quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Eu e a quinta série

Estamos numa eterna quinta série. A vida nos trata assim: com avaliações, fofoquinhas, disputas inúteis e joguinhos típicos dos 11 anos. Comigo nunca funciona, nunca funcionou, nem na quinta série. Eu sempre fui direta demais pra isso. Quando gostava de um menino, ele sabia que eu gostava. Algumas vezes eu falava. Outras eu simplesmente me fazia entender. Aos 5 anos eu beijei um menino que gostava. Sou assim e sempre me ferrei porque não me encaixei no quinta série way of life.

Não sei porque estou escrevendo isso. Talvez porque tenha acabado de voltar de férias e esteja naquele momento fundo do poço/ressaca, em que tudo lindo e legal que aconteceu já não vale mais e a vida é uma merda. Visitando o site da ONU e querendo ser voluntária. Revendo todas as coisas, como eu faço todos os anos.

Minha incapacidade de jogar o jogo da quinta série não me torna idiota, porém. Sei que há coisas que não posso falar. A necessidade de guardar dinheiro para meu próximo projeto pessoal não me permite que eu saia chutando o balde. Me sobra a angústia, o tédio e o desamor. E hoje eu senti que preciso de um remédio para lidar com tudo isso. E me odiei pra caramba, porque eu sei que esse remédio vai me tornar menos eu. Mais quinta série.

O que me leva ao momento em que parei de tomar pílula. Foi engraçado sentir aquele turbilhão de coisas, vontades, emoções, altos e baixos. "Porra, sou eu de novo", foi o que pensei. E era eu mesma. Só que, né, eu. As pessoas me chamam de louca. Sou impulsiva, aventureira, boca suja. Vou pra frente. Não fico tímida, não mais. Assusto às vezes, muitas vezes. Com a pílula, aquela coisa que me continha e equilibrava meus desejos e humores, era mais fácil. Passei 4 anos sendo eu. Até o momento em que me dei conta que não dava. Que era preciso um remédio que me tornasse um pouco menos eu, para que a vida fosse mais leve e menos suicida.

Hoje tomo pílula. E já não estou dando conta. Quero colocar mais um remedinho aí na fatura. Seja porque eu estou ficando cada vez mais selvagem, o bicho enjaulado que quer comer o braço do menino, seja porque o mundo tá jaula demais pra mim.

Queria entender. Fui burra demais pra não aprender noções básicas aos 11 anos. E talvez nunca aprenda, né.





terça-feira, 29 de julho de 2014

Eu to tão chata, mas tão chata que...

Vou escrever em forma de pequenas frases raivosas.

- Gente que subestima os outros. Tem uma pessoa que eu conheço que é assim: "ah, Fulano saiu daqui pra trabalhar no concorrente, é um bosta", "quem é Fulana de tal? Uma empreendedora que ganhou milhões com uma start up no Vale do Silício? Aposto que não tem conteúdo. A gente é melhor que ela". Juro, gente. Juro. Subestimar os outros é o erro número 1 que você pode cometer na vida.

- Gente que só acha que existe ela no mundo. Gente egoísta, cara. Esse povo do trânsito que acha que só eles têm direito. Que tem nojinho de transporte coletivo porque "tem outras pessoas". Que critica qualquer coisa que ocupe um espaço que ele considera dele. Chego a ter cólicas.

- Não quero que me adicionem no Facebook. Quero menos gente. Quero ser eu um pouco, sabe. Facebook que tem a Tia Flau, a secretária da minha chefe na Inglaterra, uma mina que eu conheci um dia e nunca mais vi e a minha amiga de infância quando eu tinha 12 anos não funciona. Tento compensar isso postando coisas aleatórias e herméticas. Não funciona porque eles curtem tudo e comentam: "TOP"

- Vou tirar férias semana que vem. Quero desligar o celular. Vou pro deserto. Mas volto. Acho.

Momento feliz e efêmero:
- Comprei um móvel LINDO que é igual o masp. O nome dele é Rack Masp. Ele é vermelho e lindo e acomodou minha coleção de copinhos de cachaça. <3 p="">

terça-feira, 1 de julho de 2014

Não vou falar de Copa

Mas de certa forma, vou. Ontem o Suárez (meu parente, hehe) pediu desculpas pelo que fez, de ter dado a mordida no italiano. Disse que não voltará mais a fazer e etc. Achei legal demais, principalmente porque ele negou mil vezes que tinha mordido. Não voltou atrás. Acho que foi pressionado pelo clube ou alguém "importante", sei lá. Mas pediu desculpas, falou que tava errado e tal.

