sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Tem coisas que nem daria para escrever

Ontem tive uma recaída. De novo. Aquela tristeza de merda do cansaço, dessa luta insana que jamais entenderei, por chegar em casa com chuva e ter medo do fuzil enorme que vi na mão do policial dando geral em vários meninos, Deus, na minha rua. Entrei no chuveiro a ponto de chorar, e ele estava tão feliz, havia sido um dia bom para ele. Ele elétrico me contando tudo, e eu só pude dizer: foi um dia normal. Para não dizer que tinha sido ruim, que o ponto alto foi ver meus amigos no almoço mas foi tão rápido que me deu mais tristeza ainda.

Brigamos porque eu me sinto tão sozinha que ele jamais entenderá.

Brigamos porque ele se recusa a se entregar à minha dor.

Eu espero muito que eu esteja errada, mas é como se eu estivesse me transformando em um ser inanimado. Sem alma. Como se eu mesma me olhasse nos olhos e não visse nada lá no fundo.

Meus lampejos de vida são acompanhados imediatamente por uma ressaca moral tão grande, tão maior que todas as ressacas morais que já senti na vida. Como se meus freios estivessem me dominando tanto que me levassem a uma perfeita conformidade que me apodrece toda.

Alguém me explica isso?



sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Ungida

Olha que ironia.

Uma amiga, daquelas boas, tem ouvido esse mimimi abaixo acho que por tempo demais, coitada. Me mandou um email com um link de uma mensagem de um pastor lá não sei das quantas. Um pastor americano, esse pessoal que estuda Teologia e Bíblia e filosofia. Fui meio com preguiça ler, ai que saco mas tenho que responder o email da minha amiga pra mostrar que me dei trabalho de ler, e, gente.

(pausa dramática)

ME UNGIU O TROÇO.

hahaha, não é pra tanto, vai

Mas assim. Foi bom porque me deu uma perspectiva do quanto eu estava sendo mimada e ridícula com essa reclamação blasé de "ai, consumo", "ai não tenho vida social tempo e como as pessoas são rasas e não me identifico". SIM, AMIGUINHA, É ASSIM QUE A VIDA É, ACEITE.

E acordei melhor hoje. :-)

Pra vocês verem o que spam de pastor anda fazendo por aí, pessoal.

(O meu nível de vergonha foi tanto que tive que falar que o pastor é americano e estuda filosofia, caindo na mesma vala comum das ~pessoas rasas~ e tal. É bom quando o autoconhecimento acaba com a sua moral)

Cuidem-se.



segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Aviação é o meu nome do meio

Lá estava ele, sentado no metrô. Calça de moletom furada, faltando os dois dentes da frente. Uma camiseta velha. E, do lado, a filhinha que devia ter um ano. Linda, de fralda, roupa escrito "Princesa" com glitter, um sorriso ainda com todos os dentes que são possíveis. Fazendo o maior sucesso com toda a sua simpatia. Nesse dia, eu juro que vi o olho triste dele contrastando com a alegria dela. Não tinha motivo nenhum, mas saí com o coração partido.

O moço estava vendendo camisetas no shopping, tanta gente, tanta tanta gente, só ele para atender. Uma barraquinha com camisetas num ponto tão bom, meu Deus, será que esse moço teve tempo de almoçar? Olha a mão dele ali tremendo. E fazer o que se não almoçou? Deixar a barraca sendo invadida por hipsters tão consumistas quanto o resto das pessoas, mas que compram camisetas com desenho de bicicletas vintage que nunca terão? Dei uma barrinha pra ele. Ele ficou me olhando com cara de Q e eu saí correndo com vergonha.

Uma menina do Couchsurfing me mandou um email falando que o cara que hospedou ela não a tratou tão bem assim, ai meu Deus coitada da menina, vem pra minha casa, eu faço um cafezinho e tento mostrar que SP tem gente legal também, mesmo que sejam só os mineiros.

O moço me pediu um dinheiro na porta do supermercado já faz meses, eu não tinha, ele me disse, "Minha filha, eu vou sair dessa. Logo eu que já estive tão bem..." - e saiu com a voz embargada. Nunca mais esqueci dele.

Preciso de uma dose de durepox no coração, senão viro água antes das Olimpíadas.