segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Retiro

Neste fim de semana eu fui para um retiro de yoga. Eu adoro fazer yoga. Não entro muito nos lados da filosofia e tal, mas me faz bem. E levei o Victor, que desconfio que só topou mesmo porque eu disse que ia ter oficina de massagem thai. Que é legal também, né.

O lugar era lindo, uma fazenda cujos donos são hare krishna, tudo funciona, é orgânico, naturebíssimo e ao mesmo tempo legal. Passei dois dias no mato, acordando cedo, fazendo yoga em jejum e comendo comida vegetariana. E fui feliz.

O que me incomodou (é claro que algo ia me incomodar) foram as pessoas. Como eu não tenho tanto contato assim com gente que faz yoga, sempre achei que fossem pessoas minimamente mais equilibradas, calmas, serenas. GENTE ELEVADA, RYSOS.

Gente, as pessoas estavam completamente loucas. Enquanto um que estava no seu terceiro casamento vomitava todos os seus traumas de vida a dois e pagava de taradão, outro recitou todos os cursos que fez na vida, de literatura medieval a história da arte com o famoso professor quem? num óbvio pensamento "eu sou foda porque tenho títulos" para terminar dizendo que era superfrustrado profissionalmente. Uma supercontroladora machista falava de seu casamento megalomaníaco em 2015 e de como "a gente deve deixar o homem mandar".

Para não citar casos de ultracarentes e histéricos, que aí já é mais normalzinho, né.

Saí de lá pensando seriamente em largar a yoga. Esse troço deve fazer mal, gente.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

what's the point?

Olha só, eu tenho me perguntado isso tanto. Qual o propósito disso tudo, desse acordar cedo, desse vestir-se pra ficar bonita, desse tanto de cosméticos, dessa preocupação exagerada sobre "onde vamos almoçar", dessas relações tão esquisitas, todas elas. TODAS. Dessa coisa de ir em lojas e ir ao cinema e vamos comer um brigadeiro. A única coisa que tenho feito e que considero lógica do ponto de vista de propósito é ir à academia. Pra vocês verem a minha situação.

Passo bastante tempo sozinha (por opção). Calada, também por opção. Começo a desconfiar que no meu trabalho as pessoas me achem uma mal-humorada patológica. Talvez é o que eu esteja me tornando. Meu grau de irritação com o ser humano chegou a um ponto que eu tenho birra de mim mesma: a mania de falar somente da minha pessoa como se houvesse algum interesse, essa graciosa necessidade de dar lição de moral nos outros, de interromper as pessoas enquanto elas falam, de sempre enfiar uma história ilustrativa em qualquer assunto que esteja em pauta. Em suma: prazer, eu sou chata. Pra caralho. Caga-regras.

Me bate um desespero porque sinceramente eu não queria ser isso. Foi o que me tornei e luto contra isso diariamente - talvez seja por isso essa 'caladeza' toda. Talvez seja um ataque de lucidez. E se for, gente, mal vejo a hora de ficar louca logo.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

colcha de retalhos

Eu conto aqui as histórias que vivo, que ouço na rua. Conto as histórias que me contam, que percebo sem que me contem. Conto o que acho que pensam, influenciada talvez por tanta coisa que tenho lido ultimamente, Contos. E escrevo. Escrevo o dia todo, e é só nessa hora que sinto menos dor (como tem doído). Contar tornou-se terapia e remédio, tornou-se uma fuga boba, uns minutos de suspiro.

Eu tenho muitas histórias e queria contá-las todas. Queria contar também para não esquecer. Queria estar um dia velha e ler essas histórias todas e saber que fui eu, que foi alguém que me contou, que afinal eu até que sabia contar.

Minha avó paterna fazia colchas de retalhos. A mãe dela sobreviveu e cuidou da filha por um bom tempo com uma máquina de costura, tudo o que lhe sobrou depois que o marido morreu e a família dele decidiu que ela não tinha direito a nada.

