terça-feira, 10 de abril de 2012

um fim

Há tempos eu já vinha pensando em acabar com o blog. Porque ele já não combina comigo, porque eu já não sinto as mesmas coisas faz tempo, porque eu mudei. Não sei se sinto vontade de falar sobre as mudanças, não por aqui. Vou manter o endereço porque, né, uma coisa que se aprende na vida é a voltar atrás.

As coisas estão acontecendo. Durante tempos eu rezei e pedi para que elas acontecessem, mas meio que sem perceber que eu teria que lutar e trabalhar e fazer com que elas aconteçam. No fundo, eu achava que era sorte. Não acho mais. Agora é coragem.

Beijo pra quem me leu. Em algum lugar eu volto, talvez.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Os 30

Eu me agarro com unhas e dentes em uma expressão da minha mãe que diz. "A melhor fase da vida da mulher é aos 30 anos". Eu acreditei nisso e continuo acreditando, agora com aquela fé meio desesperada de quando você está no olho do furacão. Os 30 vieram com bons ganhos - estou feliz no meu casamento, aprendi a falar "marido" sem me sentir estranha, aceitei minhas celulites e acho que não estou tão mal assim para a idade. Beleza.

O lado ruim dos 30 é que qualquer movimento que você faz precisa ser cuidadosamente planejado. E com o tempo acho que vai ficar pior. Uma viagem, a decisão de como gastar o dinheirinho guardado, o sonho de fazer um mestrado, a doce melodia que toca internamente na sua cabeça te mandando ter um filho: tudo isso é sério, e grave, e me parece meio urgente. Qualquer passo que eu decidir dar vem com um peso terrível de uma coisa definitiva. Eu não tinha isso aos 20 e poucos. Há um tempinho atrás, já em SP, eu tinha absoluta certeza de que podia fazer tudo, que daria tempo, que eu podia pedir demissão, fazer um ano sabático, começar uma nova vida, que sempre haveria aquela brilhante luz no fim do túnel. Rolava uma confiança inacreditável.

Mas agora eu não tenho mais isso. Sobraram as celulites, o dinheirinho na conta, aquela maturidade irritante que eu sempre tive e que foi bastante agravada pela responsabilidade cega do meu marido. Veio a seriedade e a pressa de tomar uma decisão logo, antes que seja tarde e eu me torne uma frustrada.

Continuo, porém, indo aos bares da vida - ainda que menos - pra encontrar os amigos. Então bora tomar uma cerveja. A sensação de caretização tá foda.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Desde que eu voltei a trabalhar eu tô nessa. Uma angústia. Uma insatisfação como resultado do meu trabalho. Tudo o que eu escrevo eu tô achando uma bosta (e pode acreditar, quanso eu acho uma bosta, minha editora também acha. Temos o mesmo senso estético). Eu sei que é fase, eu sei que passa. Sei que vou voltar a ter orgulho dos meus textos assim que eu conseguir ficar calma novamente e não mais desesperada pra produzir como eu ando fazendo.

Esse mimimi todo é pra dizer como eu tenho umas fobias profissionais na vida:

Fobia nº 1: Ser puxa-saco - Eu tenho medo de elogiar o chefe, eu tenho medo de ficar amiga do chefe, eu já me afastei de amigos que eram amigos antes de serem chefes, só pra não rolar um preconceito. Na minha opinião, ser considerada uma puxa-saco é o me tornar automaticamente o ser mais asqueroso da vida.

Fobia nº 2: Ser folgada - Eu nunca fui folgada. Tenho a maior disposição pra trabalhar. Mas tenho momentos de preguiça e de ócio. E, no meio desses momentos, o que me faz voltar a trabalhar loucamente é a minha querida mania de achar que eu não faço o suficiente. Ainda mais agora que eu fui contratada e etc. Não quero que a minha produtividade caia.


Fobia nº 3: A de que minhas crises criativas nunca mais vão acabar - Eu sugiro muita pauta. Tenho várias ideias, boas e ruins. Escrevo muito. Mas olha, tem alguns momentos, alguns dias, em que a coisa tá feia. Não consigo criar. E vai me batendo um desespero, e quanto maior esse sentimento, pior fica a coisa. Já durou semanas, pra vocês terem uma ideia. Junto com a Fobia nº 2, eu começo a ter pesadelos, dormir mal, ter medo de ser demitida. Sério.

Sim, eu sou louca. Beijos.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Trabalhar é um saco, mas alimenta

Eu sempre fui desastrada. Esquecida. Desajeitada. Enrolada. Parte é pela minha genética fofa, parte pelo fato de eu ser canhota, parte inexplicada. E aí que eu nunca liguei muito pra isso, sempre fiz piada com o fato de o meu anjo da guarda ser o melhor e ficava meio brava quando as pessoas me chamavam pra realidade.

Só que um belo dia, mais precisamente no dia 07 de fevereiro, estava eu curtindo minha última semana de férias quando sofri o acidente mais ridículo da minha vida. Entrei numa loja, não vi direito onde pisei e caí de uma altura considerável. Bati as costas, a perna e trinquei a bacia. Fiquei duas semanas de repouso e me culpando mortalmente por não ser mais cuidadosa.

O bom de ter ficado essas duas semanas em casa, além das visitas e dos mimos que recebi, foi entender que eu nunca, jamais, em tempo algum, posso passar tantos dias sozinha. Eu sempre achei que o melhor emprego do mundo era trabalhar de casa, frilando e organizando meu horário como quiser. Defendi o home office com unhas e dentes. Mas não, minha gente. Ficar em casa (e eu cheguei a semi-trabalhar uns dois dias) só me tornou mais louca, descontrolada, deprimida e ansiosa.

