quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

os anos ímpares

Eu não tinha nada contra eles, mas aí comecei a observar. Não que os anos ímpares sejam precisamente ruins, mas em comparação com os últimos anos pares, que foram incríveis, eles ficam meio apagadinhos. E perdem espaço no meu coração.

Estou com uma expectativa pra 2012 que mal posso conter. Eu acho que vai ser um ano foda, a despeito de todos os prognósticos que apontam o contrário. Mas ninguém me engana, eu vou tirar férias em menos de 15 dias e vou fazer 30 anos. É uma mistura que não pode dar errado.

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Fim de ano combina com recolhimento, e eu acho que as pessoas não sabem lidar com isso. Todo mundo sabe, todo mundo sente que é hora de desacelerar, o que parece piorar o comportamento frenético de compras-festas-comilança-agito dessa época. E eu, enquanto isso, dei uma diminuída no álcool, perdi (um pouco) da gula absurda e desencanei das baladas. Nem TV eu tô vendo, nem na academia eu tô indo, nem conversar direito eu tô conversando, pra não estragar as coisas que estão rolando aqui dentro. E tá bem bom, viu.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

quinta série

Religiosamente ele me procura. É engraçado porque eu quase nunca me lembro dele, mas ele sempre surge com uma dúvida, uma pergunta, um comentário ou algo do tipo. Ele sempre me manda uma mensagem ou um email ou um recado no facebook.

Ele nunca me tratou bem, e continua não me tratando. Num passado bem passado, quando eu gostava dele e ele sabia, ele me esnobava como ninguém. Mas não sumia. Jamais. Eu nunca fui burra, apesar de ter sido bastante inocente, e sabia o que isso significava. Que ele queria manter uma certa reserva de mercado para que, quando ele precisasse, quando estivesse sozinho e sem opções, sempre tinha aquela menina magrela que gostava dele.

Só que isso já faz tempo. E ele continua. Me chamando por apelidos depreciativos, fazendo comentários infantis, me perguntando coisas que só eu sei. "Como é o nome daquela banda que vc gostava mesmo? Tô querendo lembrar aquela música". Não faz sentido. São perguntas que só eu posso responder, e muitas das coisas eu nem me lembro mais. Mas ele continua. Forçando um contato, e esperando talvez que eu tivesse continuado como reserva de mercado, agora menos magrela.

E isso só reforça a grande, sábia e inexorável teoria de que nunca saímos da quinta série. Bendito o dia em que me foi dada essa sabedoria.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

uma fuga de Bach

O que mais me angustia é o fato de eu entender cada vez menos das motivações dos outros. O que afeta diretamente as minhas próprias motivações.

Eu não sei porque as pessoas vivem em busca de carros casas roupas viagens baladas restaurantes cabelos silicones lipos melhores e incríveis. E ficam nesse engolimento todo dessas experiências e coisas que não fazem o MENOR sentido. Mas no dia seguinte eu acordo louca pra sair comprando como se não houvesse amanhã.

E eu ando triste porque o meu engolimento que me tirava de tudo, meu alcoolzinho que me fazia tão legal e descolada e inteligente e engraçada, "olha como a Vívian é doida", não tem mais cabimento nenhum. E isso é triste pra caralho. Tomar uma decisão tão racional de ser você mesmo e ter que encarar tudo isso. Sem remédios. Sem drogas. Sem consumir nem comprar nada. Porra, é uma dor. Tapas na cara diários de realidade.

E o fato de estar lúcida e mais lúcida me faz entender menos ainda os outros. E perder a conexão com tudo isso. E a mente vagueia por aí, sem rumo, mendigamente.

Eu não quero nada disso. Não quero queijos e vinhos nas sextas à noite, não quero amigos com hora marcada pra ir embora dizendo como sou legal, não quero ir no bar/bistrô da moda pra falar que fui, não quero roupas indie, música indie, festivais indie, os indies que se fodam. Não quero ficar nessa espiral de substituir o happy hour de um dia pela viagem do fim de semana pelas férias fantásticas pela praia exclusiva pelo iPhone iPad iPod.

Cara, e como eu tô sozinha nisso tudo.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

o elefante voltou

E ele fica lá, enorme, no meio da sala. Eu faço ioga e ele me olha, estou no computador e ele dá uma trombada em mim, e não sai mesmo quando mais pessoas estão em casa. E só eu percebo que ele está lá, elefando do nosso lado.

Até nos meus sorrisos, é como se estivesse escrito: e-l-e-f-a-n-t-e, uma letra em cada dente. É tudo mentira, gente, ninguém percebe?

Ontem eu li uma matéria sobre o quanto as pessoas estão usando cada vez mais remédios atidepressivos, pra dormir, pra acordar, sei lá o que. Pra aguentar a rotina. Pra ser feliz e normal enquanto trabalha, trepa, fica no trânsito, sai pra beber com os amigos, sorri e lava louça. Você faz tudo isso, menos saber. Menos ser e pensar o que você é. É difícil explicar mais burramente do que eu expliquei, mas é mais ou menos isso.

Eu lido com esse peso e essa dor de ser eu mesma faz ó, um tempão. Nunca quis falar sobre isso, nunca quis um remédio pra não ser isso. Eu escrevo às vezes, mas não quero fingir que o elefante não está lá. Eu quero comer o elefante, matá-lo num safári, quero ser engolida por ele. Qualquer coisa menor tomar uma bala mágica pra que ele se torne transparente ou vire um passarinho feliz.

Enfim, é isso, ele tá de volta, incomodando muita gente. E eu só preciso saber dividir espaço, ficar amiga dele ou convidá-lo a sair. Não tá fácil, viu.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

A metrópole

Não é fácil viver numa metrópole. Pra quem sempre viveu, talvez seja uma coisa orgânica, algo que não se pensa muito sobre. Para mim não. Eu penso nisso o tempo todo. Na verdade, viver numa metrópole tem sido o centro da minha vida desde que eu vim parar, meio sem querer, em São Paulo.

É um estilo de vida que eu adoro desde sempre, mas que ultimamente eu tenho aprendido a não gostar também. Eu nunca vou esquecer a frase de um amigo (paulistano nascido na Mooca, mas radicado em Juiz de Fora) que, cheio de carinho, me disse: "cuidado, magrela, essa cidade te engole". Na hora eu não prestei muita atenção, e nem nos anos seguintes, mas hoje, nossa, é uma fixação minha essa coisa de ser engolida.

Eu sou engolida com gosto. Incorporei gírias, mudei meu gosto por comida (passei a gostar de japonês, árabe, indiano, deixei de comer pizza com catchup, me viciei em hamburguerias), valorizo como nunca a diversidade (e aprendi a perder a cabeça com gente preconceituosa). Ando sempre apressada, discuto caminhos, preencho meu tempo, amo a Paulista, amo o centro. Não me perco mais. Uso as roupas que se usa aqui (e é só aqui mesmo, gente). Sou malvestida pro resto do Brasil, e como todo bom paulistano, não dou a mínima pro que pensam disso.