A merda dessa nossa cultura (nem sei de onde vem isso, porque não conheço uma só cultura que não tenha isso) é nunca podermos voltar atrás. Mudar de ideia é uma vergonha. Reconhecer que fez merda. Que não pensou direito e foi lá fazer sem saber. Na semana passada mesmo fiquei puta porque um fornecedor disse que se enrolou com a agenda da Copa e não conseguiu ver um negócio que eu pedi pra ele. Foi sincero, sabe. A grande maioria daria um migué qualquer e fingiria que está fazendo. Mentiria só pra não revelar a fraqueza.

Como a gente cobra essas coisas dos outros, acaba internalizando também, né. Vejo isso na política. Os debates podres que rolam na internet. Se a pessoa reavalia o seu pensamento, se repensa suas ideias, é fraca. Se admite que errou, também. É ruim isso, né. Impede a gente de crescer.

Outro dia o Victor falou um negócio tão lindo pra mim (como eu amo esse homem) que uma coisa que ele gostava no nosso relacionamento era o fato de pensarmos diferente. Que eu desafio ele o tempo todo. A repensar as verdades dele. E a melhorar como ser humano, e tal. Quase morri de amor, mas isso não vem ao caso. Queria que mais pessoas pensassem assim, que é possível voltar atrás, pedir desculpa, mudar de ideia, sem ser um banana ou um fraco. É uma bobeira, né, mas ia fazer diferença no mundo, eu acho.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Gentileza gera...ops

Quando eu fui morar fora, li tratados, matérias e mil blogs sobre como as pessoas são, como tratá-las, cultura e etc. Queria chegar lá causando o menor impacto possível, ser educada, me adaptar e tal. Acho que fiz bem. Me preparei, por exemplo, para o fato de os holandeses serem tão diretos que beiram a falta de educação. Não me ofendi com nada, apesar de ter levado várias "patadas".

Outra coisa que aprendi foi que os nórdicos detestam ser ajudados sem pedir. Por exemplo, se uma velhinha está tentando atravessar a rua ou carregar compras, NÃO ofereça ajuda. Eles têm um senso de independência muito forte e querem fazer tudo sozinhos. Se não conseguirem, pedem ajuda, e isso pra eles é muito difícil. O que aqui é educação, lá é humilhação pública.

O que me leva à minha total identificação pessoal com a velhinha nórdica. Além de detestar pedir ajuda, eu fico puta pacarai quando querem me ajudar sem que eu precise.

Bom, tudo isso aí em cima foi para desabafar sobre um fato muito recorrente em minha insignificante vida. Eu tenho um colega de trabalho tão legal, mas tão legal que eu chego a ter dó. Porque ele é o tipo da pessoa que pode oferecer um rim pra um desconhecido. É o altruísta universal - que me ajuda, me dá caronas, quebra mil galhos e etc. Não tô reclamando. Só que essa pessoa legal me irrita deverasmente quando passa dos limites da ajuda média (que seria dar carona, por exemplo). Ele chega ao ponto de oferecer dinheiro para coisas totalmente desnecessárias, ofereceu o salão de festas do prédio dele para meu marido (que ele não conhece) fazer uma festa com os amigos dele. É, nesse nível.

Diálogos comuns:

(eu) - Putz, esqueci de transferir o pagamento para a conta da minha professora.
(ele) - Você quer que eu pague pra você? Eu transfiro agora.
(eu) - Mano, sério. Qual a diferença entre dever pra ela e dever pra você?

(eu) - Vou pedir um táxi. Será que 45 reais dá pra chegar lá?
(ele) - Dá sim, com certeza. Mas você quer que eu te empreste uma folha de cheque?
(eu) - Não, eu tenho cartão de crédito. Vou pedir pelo aplicativo.

Essa gentileza toda me irrita um tanto. Mas um tanto. Porque assim, eu não quero ajuda, pô. Se eu precisar eu peço. Mas não quero.

Eu sei que posso estar exagerando. Certamente estou. Nunca pedi dinheiro pros meus pais depois que vim pra SP - e olha que eu ganhava BEM pouco. Fico irritada quando amigos tentam me proteger do assédio de outros caras (sei falar e dar foras sozinha, tks). Mas é que eu acho que até pra ajudar os outros tem limite.