Minha avó materna era professora. Dedicou a vida toda aos outros, nunca nos deixou duvidar do quanto era bom estudar, aprender, ler, se educar. Amou a educação até o dia em que decidiram que ela não tinha mais direito.

Cada vez mais dolorosamente próxima das minhas raízes, eu leio, eu reúno casos, eu os transformo em colchas de retalhos de histórias temperadas com esse meu sonho que distorce as coisas. Eu escrevo. Conto coisas. Até o dia em que me deixarem.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Compra compra compra

Desde a história do vestido preto eu não paro de comprar. Já fechei um pacote estético de drenagens, ultrassom e derivados, já fui duas vezes no bazar de uma marca carérrima que eu amo (mas que tava com 80% de desconto, diga-se de passagem). Virei a louca das compras, gente. Sinto uma culpinha porque no último ano eu só comprei coisa usada porque é preciso comer, afinal. Muquirana assumida que sou, jurei nunca mais comprar nada que não seja absolutamente essencial e etc.

Mas o post nem era pra falar disso. Eu ia falar da tia da ~clínica estética~ onde fechei o tal pacote, que de clínica mesmo não tem nada, é uma casa improvisada onde cada cômodo é dividido com BIOMBOS para que caibam duas pessoas na mesma sala. Eu já vi várias bundas alheias nesse processo (hihi, tenho 12 anos).

A moça que faz a drenagem lá queria me convencer a fechar um pacote de 350 reais com aplicações de carboxiterapia. Que nada mais é do que mini injeções de gás carbônico. Tirando o fato de que gás carbônico faz mal do lado de fora do corpo, e daí imagino que do lado de dentro não deve ser essa maravilha, eu tenho medo de agulhas e não acredito nessas merdas. Faço drenagem porque é gostoso e pode até ser que funcione, mas pelo menos gasto o meu dinheiro com massagem e não sendo furada por agulhas cheias de gases tóxicos.

Não satisfeita, ela quis me dar uma sessão grátis. Não, obrigada. Daí ela começou a apelar. Começou a apontar lugares no meu corpo onde a tal carboxi ia ser super eficiente. LUGARES QUE EU NUNCA TINHA REPARADO. Tipo, curvas normais do meu corpo que eu nunca vi como gordura, que nunca me incomodaram. E que eu não quero eliminar. Depois me disse que, apesar de magra, eu tinha muita retenção de líquido (sim, madame, é por isso que estou aqui perdendo meu horário de almoço pra fazer drenagem). E quando comentei com ela de um inchaço que tenho desde que sofri um acidente há dois anos, adivinha a resposta dela: "Carbóxi nele!"

Eu tento. Mas tá difícil.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Um vestido preto

Fui lá comprar. Não sei porquê, mas eu não tinha um vestido preto, desses que se pode usar para trabalhar e, sei lá, se quiser sair depois. Um vestido preto, gente.

Eu queria entrar e sair meio despercebida da loja. Entrei mesmo porque vi uma plaquinha de promoção, e com promoção nunca se sabe, né.

Uma mulher me atendeu com cara de dona da loja. Disse que a coleção estava linda e perguntou se eu já conhecia a marca. Como sempre, eu não estava a fim de papo. Fui educada mas meio monossilábica. Escolhi o vestido que queria e já fui me esgueirando para o provador.

Ela praticamente se enfiou na minha frente para ver que eu estava levando um vestido e queria me empurrar mais uns quinze. Disse que não estava procurando nada, só queria aquele vestido para trabalhar. Chamando uma das vendedoras, ela disse: traz TODOS os vestidos para trabalhar que você achar.

Enquanto eu estava me vestindo, ela me deu mais um monte de coisa, e um cinto para ornar com o tal vestido. Disse que meu corpo era bonito e que eu devia aproveitar. Ficou bonito o vestido, decidi levar. Mas não o cinto, e nem experimentei as outras coisas.