Eu vou à 'padoca', eu tomo uma 'breja', eu gosto de chopp com colarinho e sou exigente com todos os tipos de serviço. Reclamo do excesso de gente, descubro lugarezinhos exclusivos, me gabo de não pegar trânsito. Adoro andar sozinha e agora moro do lado da Augusta, com tudo de bom e tudo de ruim que isso possa trazer. Eu amo um paulistano, gente, e essa é a coisa mais óbvia que eu posso pensar pra traduzir o quanto eu sou parte disso tudo.

Eu só queria dizer que a metrópole me moldou. Que é meio parte da minha alegria e da minha tristeza. Porque nada mais solitário do que estar cercado de tanta gente. E dá pra sentir muito tédio com tanta coisa pra fazer. Tudo tão longe e tão perto ao mesmo tempo. Olha, é ser engolido com categoria.

E nesse fim de ano, e nessa hora de querer mais, e desejar, eu só consigo pensar em coisas boas pra metrópole. É isso. Boa sorte pra gente.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

amor

E nos momentos mais bizarros é que eu me dou conta do quanto estou apaixonada, e do quanto continuo boba com tudo o que ele me diz. O fato de ele me chamar na internet (porque ele quase nunca faz isso), quando ele me olha daquele jeito ou quando ele comenta que eu estou bonita. Quando ele faz uma dancinha boba ou me chama pra fazer alguma coisa só com ele. E isso porque a gente mora junto.

Pode ser meio estranho, pode ser uma pessoa se contentando com migalhas de atenção, pode ser qualquer coisa, mas eu chamo de amor mesmo.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

as horas

Eu devia ter uns vinte anos, mais ou menos. Eu fui ao cinema assistir um dos poucos filmes 'fora do circuito' que passavam na cidade em que eu morava, se é que um filme com Meryl Streep e Nicole Kidman poderia ser considerado fora do circuito. O filme era "As Horas", e era melancólico e poderoso. Não é uma história que possa ser contada, e por isso não vou fazer isso.

Naquele dia uma coisa muito importante aconteceu. Eu saí na rua meio desorientada e não sabia porquê. Alguma coisa tinha acordado dentro de mim, e eu senti que não podia mais continuar com a vida que eu tinha. Naquele dia eu senti aquele esmagamento de alguém que de repente se dá conta do turbilhão do mundo, dos sentimentos, dos outros. Foi muito triste, mas ao mesmo tempo, libertador.

Eu acho que, naquela hora, começou a nascer a pessoa que eu sou hoje. Que não conseguiu mais viver com aquela inconformidade toda e precisou sair. Eu não consegui suportar aquela dor, e ela dói até hoje, e ainda sim eu não tenho a menor ideia do que se trata.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Deus não dá asa a cobra

Hoje na aula teve um texto sobre uma herdeira milionária que não gasta menos de 50 mil reais num vestido. E que não quer trabalhar nem fazer nada na vida além de compras.

Lá em Minas tem um ditado que diz: Deus não dá asa a cobra. O que é total verdade, porque eu cito sempre essa máxima com toda a convicção de que, se eu tivesse toda essa grana, eu ia dividir os gastos entre o financiamento das pesquisas para o teletransporte, o estudo infinito dos assuntos que eu amo e a leitura compulsiva de livros. E nunca, nunca mais, nunquinha, eu ia parar de viajar.

Não, não ia comprar uma casa milionária, nem roupas, nem joias, nem jiboias. Não ia fazer viagens espaciais nem nada que esses ricos excêntricos fazem. Eu ia ter uma casa na roça, lá em Minas, só pra me receber quando eu precisasse de um banho de cachoeira. Com um par de cavalos, uma pequena fábrica de queijo, uns pés de manga e um fogão a lenha. Pra que mais?

E de resto, ia vivendo assim, do jeito mais esquisito que alguém jamais imaginou. Dividindo a vida entre o sonho e os sonos.

Pra que mais?

instabilidade

Sou incapaz de lidar com a instabilidade alheia. Não que eu seja a pessoa mais estável do mundo (não sou), mas deixo os meus altos e baixos guardadinhos dentro do meu cérebro e/ou reservados para as pesquisas do Google. Isso significa que, no período de 24 horas, eu posso resolver fazer um mestrado, mudar para a Nova Zelândia para ser trabalhadora rural ou comprar uma bicicleta elétrica (é sério, essa é uma programação absolutamente normal do meu dia). Mas eu não sou idiota e nem sádica pra compartilhar todos esses pensamentos com os outros, especialmente com as pessoas que amo. Até porque eu sei muito bem que no dia seguinte serão outros planos, e outros, e outros, numa espiral esquizofrênica sem fim.

O fato de eu ser assim (indecisa AND sonhadora) não ajuda em nada para que eu seja mais compreensiva com as mudanças de ideia repentinas dos outros. O que quer dizer que, quando alguém me diz que está planejando fazer uma grande mudança em sua vida (e até mesmo uma pequena), eu me engajo no projeto, apoio, discuto o assunto e REALMENTE ACREDITO nos planos desse ser humano. O problema é que, no dia seguinte, a mesma pessoa muda de ideia e me conta um outro plano totalmente diferente do outro. E isso, pasmem, me mata de raiva.

É lógico que o problema é meu. Sei disso e continuo sentindo raiva da instabilidade na mesma medida, mesmo com essa consciência toda. O fato é que eu acho que as pessoas não calculam o impacto que causam na vida dos outros. Eu penso nisso o tempo todo, e talvez por esse motivo eu tenha essa péssima mania de resolver meus problemas sozinha. Porque não quero dar trabalho/causar preocupação nos outros.


Ou talvez eu seja apenas uma idiota mesmo.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Para poucos

Prólogo: Pensando seriamente em fazer um blog só sobre putaria. Porque o espaço aqui tá sendo pequeno...

Um dos filmes da Mostra de Cinema que eu vi ontem se chama "Para Poucos". É um francês muito bom que conta a história de dois casais que começam amigos e, logo no começo do filme, formam um "quadrado" amoroso. É uma relação muito interessante porque, como bons franceses, eles aparentemente lidam muito bem com o fato de que a mulher está transando com outro, desde que eles também participem comendo (ou dando para) alguém.

O legal do filme nem é isso. O interessante é observar como esse tipo de situação vai causando impacto sobre a autoestima, o ciúme e a relação de tdas as pessoas envolvidas. E você vai percebendo como cada um reage, vai vendo os limites e inseguranças, e acaba não sabendo bem onde começa o amor e onde termina o sexo. Se é que tem uma linha divisória, né.

