terça-feira, 24 de novembro de 2009

Alívio

Olha, eu ia postar ontem. Sobre o presidente do Irã. Mas o dia passou e eu deixei pra lá. E hoje, entrando no blog da Mary W., vi essa discussão de novo, e me senti na obrigação de postar também.

Porque não é preciso concordar com as ideias do homem. Não é preciso gostar dele, não é preciso achar que ele é legal. Ele é um chefe de estado. Representa um país, independente se sua eleição foi ou não legítima. Um país que pesa na nossa balança comercial, um país que trouxe uma comitiva de 300 empresários pra fazer negócio com o Brasil.

E mesmo que não trouxesse (porque tem gente que tem mimimi de achar que o dinheiro do Irã não é bem-vindo).

Mas eu me senti uma voz solitária ontem no Twitter. Todo mundo criticando o Brasil de receber o cara. E com comentários como "olha a fotinha deles se abraçando". Gente. Não parece óbvio que esse é o mesmo comportamento fundamentalista, justamente o mesmo comportamento que se critica no Irã?

Eu acho que é. Achei feio as pessoas deixarem o diálogo na profundidade do "tiraram foto dando a mãozinha". Me poupem.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Aguardando um acontecimento incrível

Coloquei no meu Gtalk um verso de um poema que gostava muito quando criança:
Troco um fusca branco por um cavalo cor de vento.

Eu não tenho o fusca e provavelmente nunca terei esse cavalo. Mas o que eu sei que é possível, e que eu queria ter mais que tudo, é que de repente um acontecimento incrível e maravilhoso simplesmente caísse no meu colo e me surpreendesse com sua possibilidade de transformar minha vida.

Eu preciso de um acontecimento incrível. Que não seja fabricado por mim, nem pelo suor do meu trabalho, nem pelo esforço cotidiano que me consome. Que venha de alguém que me ame, ou mesmo que seja um milagre, sei lá. Eu só espero que ele seja incrível e maravilhoso.

Os chineses acreditam na fortuna. Eu queria muito poder acreditar que alguma coisa boa, seja lá qual for, simplesmente aconteça. Agora.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Simplesmente não acredito nisso

Os homens são os mestres do universo em passar cantadas toscas, ridículas e que causem vergonha. Eu tinha até esquecido desse detalhe, até ontem.

Estava eu, linda e faceira, caminhando para o ponto de ônibus, quando passa um táxi do meu lado e o taxista, delicadamente, grita: - Quer uma carona, morena?

Eu não queria uma carona. Fechei a cara e continuei andando.

Estava lá há uns cinco minutos quando alguém para do meu lado e, estendendo um cartão, me diz: - Parei o táxi só pra te entregar meu cartão. Aceita?

Eu olhei pro lado e não acreditei no que estava vendo. O taxista de um metro e meio se plantou do meu lado pra me dar o cartão dele! Eu ignorei o indivíduo, fechei a cara, não aceitei a carona e o maldito vem me entregar um cartão? O que será que ele achou, que eu estava COM VERGONHA de aceitar uma carona? Que eu estava fazendo charminho e que, no fundo, estava louca para ter um caso de amor com ele? Que chegando perto de mim eu perceberia todo o seu sex-appeal?

Gente, não dá. E se bobear o filho da puta é casado.

Eu gostaria de ter pensado em um milhão de respostas pra ele. Mas a timidez (e a falta de credibilidade no que estava acontecendo) não deixou. Respondi: - Não, moço, obrigada.

E ele foi embora.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Freedom

Coloquei o DIU.
E senti que um mundo de liberdade e novas sensações se abriu pra mim (parece propaganda de salgadinho, né?)

Mas é sério.
Ficar livre dos hormônios me deixou bem. Me sinto menos inchada, mais leve. Todo mundo comentou que eu emagreci, apesar de eu já ser magra. Estou comendo bem, minhas dores de cabeça sumiram, me sinto até menos preguiçosa, mais animada, mais alegre.

Pode ser coisa da minha cabeça. Mas me fez bem mesmo.
E minha pele continua normal. Meus pêlos não dominaram o resto do corpo, ou seja, meu medo maior, que era de virar a Monga, ainda não se concretizou.

A ver.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

A fábrica de certezas que mora em nosso cérebro

Quando eu era mais nova, eram muito mais certezas.

Mas elas ainda existem. E quando você fala uma coisa pra alguém que você tem certeza que vai ser bem-recebido e não é? Daí você tem certeza que machucou aquela pessoa, mas talvez nem seja.