Gente faz falta. Faz falta reclamar de alguém, ficar irritada com o colega que grita, fofocar na hora do almoço, fazer uma piada com a pessoa que tá do lado, ouvir um cochicho na outra mesa. Dar risada da roupa ou do cabelo de alguém que veio trabalhar mais inspirado. Resmungar do outro que fez corpo mole e não quis te ajudar. Levantar pra pegar uma água e dar uma olhada geral no que tá rolando no escritório.

Esta semana vim trabalhar com o maior sorriso e ninguém está entendendo nada, porque estou convalescente, meio mancando e devia querer descansar. E, juro, termino o dia desejando loucamente a minha casa. A diferença é que eu cheguei à conclusão de que aquela sensação de "que saco trabalhar" é até que gostosinha. Faz bem e alimenta a alma ter algo do que reclamar quando se chega em casa. (Além da parte boa, mas se esse blog fosse de partes boas ele não teria esse nome, né.)

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

coaching para mendigos

Eu tenho um ~~~~amigo~~~~ no meu ponto de ônibus (chamá-lo de meu é total licença poética, porque o ponto fica na Paulista, mas é o que eu uso então é meu).

Todos os fucking dias o jovem senhor aborda todas as fucking pessoas que estão no ponto para pedir dinheiro. Só que é assim: ele sofreu um avc ou derrame ou sei lá e fala BEM DEVAGAR. E ele aborda as pessoas assim:

- Bom dia. (velocidade menos cinco, gente, sério, o bom dia dele dura uns 15 segundos)
- Bom dia.(e vc tem que responder, né, bom dia também)
- Obrigado pelo seu bom dia. Eu fico muito feliz por você me dar atenção. Vou falar com você porque eu não aguento mais a minha vida. Eu sofro porque eu tenho uma filha de cinco anos que chora de fome todo dia e eu estou aqui vendendo essas balinhas...(e conta a história mais longa da vida na velocidade mais lenta da vida)

A questão é que eu sou uma pessoa simpática. Trato ele muito bem e ouço todo dia a mesma história. Eu já dei dinheiro várias vezes, mas ele não se contenta com o dinheiro, se ele falar 'bom dia' e você der o dinheiro, ele não aceita, ele quer contar a historia. E se você diz "moço, ontem eu falei com você, lembra? já sei a história, toma o dinheiro", ele não aceita. Você tem que ouvir a fucking história todo dia senão ele fica ofendido. E quase nunca dá pra ouvir porque ele fala tão devagar que o ônibus sempre chega antes. E você deixa ele lá falando devagar e sozinho.

Eu me sinto mal, sabe? Por não ter paciência, por deixá-lo falando pra pegar meu ônibus, por dar logo a moeda pra ele antes de ele contar a história. Tá tão foda que eu tô quase mudando de ponto. Porque realmente a história é triste, mas eu já decorei tudo e ele não me dá nem a opção de pagar pra não ouvir tudo.

E tudo o que esse homem precisava era de um coaching de mendigos. Eu na minha breve experiência como caloura pedindo dinheiro daria vários toques incríveis: ponto de ônibus é um ótimo lugar porque as pessoas têm trocado (ponto pra ele!), velhinhas e senhorinhas são ótimas vítimas e é sempre bom ter um resumo da ópera pra não se cansar de contar a mesma história (a minha desculpa era: os veteranos malvados roubaram meu sapato e só vão devolver se eu der dinheiro pra eles).

OK, vou pro inferno, já sei.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

paranormalidade

Quando eu tinha uns 10 anos, meus pais tinham acabado de se separar e meu pai arrumou uma namorada nova. Um dia, eu estava com os meus primos em uma festa da família dele (que é enorme). Ele chegou atrasado e logo começou a contar o motivo, que estava relacionado provavalmente ao fato de ele ter passado a noite com ela. Eu não ouvi nada do que ele falou, mas entendi tudo pelas caras reprovadoras e constrangidas que as pessoas em volta fizeram e pelo susto que ele tomou quando me viu. Eu saquei a situação sem precisar ouvir um só palavrão.

Em outra ocasião, quando eu tinha cinco anos, eu estava brincando quando um dos meus irmãos chegou com uma tesoura na mão. Eu estava de costas e não vi. Minha mãe, falando em código, apontou disfarçadamente para mim e disse que tinham objetos presentes no recinto que não eram adequados a uma certa pessoa (no caso, eu). Sem ver toda a encenação, eu falei serenamente: "É, eu sou criança e não posso brincar com tesoura". E continuei de costas, para assombro geral da nação.

Essas histórias ilustram bem todo o período da minha vida em que estive consciente (o que, stricto sensu, não é um período muito longo): eu não entendo muito bem o que as pessoas dizem, posso não ver o que está rolando, mas saco a situação num nível quase paranormal. Não é muito legal porque eu sei quando estão mentindo, sei o que os outros pensam sem mesmo precisarem falar nada, sei quando me odeiam e sei suas intenções escusas. Uma de minhas brincadeiras preferidas é seguir tratando normal e fingindo que não sei quando sei. Recomendo.

Ter esse tipo de consciência é quase ser um primo pobre dos X-Men: você ganha um poder mas é um mais chatinho que vai te magoar e mostrar que quase ninguém é legal de verdade. (Porque, sério, quase ninguém é mesmo)

Enquanto isso, eu sei que o papo da tesoura se refere a mim, sei que meu pai foi pro motel com a namorada, mas o que posso fazer, né? Fingir que isso não existe? Rola toda uma aceitação da "vida real de verdade". O que explica, em parte, esse meu jeitinho especial: eu sou a descrente mais crédula desse mundo. Uma fofa impressionável ou uma megera hipócrita, qualquer coisa serve.