No filme, a coisa foi evoluindo de um jeito que se tornou incômodo pra todo mundo. De repente, uma relação sem regras foi ficando cheia de segredos e de instruções sobre o que fazer e o que não fazer. A ponto de uma das mulheres ser proibida de encostar os pés no marido da outra. As pessoas sofrendo porque não conseguiam pensar em outra coisa a não ser no outro casal. E eles acabaram terminando, e a cena de término é sensacional. As duas mulheres chorando ao telefone, e uma perguntando pra outra: "mas vocês vão passar as férias sem a gente?", "eu posso ligar pra vocês se tiver saudade?". Parece muito aquele tradicional diálogo de dois quando estão no fim. É algo.

Me fez pensar sobre o quanto as pessoas estão dispostas a viver aventuras (de todos os tipos, não só as sexuais) hoje em dia. E elas estão bem dispostas, eu acho. O problema é que elas não dão conta das consequências. Uma coisa é você querer algo, outra bem diferente é lidar com tudo aquilo que aquela escolha te traz e que você só tem ideia do que é depois que chega. Parece papo de mãe pra filho adolescente, mas é isso mesmo. É para poucos.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

que Nelson Rodrigues o que.
eu tava lendo a história do Rei Artur, gente, e pasmem, não só o cara cometeu incesto e teve um filho com a meia-irmã, como chamou o melhor amigo pra dividir a mulher dele com ele.
rolou um ménage tenso no final do livro.
tô curtindo.
beijos.


* e a história da humanidade é isso, né, repetições aleatórias de histórias cabulosas. e o que mais me irrita é uma patrulhinha do politicamente correto de vez em quando dar o ar da graça e assoprar as trombetas do apocalipse: "esse mundo tá perdido". Tá perdido? Vai ver o que nego fazia na idade média.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Santa Cecília

Descobri um ônibus novo que passa bem no meio de Higienópolis e me deu a oportunidade de conhecer melhor o bairro de Santa Cecília, essa linda. Me senti como se estivesse numa mistura dos bairros porteños da Recoleta e de San Telmo, com uma pitada de comércio popular de cidade do interior. Ou seja, amei.

A única pena é o fato de não ter tido tempo pra descer do ônibus e fotografar um pouco. O que não fiz também pelo recém-incorporado medo paulistano de ter meu celular roubado por um noinha.

Porque esse post merecia fotos, que delícia de bairro.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

as palavras-chave

Eu não tenho um milhão de leitores, mas tenho alguns. A maioria, acredito, são amigos, pessoas que frequentam o blog "dequandenvês" pra ver se eu continuo sofrendo essa dor linda ou se ela já passou. Sei lá. Mas tem também uma porcentagem de leitores que chega aqui por meio do Google. E esse post, seu lindo, é dedicado a você!

Vejam esta semana. Alguém procurou "dupla copenhagen" e chegou até aqui. Eu fiquei imaginando se alguém estava procurando um parceiro de viagem pra ir até Copenhagen (pode ser eu?). Ou, já que estamos tratando de uma busca na internet, se era alguma tara em irmãs gêmeas dinamarquesas. Mas se a pessoa chegou aqui num blog melancólico, parabéns a todos os envolvidos.

Tem também "esquizofrenia vida dupla", obviamente uma pesquisa com objetivos informativos. Queriam saber como o esquizofrênico leva essa vida de duas faces (já que eles alternam momentos de lucidez e crise - cultura, a gente se vê por aqui). Mas chegaram aqui e deram de cara apenas com um breve bafejo de esquizofrenia muito bem administrada socialmente (AKA eu)

A busca "vida de manicure" é um nome perfeito pra seriado na Globo e ó, daria audiência, viu. Eu contei uma ou duas histórias de manicure aqui e te digo que fez sucesso. Unha dá ibope. Unha + fofoca + classe emergente então, é disco de platina.

Mas eu deixei o melhor pro final. Alguém chegou aqui buscando "fugir+de+casa+de+bicicleta". Assim mesmo, com o sinal +. Eu achei lindo porque esse era um dos meus sonhos de infância, mas ao mesmo tempo fiquei deveras preocupada com o fato de uma criança poder ter chegado até esse blog nada adequado à categoria. Mas voltando: amigo, quando descobrir como é que faz pra fugir, me conta? Porque fugir de casa de bicicleta é a busca mais linda da semana.

diálogo

- Era tudo tão leve, era tudo tão jovem e bom. Eu nunca entendi porque acabou.

- O importante não é o porquê.

- Então quando?

- Naquele momento em que eu te disse que passaria a noite toda fazendo sexo com você. Eu vi você se apaixonando, vi seus olhos se acendendo, e tudo o que eu queria dizer é não.

- Mas você não disse.

- Meu corpo disse. Você quis amor, e eu não queria nada, só machucar um pouco mais o meu corpo. Meus olhos se apagaram, e acabou.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

o elefante

E quando eu disse o quanto eu era sozinha, você não acreditou. Eu demiti uma terapeuta porque consegui convencê-la de que eu era tão legal (e era tão bom ter mais alguém que acreditasse nessa imagem), que foi impossível começar a mostrar aquele elefante enorme na sala.

Pois bem, o elefante está lá. E a grande questão é expulsá-lo e descobrir a sala sem móveis, sem habitantes, e com um monte de merda pra limpar.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Chandler

Tem um episódio de Friends em que o Chandler sai com a chefe da Rachel. Ela amou o encontro e acha que eles têm tudo a ver, ele odeia o encontro e acha que ela é uma mala. Só que, no final do encontro, ele solta o famoso "te ligo" e a mulher surta durante dias, esperando que ele ligasse. No final, a Rachel obriga ele a sair de novo e a NÃO dizer que vai ligar, mas ele simplesmente não consegue. É um vício.

Eu nunca gostei do Chandler. Tem horas que eu gosto de algumas piadas, dou muita risada, mas tem algo nele que me incomoda profundamente. No fundo, acho que ele representa todos os babacas que eu conheci e que eventualmente me fizeram acreditar que ligariam. Ou outros babacas que diziam "não é você, sou eu", ou que não tinham coragem de terminar um namoro.

Eu continuo não gostando do Chandler mesmo tendo total consciência de que já fiz coisas parecidas, de que menti só pra ser legal e sair como a fofa da história. Mas cadê que eu assumo. Nego até a morte.

* isso me lembrou um outro episódio em que o Joey se apaixonou por uma colega de trabalho e no dia seguinte ela falou que não era nada demais. Ele ficou péssimo, mas percebeu que já tinha feito isso muitas vezes também e saiu ligando pra todas as mulheres que magoou pedindo desculpa. É isso que eu chamo de ter um coração. Eu sequer me lembro das pessoas que magoei, beijos.

** estou vendo Friends demais.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

o efeito manada na escolha de um loser

Eu era bem novinha e trabalhava num jornal. Tinha esse menino que entrou depois de mim, com um salário super baixo pra cobrir o buraco de um fotógrafo que tinha sido demitido.