Reflitam: o poeta Gentileza pode estar errado.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Vida-game

Foi assim: uma amiga reclamando que vivia irritada, que a vontade dela era espancar as pessoas. Sem motivo. Eu me identifico, gente, porque consigo perder a paciência com o ser mais puro e bonzinho do mundo. Agora imaginem a sensação com quem me irrita de propósito. Instintos assassinos.
Daí que eu comecei a falar pra ela:
"  vc precisa ter mais perspectiva sobre a sua vida
vc tá muito mergulhada nesses seus problemas cotidianos
MBA, trabalho, hômi, falta de grana
e aí vc vive isso, isso te consome e vc não consegue pensar em mais nada
na sua vidano que vc quer, o que vc deseja, seus sonhos, suas aspirações, sobre quem é você
seus amigos, pô
a gente precisa se ver, cara
a vida da gente virou um video game em que o próximo passo é passar de fase"

Ela falou: amiga, que bonito isso. Video game. Hahahaha, cagamos de rir. Video fucking game.
Eu falei do fundo do coração, gente. Acho a analogia super válida, mas foi engraçado na hora e etc.



Mas eu acho isso mesmo e continuo pensando.
Quando é que a gente vai sair dessa, gente? Todos nós, eu digo.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Existencialismo de primeira página

Eu estou lendo Sartre, "A Náusea". Confesso que comecei a ler porque achei chique ler Sartre - e porque li "A Idade da Razão" há um tempo e gostei. Bom, o fato é que estou lendo e gostando muito.

Aí fui falar pro Victor, que é acadêmico, cabeção e tal, sobre o livro. Li uma frase lá que achei de impacto e comecei a explicar o livro, tentando definir de alguma forma o existencialismo que ele coloca no livro, através do personagem. Falhei. Falhei vergonhosamente, horrivelmente. Falhei de forma humilhante e dolorida. Não consegui explicar o conceito e só consegui descrever umas cenas lá em que ele dá uma canivetada na mão.

Essa falha foi tão ridícula que me fez lembrar de algumas coisas:

- 2002, faculdade de Comunicação, aula de semiótica. Fui a última da turma a entender "que porra é essa que esse cara tá falando". Sério, levei dois meses para começar a juntar uma palavra com a outra e formar uma ideia. Falhei vergonhosamente (mas passei na matéria, rs)

- 2014, USP, numa matéria equivocada que resolvi acompanhar como ouvinte. Tive que ler textos com conceitos aleatoriamente abstratos, sofri por não entender nada, escondi isso de toda a turma, mas na hora de propor um projeto de pesquisa pra fessora como trabalho final, falhei miseravelmente. Ela falou que aquilo não tinha nada a ver com a matéria e eu nunca mais voltei pra aula.

O que me leva a: não consigo entender conceitos abstratos, gente. De alguma forma eu consigo sentir e experimentar, acho até bonito quando leio. Mas não consigo entender. Sequer explicar pra alguém. Sou jornalista e penso em fatos, acontecimentos. Sei contar histórias. Sei reproduzir falas.

Digamos que eu sou um papagaio de luxo. Ou talvez nem isso, né. Quanto custa um papagaio?

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Eu nem gosto de Clube da Esquina

Mas preciso ser mais Maria. Ter gana raça fé na vida, sonho sempre e tal.

A gente tem mania de querer que as coisas boas pulem na nossa frente. E ó, logo eu que sempre corri atrás delas. No fundo, tudo o que eu posso concluir é que SP me acostumou mal.

Como se eu pudesse culpar SP.

O fato é que estou aqui e não vou sair tão cedo, mas sou uma velha coroca reclamona botando toda a culpa nessa metrópole fedida onde...

1- Trabalhei com mil coisas legais

2- Conheci mil pessoas legais

3- Conheci o meu amor (óin)

4- Virei gente, perdi preconceitos, ganhei dinheiro, abri a cabeça

SP me levou a todos os caminhos possíveis. E agora que ela está aqui, agonizando sem água (seria águanizando?), eu não quero mais brincar.

veja bem

Várias pessoas não querem mais brincar. E há 8 anos, todos os fucking dias só o que eu ouço é falarem mal de SP. Uma hora a gente entra na onda e começa a falar mal também, né. Afinal, é tendência - falar mal de SP é mais popular que a coxinha do Veloso, o sanduíche do Estadão, o Bauru do Ponto Chic.