No caixa, ela quis fazer um cadastro. Perguntou se eu trabalhava com cheque. Disse que eu ganhava 10% de desconto no meu aniversário, e se comprasse mais de R$ 200, ganharia um brinde especial. Um inferno.

Não sei onde fica a Academia Internacional de Vendedores Bajuladores e não faço ideia do motivo pelo qual ensinam que o combo elogio + promoção + subserviência funciona. Não pra mim. Não consigo ter uma faxineira porque me incomodo com os outros me servindo, imagina isso.

Na hora de sair, jurei que nunca mais voltava lá. Tive vontade de dizer isso, mas fiquei com medo que ela me jogasse uma caixa de lenços palestinos grátis para "fidelizar a cliente". Melhor não.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Por um mundo com mais chinelos

Tá calor. E eu passei o fim de semana todo de chinelos. Meus pés estão uma lástima, esperando por um tratamento vip com parafina importada de 39 reais do Groupon que eu jamais farei.

Existe apenas uma coisa mais deprimente que a musiquinha do Fantástico na TV do vizinho anunciando que o domingo está acabando: o pensamento automático que vem logo depois de "o que vou vestir amanhã?". Eu sempre deveria optar pelos saltos se fosse levar em conta o que eu vejo à minha volta, mas acabo decidindo por sapatos que evidenciam a minha incapacidade de me equilibrar sobre mais de cinco centímetros ou, fracasso dos fracassos, que mostram que eu jamais uso parafina nos pés.

Houve um tempo em que eu trabalhava de jeans e rasteirinha. Houve tempo que eu não usava sutiã pelo menos duas vezes por semana (alô, 2004!). Mas o dia revolucionário mesmo virá quando eu puder usar chinelos no trabalho. Sigo esperando.


quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Frankenstein

Uma amiga me contou a história de uma menina que termina o trabalho todos os dias, e passa mais um tempo fazendo um relatório para o chefe de todos os furos que a empresa tomou naquele dia da concorrência e o que se pode fazer para melhorar. Eu não consigo achar isso legal, sério. Uma menina de uns 20 e poucos anos que devia estar na praia, no cinema, dormindo, fazer hora extra para apontar erro dos outros. Porque furo dela é que ela não aponta.

Eu não sei em que momento da história inventaram que é preciso ser ambicioso a esse ponto, ao ponto de jogar todo o resto no lixo e dedicar todo o seu tesão, sua energia e seus bons anos de vida exclusivamente a trabalhar e ganhar dinheiro. Sou pouco ambiciosa? Será que talvez não ser ambicioso é que seja bom?

O pior é que eu escrevi sobre isso tanto tempo que me sinto em parte criadora do monstro. Uma espécie de Victor Frankenstein dos coxinhas. Triste.


quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Quase-cigana

No trabalho, um amigo (que já trabalhou numa editora) vive tentando me convencer a escrever um livro de memórias. Ele já deu título pro livro ("As Coisas que Vi e que Vivi", hahahahaha) e jura que me consegue uns prefácios bãos

O fato é que, pensando ironicamente no assunto, eu quase que tiro um roteiro para uma temporada inteira de programa de humor absurdo. Tem horas que eu me sinto aquele personagem do Peixe Grande, ou o próprio Forrest Gump, de tantas coisas incríveis que já aconteceram comigo.

Uma delas foi quase ter virado cigana (e eu só lembrei dessa história porque li umas notícias sobre uma família cigana acusada de raptar uma criança). Gente, eu quase fui batizada cigana numa praia whatever do Rio de Janeiro.

A história é assim: perto da minha casa em Minas, tinha um centro de cultura cigana. Era pra ser uma ONG mas acabava funcionando como um lugar onde davam festas, cursos de cartomancia, quiromancia (até yoga tinha), e onde faziam atendimentos. Era bizarro, mas eu tinha 18 anos e achava o máximo.