Ele entrou com o maior tesão de trabalhar, super feliz de fazer fotojornalismo, porque até então cobria festas e eventos, sabe. E, talvez por ser um menino, talvez por não ter tanta experiência assim, talvez por ser novo no grupinho, ele nunca foi muito aceito entre os outros fotógrafos.

Por outro lado, ele era um amor. Não reclamava quando tinha uma pauta chata pra fazer (e adivinha com quais ele ficava sempre? as filés é que não eram), era super prestativo e ouvia a nossa opinião em tudo. Não era inseguro, era humilde. Igual a ele tinha apenas um outro fotógrafo, que era bem legal também, mas sacou que o chefe não gostava dele e não chegou a ser muito próximo do menino.

A questão é que o resto da redação sacou tudo isso e começou a agir como se o menino fosse um profissional "menor". A ponto de reclamar com o chefe dos fotógrafos quando era ele quem ia pra uma pauta mais elaborada. Ou seja, só estimulavam o preconceito. Surgiram várias fofocas sobre ele, entre elas o famoso "ele não precisa trabalhar", só porque ele tinha uma namorada rica. Uma NAMORADA rica, não um pai rico ou pelo menos um irmão. E isso continuou assim até quando eu me lembro, e ele continuou lá, se esforçando, não reclamando, do mesmo jeito.

Eu podia terminar falando que os bonzinhos só se fodem, mas não é bem o caso. O que fode mesmo é o efeito manada. A partir do momento em que o grupo dominante define, mesmo que inconscientemente, quem deve ser ignorado ou mesmo maltratado, as coisas desandam demais. Os subordinados passam a fazer aquilo que o chefe faz, isso se irradia pro resto do grupo e, sem fazer nada, o cara é eleito o loser eterno.

E aí que eu sigo esse menino no facebook e eu percebo que nenhuma das pessoas que trabalhou com ele durante essa época é amigo dele ou comenta as coisas que ele faz. E olha que ele posta fotos muito boas. Enquanto o ex-chefe dele, que é também muito bom e também é seguido por mim no facebook, é ovacionado loucamente por fotos bem mais ou menos.

Entendo que o negócio se perpetuou, pelo menos nesse grupo. E, olha, não é um caso isolado. O triste mesmo é que eu vejo isso todos os dias, e a única solução (pelo menos para o perseguido) é sair fora o quanto antes.


* e eu acho que tem outra questão também. O efeito manada acontece porque as pessoas têm medo de não aderirem ao grupo e elas serem escolhidas as perdedoras da vez. Tenho certeza disso.

sensatas

Eu sempre recorro a esse blog quando a coisa aperta. Virou muleta. O pior é que nem tudo é dizível, existem coisas tão inconscientes que não viram palavras. E a minha eterna luta é tentar colocar um pouco pra fora, é a luta dos dias angustiados, da eterna surpresa com a vida que não vai embora, daquele medo danado que eu já descobri que é alegria.

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Eu sou um ser que sente e que gosta de palavras. Uma tradutora bastante malsucedida do dentro pra fora. E, pobre do meu coraçãozinho, uma analfabeta do fora pra dentro.

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Tenho me irritado nos últimos dias comigo mesma. Com a minha bagagem de certezas que sempre carrego comigo, e com a presteza com que elas saem pra fora quando alguém me apresenta um problema. Aconselhadora, resolvedora, sensata, pretensiosa.

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Anote a receita: um bom punhado de decepções misturado à doce delícia de viver. Coloque alguns dias em banho-maria e sirva frio, decorado com pitadas de ironia.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

diálogos

Tenho escrito muito, em pedaços de papel que logicamente vão se perder em algum canto da minha casa abarrotada de livros e cadernos. É uma pena porque tenho gostado de escrever de uma forma que eu nunca tinha escrito antes: meus assuntos preferidos são diálogos sobre o amor. É como se fossem diálogos de filmes, mas daqueles filmes bem chatos onde o amor nunca se resolve. Não é comédia romântica, não é drama, são só conversas de pessoas muito realistas sobre o que é o amor.

Li alguns pro Victor e ele acha que as pessoas vão se matar se lerem algum filme com meus diálogos. Que eles são até bonitos, mas muito tristes, desiludidos. E eu quis mostrar pra ele que não. Que eu queria o contrário, que as pessoas lessem e entendessem essa liberdade que é o amor. E que a gente só está conectado ao outro porque quer, é uma decisão racional. (Mas que talvez não devesse ser tão racional assim, assumo.)

No final a gente teve uma discussão ao nosso estilo (que é até engraçada de se ver, discussões calmas, ponderadas e filosóficas). Ele me disse que vê uma enorme contradição em mim, eu com todo o meu pensamento liberal e racional e tudo o mais, me comporto de uma forma emocional demais, controladora, impulsiva.

Não sei porque escrevi isso, mas eu tava com a ideia de fazer um novo blog, colocar meus diálogos, botar os demônios pra fora, sei lá.

Incoerência, trabalhamos.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

esclarecimentos

Sim, eu dei uma sumida e isso é ótimo.

Minhas fases mais criativas são coincidentemente as mais infelizes. Isso significa que ficar longe é bom, que eu estou curtindo viver a minha vida depois de sei lá quantos meses.

O sol voltou. Estou de casa nova. Trabalhando muito em algo que amo. Meu Vitão tá feliz.

Estamos bem, estamos todos bem.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

o poder mágico do medo

É lógico que eu não tenho esse nível de controle sobre as minhas emoções, mas esta semana eu resolvi parar de sofrer. Tava muito deprêzinha, curtindo pra caramba essa coisa de ser infeliz, mas de repente a coisa começou a ficar meio séria e eu me peguei não querendo fazer coisas que eu sempre quis muito. Não querendo viajar, não querendo encontrar os amigos, não querendo viver minha vida.

Por incrível que pareça deu certo, e esta semana eu comecei a academia, fiquei animadíssima com coisas absolutamente triviais (leia post abaixo) e recomecei os planos para as férias. Ah, se eu tivesse dinheiro. :-)

Ajudou também o Victor me dar uma sacudida, no esquema "que porra é essa?" (no estilo zen dele, claro). Ele veio me falar muito gentilmente que estava ficando de saco cheio meio cansado desse meu mimimi "ai como sofro". E olha, funciona mesmo essa coisa de ter medo de perder quem você ama. Recomendo.

Mas é isso, Vívian reloaded quarto trimestre, e eu já tô achando esse roxo meio apagadinho.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

intensidade

Nunca consegui entender porque as pessoas não eram tão intensas como eu. Eu tive e tenho amigos que reagem de uma forma normal às coisas, que amam de um jeito paciente, que veem o sexo como uma coisa a mais que está ali e que não é tão importante assim, que não olham pro mundo e pras pessoas com essa fome toda que eu tenho. Comigo é tudo sempre em excesso, como se eu precisasse transbordar pra ser eu mesma. Em alguns momentos, naqueles absolutamente nada importantes da vida, eu sinto como se fosse explodir por dentro, aquela intensidade adolescente que eu jamais consegui deixar de lado.