E quando você tem certeza que se tal coisa acontecesse na sua vida, ia ser bem melhor? E quando há a certeza do amor, aquela certeza que pode mudar a qualquer momento (MESMO)?

E as certezas de que aquele pequeno defeito é grande, de que aquela mancada que você deu é monstruosa, de que aquela pessoa é legal demais, de que aquela pessoa é mala demais.

Começo a desconfiar que a vida é um grande projeto orquestrado para os humanos pararem de ter certezas.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

sobre o trabalho

Em economia tem um conceito que é o de qualidade do trabalho (opa, perdi metade dos leitores agora). Que quanto mais você pensa e usa a sua mente pra trabalhar, maior é a qualidade do trabalho. Isso significa que a qualidade do meu trabalho é maior do que a de um torneiro mecânico, por exemplo.

Eu sempre tomei isso como verdade, até porque nunca parei pra pensar. Já que trabalho pensando mesmo...rs

Só que hoje eu parei pra pensar. E discordei. Acho que quando se trabalha pensando, é um trabalho mecânico e direcionado da mesma forma que um torneiro opera máquinas todo dia. Meu trabalho segue diretrizes que preciso seguir. Eu tento criar, e um dos meus maiores sofrimentos é não conseguir fazer isso, porque:

1) eu não sou muito criativa
2) a possibilidade de criar na minha profissão tem um limite
3) a possibilidade de criar em toda profissão (mesmo que envolva criação) é limitada
4) algumas regras necessariamente precisam ser seguidas

E mais outras coisas que nem tenham passado pela minha cabeça.
Se você for ver por esse prisma, o meu trabalho e o de muita gente segue uma mecânica que funciona sempre. Na hora de escrever um texto, fazer uma entrevista.É mecânico, é natural, segue um determinado padrão. Exatamente da mesma forma que um torneiro.

A diferença toda é que eu termino o meu dia de trabalho e tenho dificuldade pra continuar pensando. E levo trabalho pra casa, no sentido de me preocupar como será o dia e o que eu preciso fazer e dar conta. Então, ler um livro mais técnico ou navegar no computador se torna um pouco pesado demais pra uma mente que pensou o dia todo, mesmo que dentro dos padrões e regras que citei.

Quanto ao torneiro, ele tem a certeza de que trabalha das 8h às 17h (sei lá). E vai pra casa sem nem pensar no que vai fazer no outro dia. E chega lá e faz, e pode pensar no Corinthians, na novela, no que for, ele tem a mente livre pra pensar até em Sartre, se quiser.

E aí vem a economia elencando e categorizando e dizendo que um trabalho tem mais qualidade que o outro. Não estou nem dizendo qual tem mais qualidade, só acho que, pra cada cabeça, está uma qualidade diferente.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

sonho

Eu tive um sonho outro dia.

Sonhei que eu consegui uma coisa que quero muito e fiquei tão feliz, mas tão feliz. Sabe aquele feliz enorme de quando você passa no vestibular? De quando consegue o primeiro emprego? De quando percebe que o amor que você sente é correspondido?

Então. Aí eu acordei.

E pensei que faz tempo que eu não me sinto feliz assim.

Ela e as pessoas como ela

Ela fala tao certinho e nunca engole nenhuma letra. Sabe inglês fluente e mais algumas línguas. Não é inteligente e nem muito linda, mas sabe parecer ser.

Tem uma vida tão normal que enoja. Ela liga pro namorado pra saber se ele comeu, e passa as noites em casa, vendo novela. Controla a vida dos colegas de trabalho, mas não se preocupa com eles. Ela só quer saber. É uma boa filha, tem um bom emprego, uma boa vida, afinal.

Imagino que ela tenha vontade de ser uma moça sem namorado, que não fala nenhuma língua e que pode falar errado às vezes. Uma vez eu a vi se permitir, e fiquei com pena da humanidade frágil que transpareceu quando ela deixou de usar todas as máscaras e proteções que usa todos os dias. Imagino que ela queira passar as noites sem ver novela, e que tenha vontades. Só.

Tenho raiva dela e das pessoas como ela. Que não fazem escolhas. E quando fazem, recuam. Tenho pena também, porque afinal de contas, a raiva que eu sinto é de ser, lá no fundo, como ela.

Mas sempre, sempre, me recuso a ser como ela. Não somos amigas. Não quero ser amiga dela. Na minha maldade eterna, quero apenas usá-la como modelo. E me torturar bastante quando chegar perto.