Daí que o cigano-chefe lá um belo dia me convidou para ser Diretora de Marketing e Comunicação do centro (coloquei em letra maiúscula para reforçar o absurdo). Eu, meio que rendida e envergonhada pelo que deveria ser percebido como uma homenagem, aceitei. E minha primeira missão foi ir à Câmara Municipal tentar convencer um vereador X a entrar com um projeto de lei a favor dos ciganos. O que, no alto da minha incompetência juvenil, obviamente não consegui.

Passou o tempo (algumas semanas, meses, jamais saberei) e, um belo dia, fui convidada para virar cigana. Com direito a viajar para o Rio, passar a noite ao relento na praia e, depois de algumas festas e celebrações, virar cigana. É óbvio que eu topei. Achei tudo muito legal até o dia em que vi que não tinha dinheiro pra ir. E tava meio com preguiça. E aí não falei nada: só sumi. Nunca mais apareci no centro. 

Certifico e dou fé que é verdade.

Depois conto mais histórias, beijos.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

O que está acontecendo com as pessoas?

Eu nem sei quando começou. Mas foi assim: de repente, a amiga de uma amiga reclama que a babá noturna era uma egoísta porque pediu demissão justamente no momento em que ela, grávida do segundo filho, mais precisava. Isso mesmo, BABÁ NOTURNA. Isso mesmo, EGOÍSTA.

Aí de repente um taxista começa a falar que quem anda de ônibus tem mais é que se ferrar porque teve preguiça de trabalhar e comprar um carro. E uma amiga reclamando porque vai ter que dividir o iPhone em, sei lá, 3 ou 4 prestações. Sendo que no ano passado ela comprou à vista. E, sabe, aquela palhaçada de pessoas postando foto de prato de comida no Facebook.

Provavelmente as pessoas sempre foram assim e eu coloquei óculos novos. Talvez eu até preferisse a miopia de volta, mas agora não sei se dá mais.

Quando a gente saiu do país, não tínhamos nenhuma ilusão de que seria fácil. Fomos com o dinheiro contado e garantia nenhuma de trabalho. Mas éramos pessoas simples. Gosto de pensar que somos ainda. E morar lá nos tornou mais simples ainda. Porque era assim: fazíamos comida em casa todo dia, não havia desperdício de nada, nem excesso de consumo. COMO TODAS AS PESSOAS. A gente vivia como pobres. Mas não éramos porque tínhamos o suficiente, sei lá.

 Quando a gente voltou, combinamos de que não íamos deixar essas coisas levarem a gente. Que não íamos nos deixar convencer de que não sobreviveríamos sem um carro, sem um ipad, sem um café com brigadeiro gourmet, sem um restaurante fusion. Tem horas que eu sinto que estou perdendo essa luta. Tem horas que eu estou somente exausta de sequer tentar. Tem horas que não sei. Que incompreensão, gente.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Um recomeço

"Minha irmã faz engenharia. Ela é muito estudiosa, tirou dez na prova de cálculo. Aí a minha mãe falou: dá parabéns para a sua irmã, ela tirou dez em cálculo. Eu respondi: e quanto ela ganha? O que ela compra com esse dez que ela tirou?".

E foi assim que eu decidi voltar a escrever. Porque eu ouvi isso tudo e não pude falar. E não podia falar pra ninguém, e isso foi me consumindo o dia todo. E eu vim aqui escrever. Porque sei que nenhuma dessas pessoas vai ler. E mesmo se ler, sabe, foda-se. Apesar de não ser um lindo recomeço, essa foi a história do retorno do meu blog.

PS: Na verdade eu não mudei nada. Continuo com essas neuras todas, angustiada, com vontade de escrever e nada nunca me basta. Nem reconheceria esse recomeço como recomeço. Foi uma pausa técnica para perceber que a gente não foge de si mesmo.