Eu também sou de uma frieza absurda com coisas que deveriam ser importantes. Me mantenho relativamente anestesiada naqueles momentos em que é essencial sentir alguma coisa. Eu consigo não chorar nos momentos mais choráveis da vida e sei que tenho problemas com o meu desapego a coisas, pessoas, à minha própria vida.

Esse descompasso sempre me deixou meio frustrada comigo mesma, principalmente porque normalmente quem me conhece bem me acha louca e pensa que eu superestimo certas situações (e já fui chamada de mentirosa mil vezes por causa disso), enquanto quem me conhece bem mesmo sabe que eu subestimo demais certas coisas. Enfim. É como se um dia um mecânico muito louco resolvesse brincar de testar cérebros e veio logo no meu fazer uma gracinha.

Eu fico encantada ao ver pessoas reagindo normalmente e da forma esperada a situações regulares do dia a dia. Enquanto eu fico emocionada ao ver um guarda-chuva imitando nuvens, não consigo ficar realmente triste ao saber que uma pessoa muito querida morreu. Consigo passar boas horas do meu dia feliz por coisas tão idiotas quanto encontrar um squeeze roxo em forma de guitarra ou saber que a tia do doce vai trazer brigadeiro branco esta semana. Mas não sei ficar puta quando alguém briga comigo ou até mesmo quando meus relacionamentos terminaram. Nem puta e nem triste, diga-se de passagem.

Mas é assim, quem me ama tem que me aturar.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

ela me disse

ela sempre me diz coisas que têm loucura e razão
e que doem porque são verdades
disse que somos todas buracos
a gente quer ser preenchida
e eles querem preencher

a isso se resume o mistério da vida e do amor

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

aquelas cervejas todas

Muitas muitas cervejas na geladeira, a maioria chocas porque foram descongeladas, mas quem liga. Estão lá, me olhando, latas vermelhas, latas brancas, corajosas elas porque sabem que vão ser imoladas, mas ela, a coragem, me falta. Não olho.

Quando o vejo lá, debruçado sobre os livros, lendo lendo lendo o mundo, e eu nunca serei capaz de ler tanto, não aquelas coisas, só os meus livros inúteis com histórias que esqueço logo. Eu só me lembro dos sentimentos (e pra quê se lembrar do resto, não é?). A culpa me dobra os ombros e me impede de querer aquelas cervejas todas.

O meu mundo anda tão vazio, os sons tão longes e ecos e a programação da Universal lá falando sozinha enquanto eu penso em fazer cada vez mais faxina. E os livros me olhando e eu de novo sem coragem. Cadê aquilo tudo que eu me prometia?

E eu que ganhei mais espaço. Que ironia.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

testando

estou testando uns layouts novos, mas ainda não resolvi qual vai ser

daqui a uns dias eu me decido

mas eu gosto bem de um roxinho, viu

mais uma pra hoje

Eu odeio muito a minha timidez. E odeio mais ainda o fato de SP ter me deixado mais rigorosa, mais certinha, mais receosa, menos expansiva.

Hoje foi o último dia em que eu passei no meu antigo prédio (já me mudei, hohoho) pra checar se a pintura estava ok e deixar as chaves com o porteiro para a companhia de gás passar por lá e desligar o registro.

Eu passei rapidinho e quem tava lá era o porteiro de quem eu mais gosto. Ele é bem esperto e engraçado, sempre foi muito legal com a gente e nos ajudou com várias coisas. Eu sei que o que ele fez foi de coração e ele não esperava nenhuma retribuição por isso. Sei também que ele gostava da gente e que ficou chateado quando a gente disse que ia embora.

Só que na hora de me despedir dele eu não consegui dar um abraço, agradecer por tudo. Minha timidez me travou e só foi alimentada por essa cultura paulistana que prega evitar o toque, o carinho, a proximidade. Ele me pediu desculpas por qualquer coisa, daquele jeito que as pessoas humildes fazem e que corta o coração. Mas eu fui meio fria e constrangida de uma forma que só eu consigo ser quando uma coisa me emociona.

E foi isso. Foi uma bosta, eu me senti uma idiota e me odeio por isso, beijos.

só parece

Esta semana eu conheci o blog dos Cem Homens. Que basicamente trata-se de uma menina que um belo dia decidiu ter uma vida sexualmente ativa durante um ano e colocou para si mesma a meta de transar com cem homens. Que ELA vai escolher do jeito que ELA quiser. Aí a menina deu umas duas entrevistas falando sobre isso (anonimamente, claro) e de repente o blog ficou famosérrimo e ela começou a receber xingamentos e agressões horríveis. A carga pesada foi tanta que ela desistiu do blog, que está fechado pra balanço por enquanto.

Aí, em uma conversa sobre outro assunto com um colega, ele achou estranho que uma menina fosse dividir apartamento com um cara. O que tem de mal nisso?, eu perguntei. É estranho, ele disse, e complementou dizendo que não acredita muito em amizade entre homens e mulheres.

E uma outra história, um dia desses, de uma mulher que disse que queimar sutiãs foi a pior ideia do mundo, já que as mulheres conquistaram as tarefas dos homens mas continuam igualmente responsáveis pelas tarefas de mulheres. Pelo menos no caso dela, claro.

É numa nessas que eu vejo que a nossa (r)evolução talvez não tenha acontecido de verdade. Que essa nossa sociedade mais aberta, diversa e tolerante que gostamos tanto de exibir e afagar só parece ser assim. E olha que não parece nem no discurso, como pode ser percebido pelos casos acima. Tá bem confusa essa história toda.

É bom a gente parar pra pensar se cotidianamente a gente não ouve um absurdo desses, ou se deixa passar uma ou outra piadinha, ou se no fundo contribui pra corroborar imagens como a do "pegador" e a da "vagabunda".

Olha. Tem hora que me dá um desânimo que eu nem sei se realmente o trabalho começou.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

ensaio sobre a lucidez

Eu e um amigo conversávamos quando a gente chegou à conclusão de que, na casa dos 30, com muitos sonhos realizados, as coisas ficaram simplesmente sem graça. Não que a culpa fosse do trabalho, da vida ou das posses financeiras. A gente até que está longe do topo, falta comprar muito, fazer muito, ainda não chegamos lá (tomando como o ponto ótimo da vida de alguém). É que de repente a gente não tem mais aquelas certezas todas. E deu vontade de largar tudo, pegar a lancheira, um polenguinho, e ir tomar toddy no parque.*

Ele ficou com medo de estar virando um louco. Acho que, no fundo, ele (como eu) se sente meio idiota ou um ingrato com a vida por estar frustrado com tantas conquistas, aquelas conquistas bem legais que foram acontecendo e que a gente comemorou tanto aos 20 e poucos. E que, aos 18, jamais imaginava que conseguiria ter.