Eu amo SP de um jeito bem estranho. Mas amo. Acho.


terça-feira, 8 de abril de 2014

Isso não é um poema

Todos os dias eu acordo meio sem pensar muito (se eu pensar eu desisto)

Levanto e faço todas as tarefas automáticas bem rápido, mas nem tanto, porque eu tenho uma hora pra me arrumar e eu preciso disso

Preciso ter tempo pra tomar café banho ler notícias arrumar tudo fazer maquiagem

É um ritual bom

Eu juro que não sinto falta de ter tempo demais - já tive e sei que não é bom

Mas juro que sinto falta de ter um pouco de tempo a mais

Eu queria pegar um cinema, fazer um poema, queria andar mais a pé, ver as coisas no Sesc, flanar um pouco na cidade que eu sempre amei

Queria ir numa festa na quinta-feira  (de verdade), queria poder beber e me permitir ter  um pouco de ressaca na sexta, e ainda assim poder trabalhar

Dá pra fazer isso

Eu não preciso desse dinheiro benefícios cargo legal oportunidades carreira

Eu preciso só ser eu um pouco

Só não sei o que fazer com isso tudo

terça-feira, 18 de março de 2014

Sempre pode piorar

Nos últimos dias:

- Escutei um volume de preconceitos babacas coxinhas inimagináveis na vida, do tipo: "ele tem sotaque do interior, MAS é um bom profissional", "polícia tem que bater em manifestante mesmo, é pra isso que serve" e "meu filho pode ter a profissão que quiser, tipo, sei lá, dançarino, mas quando quiser um carro eu vou falar: olha filho, que vida você escolheu". Sim. SIM. Eu ouço essas coisas todos os dias.

- Fui fazer reavaliação física na academia, já ciente que não estava lá aquela beleza, mas não só engordei MUITO como ganhei MUITA gordura e fui perguntada se eu tenho ciência do meu "problema de retenção de líquidos". "Sim, eu sei, tenho total consciência do quanto é abominável e tento tratar e esconder desde os 14 anos". Mas nada funciona e eu continuo nessa. Ah, e fui chamada de falsa magra. Falsa magra = gorda, amiguinho.

- Comecei uma matéria como aluno especial na USP me achando a fodona intelectual e não entendi nem uma palavra de nenhum dos 4 textos que li. Sou a patricinha burra de uma sala cheia de acadêmicos que não se penteiam e usam colar de frutos do mar, mas que sabem citar teóricos clássicos da Geografia.


-  Vivo a vida como se fosse um zumbi, preenchendo cada brecha da vida  com uma aula joguinho internet rede social para não pensar nessa grande merda em que eu me atolei.

- Tive que acordar em horários nunca dantes acordados para vir trabalhar.


- Fiquei gripada por causa do ar condicionado antártico que fica zunindo nas minhas costas.

Mas sempre pode piorar, né, gente.
Então calemo-nos.

terça-feira, 11 de março de 2014

A questão é: cansei

Como 70% das pessoas que moram nessa cidade.

Eu ficaria se fosse num esquema super mega conveniente, tipo ir a pé pro trabalho e fazer um horário, sei lá, de 11h às 20h. Com direito a fins de semana e feriados. E um salário decente, claro. Mesmo assim eu pensaria meia vez para ir para, digamos, Luxemburgo, ganhar metade do meu salário e trabalhar de atendente de hostel.

Aqui não posso ter tempo, não posso ter a minha própria casa, não vejo meus amigos, não vejo o meu marido que mora comigo, não faço academia do jeito que quero porque sempre estou cansada demais, não tenho lazer no fim de semana porque só quero dormir porque estou cansada demais, não vou no cinema porque tem muita fila, vamos continuar essa lista até o fim dos tempozzzzzzzzz.

Fora que super vai dar merda, eu tenho pesadelos com o nível do reservatório da Cantareira na Copa. Caos zumbi agora, imagina na Copa.

Alguém me salva de SP, por favor.

Todo carnaval tem seu fim

(Aprendam: quando uma pessoa cita Los Hermanos, ou significa que ela está melancólica ou então, sei lá, ela é esquisita mesmo. Eu gostei um pouco de Los Hermanos uns anos atrás, mas sofria demais quando ouvia, então meio que desisti. Ia cortar os pulsos a qualquer momento.)

