto aqui as histórias que vivo, que ouço na rua. Conto as histórias que me contam, que percebo sem que me contem. Conto o que acho que pensam, influenciada talvez por tanta coisa que tenho lido ultimamente, Contos. E escrevo. Escrevo o dia todo, e é só nessa hora que sinto menos dor (como tem doído). Contar tornou-se terapia e remédio, tornou-se uma fuga boba, uns minutos de suspiro.
Eu tenho muitas histórias e queria contá-las todas. Queria contar também para não esquecer. Queria estar um dia velha e ler essas histórias todas e saber que fui eu, que foi alguém que me contou, que afinal eu até que sabia contar.
Minha avó paterna fazia colchas de retalhos. A mãe dela sobreviveu e cuidou da filha por um bom tempo com uma máquina de costura, tudo o que lhe sobrou depois que o marido morreu e a família dele decidiu que ela não tinha direito a nada.
Minha avó materna era professora. Dedicou a vida toda aos outros, nunca nos deixou duvidar do quanto era bom estudar, aprender, ler, se educar. Amou a educação até o dia em que decidiram que ela não tinha mais direito.
Cada vez mais dolorosamente próxima das minhas raízes, eu leio, eu reúno casos, eu os transformo em colchas de retalhos de histórias temperadas com esse meu sonho que distorce as coisas. Eu escrevo. Conto coisas. Até o dia em que me deixarem.
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