Eu achei que é síndrome de país rico. Aquela coisa de ficar deprimido quando se perde o desafio. Ou então, talvez, um ataque de hiperlucidez, de gente que tá se preocupando com as contas, com a dieta, com a próxima viagem, com o medo de beber demais ou ficar muito louco e depois não saber como se portou. São preocupações novas. Assustadoras e meio paralisantes, eu acho.

O que a gente não sabe direito é até que ponto a hiperlucidez vira loucura e o círculo começa do começo. de novo.






O que, se formos pensar, até que é uma ideia bem reconfortante.


* contribuição do meu amigo :-)



quinta-feira, 18 de agosto de 2011

A manicure

Eu tenho essa manicure, a Cíntia. Ela é uma menina bem legal e descolada, toda tatuada e com um corte diferente a cada vez que eu a encontro. Ela gosta muito de ler e sempre tá de olho no que está acontecendo no mundo - eu a admiro de verdade porque ela é super batalhadora, mas está sempre de bom humor, além de ter um papo ótimo.

Há uns meses, ela saiu do salão porque tinha conseguido uma oportunidade pra trabalhar numa empresa grande. Ela ia ser uma atendente de call center, mas ia ter um fixo direitinho, plano de saúde, bônus, aqueles benefícios todos de empresa grande. Fiquei feliz por ela, porque na minha visão limitada de classe média que quer ver os outros "crescerem na vida" (com todas as aspas do mundo), ela estava dando um passo adiante.

Depois de um tempo, ela volta pro salão. Diz que na empresa grande, não queriam saber de resolver o problema do cliente, mas sim de bater meta de atendimento. Que quando ela começou a tentar resolver esses problemas, a produtividade dela caiu e os chefes nem deram ouvidos, já foram cobrando. E, além de ganhar pouco, ela passava o dia todo trancada no escritório e ainda tinha que trabalhar aos domingos.

Existe um discurso muito consagrado de que trabalhar em escritório é legal. Eu inclusive acredito que parte das pessoas que lê esse blog também acredita nisso, e que, como eu, também acha que sair de um salão pra ser base da pirâmide em uma empresa grande pode ser um ótimo negócio.

Olhando por essa perspectva (a da manicure), eu vi o quanto estava enganada. O emprego dela é muito bom. Ela ganha fixo mais adicional por unha que ela faz, ela conversa com as pessoas o dia todo e sempre aprende coisas novas (foi ela que me disse isso), tem flexibilidade de horário e pode faltar num dia e compensar no outro. Não tem plano de carreira, nem plano de saúde nem nada disso, mas poxa, ela gosta do que faz.

E nós, da classe média, perseguimos loucamente esse ideal de emprego bom, de crescer na carreira, de trabalhar numa empresa cada vez maior (ou cada vez mais importante), de ter status e grana a um custo muito alto de ter cada vez menos tempo e paciência pras coisas realmente importantes.

Isso me lembrou o caso de um taxista que, nos idos de 2006, me contou que tirava 10 mil reais por mês. Ele era super humilde, não tinha nenhum estudo e morava num bairro longe pra cacete. Não tinha nenhum dos indicadores de status que valorizamos tanto, mas tava lá, montando uma frota de táxi e ajudando todos os parentes e tal.

Eu queria terminar com uma lição de moral linda e florida, mas acho que não precisa.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

os incríveis

Eu sempre quis ser uma pessoa incrível. Na pré-adolescência, achava que ser incrível era usar roupas com marcas legais, ter cabelos sedosos e aloirados, uma altura suficientemente aceitável e peitos. Nessa época, eu tinha um leve bigodinho que já começava a me apavorar, pernas finas como dois gravetos e duas blusas de frio, que eram rigorosamente alternadas. Fracasso define.

Depois, lá pros 15 anos, eu comecei a achar que ser incrível era ter amigos muito doidões e ouvir músicas muito doidonas, conhecer gente diferente e participar de suas vidas. Eu queria ser popular e engraçada, mas só conseguia ficar meio quieta ouvindo o que as pessoas incríveis tinham a dizer, com episódios agudos de impulsividade insensata. O bigode eu já não tinha mais, mas as roupas eram duramente batalhadas nas promoções pela minha mãe.

Quando eu saí da faculdade e comecei a trabalhar, passei a me achar um pouco mais incrível: eu era foca e batalhadora, fazia matérias muito legais e corria toda a cidade ouvindo um rádio de polícia. Virei meio malaca e, por ser a repórter mais nova de todo o edifício, acabei me tornando uma mistura freak de mascote e ninfeta. E comprava algumas roupas pra mim, obviamente na promoção.

Vir pra SP me deixou ainda mais confiante: eu tinha 23 anos, nenhum dinheiro, mas estava animada com o fato de não morar mais com minha mãe, pela recém-solteirice e pelo anonimato. Mas as meninas incríveis mesmo moravam em Perdizes, iam pra baladas caras e tinham roupas bem mais legais que as minhas.

Hoje eu meio que perdi a esperança. Eu tenho umas roupas mais legais, outras menos e celulites que me incomodam muito. Muita vontade de enlouquecer na noite, mas pouco dinheiro, pouca companhia e, no fundo, pouca disposição. Tenho um trabalho legal onde continuo a ser uma das mais novas, um marido bacana e inteligentão e duas aulas de ioga por semana. Confesso que tá longe do que eu chamaria de incrível, mas pelo menos tamos aí pagando as contas e degustando pílulas periódicas de diversão.

E o meu conceito de incrível, quem diria, se tornou bastante elástico: pessoas que me façam rir. São as melhores.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

não há saída

E aí que ontem eu fui ver o Melancolia, do Lars von Trier. Foi engraçado porque eu estava muito ansiosa pra ver esse filme, por vários motivos: um deles é que eu amo o diretor. Outro é que melancolia (a palavra e o sentimento que ela representa) sempre me fascinou.

De certo modo, eu estava me guardando pro filme, cultivando a minha dor de uma forma extremamente dura e gostosa, e eu realmente não sei como explicar isso bem. A dor já tava quase explodindo quando eu fui ver o filme, e foi muito bom porque eu saí meio aérea e pensativa de lá. Demorei um pouco pra entender tudo o que eu estava sentindo, e isso é um forte sinal de que eu amaria esse filme. Não esperava que fosse tão tenso, mas ao mesmo tempo tão libertador: eu tremi o tempo todo. No final, eu tava aliviada porque o mundo ia acabar: com isso acabava-se toda aquela tensão e aquele sentimento de deslocamento tão insuportável.

Desde criança, eu achava engraçado esse meu alívio quando percebia que não havia saída: a parte de se entregar no momento da morte, não lutar, não correr do bicho papão, já que ele vai te pegar mesmo. Eu nunca entendi muito bem esses personagens que lutavam bravamente contra a morte - o meu bom senso e a minha preguiça sempre me convenceram de que era melhor não gastar energia com isso e sentir todo o tesão de deixar o carrasco te matar.