A questão é que: na minha vida, não há Carnaval perfeito. O desse ano foi o mais próximo de perfeito que se pode chegar, mas como eu precisei viajar mais de 13 horas para ir e 13 horas para voltar, incluindo carona, ônibus cata-jeca, crianças chorando de madrugada, trânsito indecente no meio do caminho que me atrasou pelo menos umas duas horas AND paradas rodoviárias escrotas, perfeito não é exatamente a palavra a ser usada aqui. Minas é mais longe que a Europa, gente.

Mas quando cheguei na casa do meu irmão e vi meus dois sobrinhos, a minha linda que está enorme e quase uma moça, o pequeno que é um pacotinho que fala, canta, corre e me chama o tempo todo, sumiram todas as 26 horas de viagem. Fiquei com eles o tempo todo e extravasei toda a minha maternidade inexistente porque né, filhos, SP não trabalha.

Resumindo: limpei bundas, nadei na piscina e inventei a brincadeira do sapo com xixi venenoso, fiz minha sobrinha escrever a primeira carta da vida dela pra mim (a ser recebida). Meu sobrinho perdeu o medo de molhar o cabelo e não perdeu o sotaque de Cebolinha. O resto da família também foi, aquela bagunça, jogamos baralho, fizemos churrasco, bebemos, essas coisas de família. Tudo ok e sem brigas.

Mas aí eu precisei voltar né. Depressão total. Assisto os vídeos do meu sobrinho em looping e já dei umas choradinhas e tal. Vou ali escutar Los Hermanos, não sei se volto e etc.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Sim, tem carnaval em SP

E foi legal, e eu fui em dois blocos, um deles cantou Beatles em ritmo de samba, só tinha gente linda e não tava lotado, começou a chover uma chuvinha boa e bater um ventinho bom e naquele momento eu fui feliz.

Depois fui num outro perto de casa, as pessoas estavam civilizadas, meus amigos gays se esbaldaram porque toda a comunidade estava lá e eles trocavam figurinhas sobre quem já pegou quem e me mostraram a bunda mais bonita de São Paulo.

Em ambas tinham pessoas com fantasias legais e criativas e o clima tava tão bom, gente, nem parecia o mesmo lugar que no dia anterior estava cheio de PMs armados até os dentes.

Mas eu bebi pouco, não fiquei muito tempo e nem abri uma brechinha para enlouquecer, porque não posso mais. Pessoas que começam a ter dor de cabeça quando bebem a segunda latinha (fígado fail) e sofrem terrivelmente porque no dia seguinte precisam acordar às cinco: VELHICE. O resultado disso tudo é que fui dormir no impressionante horário de nove e meia da noite. Acordei às 3 com meu digníssimo esposo assaltando a geladeira e não consegui dormir mais.

Mas eu fui feliz em, sei lá, duas horas do fim de semana. O que já é uma puta vitória.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Bitch

Eu sou chata pra caramba. Quando era adolescente eu era uma fofa. Engolia todos os absurdos que me falavam. Não discutia, mal falava. Era tímida, achava que eu devia ficar quieta no meu canto e concordar com tudo para que as pessoas gostassem de mim.

Aí cresci. E durante boa fase da minha vida adulta eu continuei assim. Só que eu sou uma pessoa que gosta de falar. Eu não consigo manter essa boca fechada. E falando todas as merdas que passam pela minha cabeça, percebi que as pessoas podem, sim, gostar de alguém que emite opiniões (nesse caso, eu).

De uns tempos pra cá esse processo evoluiu um pouco mais. Escolho as discussões das quais vou participar, mas participo VALENDO. Não brigo porque acho ridículo, mas uso todos os argumentos possíveis e defendo a minha opinião. Talvez seja algo que aprendi no ano passado, quando morei fora e convivi com gente que sabe debater pra caralho. (Vai discutir qualquer tema com um sueco pra você ver. Eles não perdem JAMAIS. Minha amiga de lá me disse que eles têm aula de debate desde a alfabetização. Aos dez anos de idade precisam se posicionar em frente à toda a turma se são contra ou a favor do aborto e porque).

Daí que voltei, convivi demais com essas meninas aí e fiquei assim, virei a barraqueira da feira. Ontem discuti no facebook da minha mãe com um senhor chamado Jesus. Que né, deveria ser uma briga não comprada, porque ele só digita em caps lock e escreve "ediôndo". Mas ficamos lá, discutindo a opinião da Sheherazade do SBT (eu sei, gente, que arrependimento). E no final eu fui muito foda, apelei para Jesus (o original) e disse que ele (o Jesus caps lock) precisava ler mais os ensinamentos do xará dele.

