quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

coaching para mendigos

Eu tenho um ~~~~amigo~~~~ no meu ponto de ônibus (chamá-lo de meu é total licença poética, porque o ponto fica na Paulista, mas é o que eu uso então é meu).

Todos os fucking dias o jovem senhor aborda todas as fucking pessoas que estão no ponto para pedir dinheiro. Só que é assim: ele sofreu um avc ou derrame ou sei lá e fala BEM DEVAGAR. E ele aborda as pessoas assim:

- Bom dia. (velocidade menos cinco, gente, sério, o bom dia dele dura uns 15 segundos)
- Bom dia.(e vc tem que responder, né, bom dia também)
- Obrigado pelo seu bom dia. Eu fico muito feliz por você me dar atenção. Vou falar com você porque eu não aguento mais a minha vida. Eu sofro porque eu tenho uma filha de cinco anos que chora de fome todo dia e eu estou aqui vendendo essas balinhas...(e conta a história mais longa da vida na velocidade mais lenta da vida)

A questão é que eu sou uma pessoa simpática. Trato ele muito bem e ouço todo dia a mesma história. Eu já dei dinheiro várias vezes, mas ele não se contenta com o dinheiro, se ele falar 'bom dia' e você der o dinheiro, ele não aceita, ele quer contar a historia. E se você diz "moço, ontem eu falei com você, lembra? já sei a história, toma o dinheiro", ele não aceita. Você tem que ouvir a fucking história todo dia senão ele fica ofendido. E quase nunca dá pra ouvir porque ele fala tão devagar que o ônibus sempre chega antes. E você deixa ele lá falando devagar e sozinho.

Eu me sinto mal, sabe? Por não ter paciência, por deixá-lo falando pra pegar meu ônibus, por dar logo a moeda pra ele antes de ele contar a história. Tá tão foda que eu tô quase mudando de ponto. Porque realmente a história é triste, mas eu já decorei tudo e ele não me dá nem a opção de pagar pra não ouvir tudo.

E tudo o que esse homem precisava era de um coaching de mendigos. Eu na minha breve experiência como caloura pedindo dinheiro daria vários toques incríveis: ponto de ônibus é um ótimo lugar porque as pessoas têm trocado (ponto pra ele!), velhinhas e senhorinhas são ótimas vítimas e é sempre bom ter um resumo da ópera pra não se cansar de contar a mesma história (a minha desculpa era: os veteranos malvados roubaram meu sapato e só vão devolver se eu der dinheiro pra eles).

OK, vou pro inferno, já sei.

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