O filme me deu esse alívio. Quando não há saída, não há saída, e eu gostei muito da personagem de Kirsten Dunst (que admiro cada vez mais como atriz), que parece uma louca inconsequente e mimada no começo do filme, se afunda gostoso na depressão pra depois submergir numa lucidez impressionante. Caralho, que personagem.

Fora que tem a trlha sonora foda de Wagner, tem a Charlotte Gainsbourg fazendo uma coisa diferente, tem aquela luz na Suécia que puta que pariu.

Saí de lá com uma coisinha gostosa dentro de mim: se for pra morrer, que seja devido a um choque com um planeta azul (note-se que isso exigiria a extinção da humanidade na Terra e não é isso o que eu estou desejando, claro).

Beijos

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

alter ego

Eu já disse algumas vezes nesse blog que, em determinados momentos do mês, eu fico completamente louca com a ciranda dos hormônios. É muito divertido, cansativo, desgastante e emocionante, mas eu garanto que vale a pena ter dado adeus à pílula e redescoberto o meu eu verdadeiro depois de conter a minha verdadeira e brilhante personalidade por décadas. (exagero mode on).

Bom, eis a questã: em um determinado período do mês, o mais enlouquecedor de todos, eu simplesmente acho a minha vida um porre, chata, monótona e coxinha. E desejo ardentemente ser outra pessoa.

Meu alter ego do mês usa bastante maquiagem preta nos olhos, é de 10 a 15 centimetros mais alta, mal-humoradamente engraçada e tem cabelos desalinhados e lindos. Não trabalha com nada particularmente interessante, o que lhe permite frequentar a noite, encher a cara e estar de pé no dia seguinte pra fazer o que quer que seja.

Vamos ver o que podemos fazer pela fantasia do mês, estamos trabalhando nisso.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

mudanças

Daqui a algumas semanas, vou mudar de casa, sair do bairro de que gosto tanto e do apartamento onde vivi muitas coisas legais. Vou pra outro bairro que também gosto muito e pra um apartamento maior, que promete outras coisas diferentemente legais.

Ontem eu meio que demiti a minha terapeuta, porque, além da falta de dinheiro e da dificuldade logística, eu senti que não havia mais nada pra dizer. E olha que eu nem consegui falar metade das coisas que deviam ser ditas pra ela. Pelo menos agora, não valia a pena.

E, enquanto isso, uma amiga querida se muda de cidade, outra muda de vida, gente querida sai do emprego, meu marido começou um emprego, relacionamentos importantes acabam, as bolsas despencam, o filme do Lars Von Trier sobre o fim do mundo estreia.

Eu amo mudanças, e sinto uma alegria imensa quando elas acontecem. Mas dá um medo. Dá uma sensação de perda absurda. Enquanto uma parte de mim acha tudo isso o máximo e adora as novidades que toda essa transição promete, outra parte sente que tá envelhecendo, perdendo pessoas, momentos, vida.

Mas ok, temos que lidar, estamos sem terapeuta e sem dinheiro para tal. Bora tomar umas.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

decepções

Em 29 anos, eu tive até que bem poucas decepções na vida.

Tirando a parte amorosa, onde 89% dos problemas foram causados por mim e pela minha mania psicótica de me apaixonar louca e perdidamente, o resto foram coisas absolutamente pontuais.

O caso é que, quando olho pra trás e vejo onde está a fonte das decepções, percebo que elas foram causadas principalmente por uma fobia de rejeição que eu desenvolvi com muito gosto durante minha adolescência magrela e sem peitos. Aí era sempre assim: eu não sabia que tinha sido rejeitada (ou lá no fundo sabia, mas queria ter certeza absoluta), e insistia até que uma bosta gigante acontecesse e a decepção se materializasse em sua forma pura, frustrante e cheia de rancor. Lágrimas não, porque eu não sou de lágrimas. E essas coisas sempre me causaram problemas, e eis a explicação de eu ter tantas histórias legais pra contar. Que, aliás, só são legais hoje, vistas de longe.

Com o tempo, a gente aprende a ficar mais controlada, mas o bichinho da fobia de rejeição tá sempre lá, à espreita. E se manifesta, claro, nos melhores momentos, quando a vida tá boa. Tô de olho.

Pra quê terapia quando se tem um blog, né?

quinta-feira, 28 de julho de 2011

aos 15

Hoje eu li uma notícia de uma mulher de 32 anos que sofreu um estresse tão forte que um belo dia acordou e achava que tinha 15 anos. Ela não se lembrava que tinha envelhecido, tido um filho, nem do seu trabalho e de tudo o que tinha acontecido desde a adolescência dela.

No final da matéria, ela conta que ficou muito decepcionada quando viu a vida que tinha, porque não se imaginava uma mãe solteira aos 32, e pensava que seria "dona do mundo".

Foi engraçado porque eu lembrei de quando tinha 15 anos. Eu só queria engordar um pouco, comprar umas roupas novas e ficar com algum dos 8 meninos pelos quais eu era apaixonada. Ia para a escola com um pouco de medo e preguiça, mas uma enorme determinação em ser diferente de quem eu tinha sido até então. Já tinha decidido ser jornalista, mas nunca me imaginei rica ou poderosa ou famosa ou nada disso. Eu achava que aos 32 anos, seria linda e segura, teria os homens aos meus pés e roupas legais. E acho que pensava que eu teria mais rugas do que efetivamente tenho hoje. Digamos que eu conquistei uns 70% disso: poderia ser mais bonita, poderia ter mais roupas legais, e os homens deinitivamente não estão aos meus pés.

Mas vejam bem, ainda faltam 3 anos. Tô no lucro.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

simples

eu só queria dizer o quanto eu detesto gente que precisa demonstrar sua sabedoria, conhecimento e cultura e que, pra isso, falam e escrevem daquele jeito, né.

o pior jeito de demonstrar isso é sendo prolixo, empolado e chato. sério. podem reparar: os caras mais incríveis são os que conseguiram tornar tudo claro.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

eu já passei da idade

Há um tempinho, eu me inscrevi em um monte dessas listas de vagas pra jornalistas, assessores e afins. Recebia algumas vagas interessantes em algumas delas e cheguei até a me candidatar - em dois ou três casos, eu fui chamada para a entrevista, mas não passou disso.

O fato é que, mesmo anos depois, eu continuo recebendo os emails dessas listas. E me impressiono com a minha incapacidade de me descadastrar dessa porcaria, porque, afinal de contas, nenhuma vaga do tipo "analista de comunicação com salário de R$ 1,5 mil a R$ 2 mil, exige-se inglês fluente, pós-graduação e pelo menos cinco anos de experiência" vai me brilhar os olhos. Aliás, não brilha os olhos de ninguém, e é exatamente por isso que elas são repassadas ad eternum pra essas listas: em busca de um desesperado que tope a roubada.