(pausa para rysos)

O véio ficou possuído e defendeu a pena de morte para pessoas como eu.
Pois é, agora sou assim, bitch, barraqueira, compradora de briga com pessoas que gritam na internet sem saber, hipócrita religiosa e ameaçada de morte.

Ainda bem que o mundo tá acabando porque eu nem quero ver a evolução disso.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Burrice

Ontem eu tava conversando com uma amiga. Ela acabou de pedir demissão, assim, do nada. Não quer mais fazer o que ela vem fazendo até agora, cansou da empresa, da profissão. Deu uma piradinha (responsável, mas deu). Vai ficar 4 meses na Austrália com o marido e quando voltar vai ver qual é.

Ela trabalhava em uma empresa das 10h às 19h. Não podia atrasar 10 minutos que recebia cara feia, a mesma cara feia que faziam quando ela saía às 19h. Achavam que tinha que ficar mais. "Se dedicar", se quiser "crescer". Mostrar ambição, comprometimento, essas coisas. Eu sei porque já escrevi muito sobre essas paradas de RH e Carreira, meu dedo já escreve sozinho, não preciso nem pensar. Diria até que eu ajudei a criar o monstro.

Aí ela falando: "mas por que eu tenho que ficar até depois das 19h? Aliás, por que eu preciso ficar até às 19h? Tá cheio de gente olhando Facebook, procrastinando, enrolando trabalho, horário. Essas pessoas podiam estar em casa, almoçando, malhando, vivendo, indo no cinema, estudando, sei lá. Mas estão lá NÃO TRABALHANDO, mas já que têm que fazer o horário, vamos lá, né, olhar Facebook".

Gente. E isso é tão verdade. As empresas hoje pedem que a gente trabalhe mais, e aí precisamos estar disponíveis e responder emails às dez da noite e jamais nos atrasar. E aí não podemos sair, digamos, às quatro da tarde porque chegamos mais cedo. Ou porque trabalhamos muito no dia anterior. Mesmo que não tenha nada para fazer. Muitas vezes fica aquele bando de abobado lendo blogs  sites de notícias com o cérebro no piloto automático só porque ainda não deu a hora de sair. A HORA DE SAIR. que coisa velha, gente.

Daí hoje eu estava indo linda e sonolenta pegar um chá na cozinha da firma, com o objetivo de esticar as pernas e descansar os olhos. E no caminho vi um cantinho em uma das salas, uma sala de reuniões que quase sempre está vazia. Um cantinho que me cabia deitadinha lá, esticada, tinha um solzinho agradável (combinado com o ar condicionado daqui). Parei e fiquei olhando aquele cantinho um segundo. Me deu vontade de deitar lá. Agora imaginem a cena: uma funcionária levanta, pega um chá, entra em uma sala vazia de reuniões e deita no chão. E fica lá de olhos fechados até que alguém a descubra.

Eu tive essa epifania e pensei que, poxa, deitar ali não seria má ideia. Todo mundo ia me achar uma louca, né, claro. Porque normal mesmo é passar horas babando na frente de um monitor vendo Instagram de blogueiras fitness, gifs de gatinhos fofos e vídeos idiotas no Facebook.


terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Updates

Mataram um cara na minha rua. A polícia tem andado bastante por lá, parece que há muitos crimes de homofobia acontecendo, além dos assaltos e outros crimes "normais" (eu chamando crime de normal, gente, alguém me interna).

Acharam os bandidos, uma gangue de skatistas que batia nos gays com os skates e depois roubavam tudo, carteira, celular, tênis, bilhete único, para o cara não ter como voltar pra casa. Um negócio de humilhação mesmo.

Faltando água. Eu tomando banhos de 30 segundos porque tenho medo de morrer de sede no curtíssimo prazo.

Aí eu chego em casa e meu fofo cônjuge me conta que leu a entrevista de um cientista fodão que fala que em 20 anos estaremos começando uma guerra por água e hordas de imigrantes irão para os extremos do planeta em busca de um clima habitável e que em 100 anos 6 bilhões de pessoas morrerão.

Daí eu acordo às 6 da manhã de hoje (como todos os dias, desconfio que o que fode a minha vida é acordar às 6), ainda está escuro e um filho da puta de um vizinho LAVANDO A GARAGEM COM MANGUEIRA - e ainda fazendo barulho.

Eu tento, gente, eu tento. Mas tá foda.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Tem coisas que nem daria para escrever

Ontem tive uma recaída. De novo. Aquela tristeza de merda do cansaço, dessa luta insana que jamais entenderei, por chegar em casa com chuva e ter medo do fuzil enorme que vi na mão do policial dando geral em vários meninos, Deus, na minha rua. Entrei no chuveiro a ponto de chorar, e ele estava tão feliz, havia sido um dia bom para ele. Ele elétrico me contando tudo, e eu só pude dizer: foi um dia normal. Para não dizer que tinha sido ruim, que o ponto alto foi ver meus amigos no almoço mas foi tão rápido que me deu mais tristeza ainda.

Brigamos porque eu me sinto tão sozinha que ele jamais entenderá.

Brigamos porque ele se recusa a se entregar à minha dor.

Eu espero muito que eu esteja errada, mas é como se eu estivesse me transformando em um ser inanimado. Sem alma. Como se eu mesma me olhasse nos olhos e não visse nada lá no fundo.

Meus lampejos de vida são acompanhados imediatamente por uma ressaca moral tão grande, tão maior que todas as ressacas morais que já senti na vida. Como se meus freios estivessem me dominando tanto que me levassem a uma perfeita conformidade que me apodrece toda.

Alguém me explica isso?



sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Ungida

Olha que ironia.

Uma amiga, daquelas boas, tem ouvido esse mimimi abaixo acho que por tempo demais, coitada. Me mandou um email com um link de uma mensagem de um pastor lá não sei das quantas. Um pastor americano, esse pessoal que estuda Teologia e Bíblia e filosofia. Fui meio com preguiça ler, ai que saco mas tenho que responder o email da minha amiga pra mostrar que me dei trabalho de ler, e, gente.

(pausa dramática)

ME UNGIU O TROÇO.

hahaha, não é pra tanto, vai

Mas assim. Foi bom porque me deu uma perspectiva do quanto eu estava sendo mimada e ridícula com essa reclamação blasé de "ai, consumo", "ai não tenho vida social tempo e como as pessoas são rasas e não me identifico". SIM, AMIGUINHA, É ASSIM QUE A VIDA É, ACEITE.

E acordei melhor hoje. :-)

Pra vocês verem o que spam de pastor anda fazendo por aí, pessoal.

(O meu nível de vergonha foi tanto que tive que falar que o pastor é americano e estuda filosofia, caindo na mesma vala comum das ~pessoas rasas~ e tal. É bom quando o autoconhecimento acaba com a sua moral)

Cuidem-se.



segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Aviação é o meu nome do meio

Lá estava ele, sentado no metrô. Calça de moletom furada, faltando os dois dentes da frente. Uma camiseta velha. E, do lado, a filhinha que devia ter um ano. Linda, de fralda, roupa escrito "Princesa" com glitter, um sorriso ainda com todos os dentes que são possíveis. Fazendo o maior sucesso com toda a sua simpatia. Nesse dia, eu juro que vi o olho triste dele contrastando com a alegria dela. Não tinha motivo nenhum, mas saí com o coração partido.

O moço estava vendendo camisetas no shopping, tanta gente, tanta tanta gente, só ele para atender. Uma barraquinha com camisetas num ponto tão bom, meu Deus, será que esse moço teve tempo de almoçar? Olha a mão dele ali tremendo. E fazer o que se não almoçou? Deixar a barraca sendo invadida por hipsters tão consumistas quanto o resto das pessoas, mas que compram camisetas com desenho de bicicletas vintage que nunca terão? Dei uma barrinha pra ele. Ele ficou me olhando com cara de Q e eu saí correndo com vergonha.

Uma menina do Couchsurfing me mandou um email falando que o cara que hospedou ela não a tratou tão bem assim, ai meu Deus coitada da menina, vem pra minha casa, eu faço um cafezinho e tento mostrar que SP tem gente legal também, mesmo que sejam só os mineiros.

O moço me pediu um dinheiro na porta do supermercado já faz meses, eu não tinha, ele me disse, "Minha filha, eu vou sair dessa. Logo eu que já estive tão bem..." - e saiu com a voz embargada. Nunca mais esqueci dele.

Preciso de uma dose de durepox no coração, senão viro água antes das Olimpíadas.