E além disso eu não tenho mais idade pra essas coisas.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

eu poderia estar roubando, eu poderia estar matando

Eu quero muito muito muito fazer um curso de fotografia. Já pensei em fazer teatro também, não que eu goste de teatro, pelo contrário, detesto, mas teatro é importante. Funciona como uma terapia e você conhece pessoas boas, com exceção da alta porcentagem de arrogantes. Mas aí é só fazer o curso certo.

Também já pensei em fazer curso de ayurveda, e de desenho também. Línguas, sempre, todas. Sustentabilidade, quando ainda não era a moda, e talvez agora, que está deixando de ser. Maquiagem, dança. Cultura afro. Moda, costura, qualquer coisa.

Eu sou um ser humano sedento por aprendizado: não que eu queira usá-lo pra nada, eu só quero aprender. Por isso acho que eu gosto tanto de livros de ficção; eles não ensinam nada que eu vá usar na vida, talvez eles ensinem vida, mas nada que me faça subir na carreira ou algo do tipo. Eu gosto de um bom banco de sala de aula, gosto de ouvir gente inteligente falando e me deslumbrar com coisas novas. Mesmo que elas sejam esquecidas 3 segundos depois.

É claro que não me orgulho disso; no fundo, eu deveria me envergonhar também. Mas a minha cara de pau não me permite sentir isso: essa característica é mais um sinal de minha deliciosa e vasta preguiça, que cultivo há quase três décadas e que me garantiu a sobrevivência até agora.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

não está sendo fácil

Minha vida está em ritmo de hit da Kátia Cega.

Pontos altos das últimas semanas:

- Refeições
- Todos os eventos que envolvam doses cavalares de álcool
- Aulas de ioga (especialmente a última, quando eu finalmente consegui fazer a parada de cabeça sem ajuda de nenhum ser humano. Próximos capítulos: fazer sem a ajuda da parede)

Olha que beleza, daqui a pouco posso criar a minha própria sociedade sem pessoas.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

O circo

Eu tinha uns 15 anos, e uma amiga da minha idade. Ela foi ao circo, se apaixonou pelo trapezista, e um dia veio me dizer: vou embora, vou fugir com o circo. Era algo tão possível pra mim nessa época que eu nunca questionei. Fiquei triste de perder minha amiga para o circo, de nunca ter um endereço direito pra escrever pra ela. Ainda não era a idade de ouro da internet.

É claro que ela não fugiu com o circo; ainda mora na mesma cidade, na mesma casa, tem praticamente a mesma vida.

Como aos 15 anos, eu ainda acredito nas pessoas quando elas dizem coisas esdrúxulas, mas esse é assunto pra outro post. O que eu queria falar aqui é que eu acho que, bem lá no fundo, todo mundo tem um circo para o qual pode ameaçar fugir quando as coisas apertam. O meu plano B é bem detalhado e inclui raspar a cabeça, fazer drinks à noite e, de dia, ajudar a servir o café da manhã no hostel onde vou morar. De graça. Ah, e me locomover por toda a Holanda da bicicleta.

É preciso ser só um pouco mais legal, só um pouco mais dedicada, só um pouco menos preguiçosa. E falar um pouco menos, e beber um pouco menos, e economizar um pouco mais. Mas é preciso comprar só mais algumas coisas. E fazer mais exercícios, e passar filtro solar em mais lugares. E encontrar mais os amigos, e comer mais frutas, e ir mais ao cinema. E ganhar mais dinheiro. E viajar mais.

E cuidar mais de mim mesma, ó círculo vicioso dos infernos.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Episódio de hoje

Existem coisas no comportamento humano que deveriam virar minisséries do Animal Planet. Como, por exemplo, a péssima mania que alguns de nós têm de criar laços quando já temos problemas com os já existentes, aceitar compromissos quando nossas agendas estão abarrotadas, inventar novas necessidades quando as necessidades antigas nunca são suficientemente satisfeitas.

Hoje, caminhando pela rua em uma hora livre do meu dia (veja post abaixo), eu passei pelo Sesc Consolação. E me lembrei que uma das blogueiras que sempre leio escreveu um post falando da dependência emocional que desenvolveu com o pavê de cupuaçu de lá. E lá fui eu me aventurar CONSCIENTEMENTE numa nova dependência: todas as vezes em que passar por lá, vou ter que comer o tal doce. Como se não bastasse o japonês da Liberdade, o bombom de pistache do restaurante aqui do lado, o chocolate quente da outra lanchonete aqui do lado, as sopas do sesc pompeia e as pizzas da pizzaria perto da minha casa. E todos os outros vícios alimentares que defendo com unhas e dentes.

Enquanto isso, sem dinheiro e um horário digno que me permita ir aos eventos culturais de que tanto gosto, levo para casa o Guia da Folha toda semana, em busca de novos, imperdíveis e igualmente inacessíveis programas culturais. Aumentando a minha lista de coisas que devo fazer, mas nunca vou conseguir.

E por aí vai. A minha sorte é que, pelo menos com os amigos, eu já aprendi a lição. A decisão mais recente (não tão recente assim, infelizmente) foi a de que não quero conhecer gente nova. Me recuso, tenho preguiça e, assim, me protejo para não botar mais gente num coração já sem espaço.

A difícil arte de se ter tempo

É um mantra. Todo mundo reclama por não ter tempo. Minha mãe, que já se aposentou, reclama que nunca tem tempo pra visitar os outros filhos, resolver todos os problemas, ir em tantos médicos. Meus amigos trabalham muito e sempre estão cuidando de um frila aqui, um curso ali, uma monografia acolá, nunca têm tempo para aquele happy hour querido ou um almocinho que seja. Meu marido é um viciado em estudar e passa os domingos sentindo dor nas costas de tanto ficar inclinado sobre os livros, já que durante a semana concilia trabalho e faculdade.

Eu me sinto mal por ter tempo. Meus últimos cinco anos foram assim: eu equilibrei coisas como aulas de inglês e espanhol, pós-graduação, trabalho voluntário, frilas, trabalho de verdade, faxinas eventuais, cursinho preparatório para concurso e o bom e velho lazer. Agora que não estou fazendo nada disso (com exceção do onipresente trabalho), me sinto meio mal. Hoje saí de casa às 9h30 pra entregar o último documento que faltava na PUC e senti que fechei um ciclo. Terminei tudo às 10h30 e fui fazer uma hora, tomar um café e comer um pavê de cupuaçu para aplacar a minha culpa por ter uma hora sobrando no meu dia.

Não sei se sou eu, se são as pessoas, se é a cidade ou se é a educação judaico-cristã, mas tem algo bem errado nessa história.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

cidade

Só pra complementar o post abaixo: tenho presenciado cenas terríveis que me mostram as consequências de se ter crescido em uma cidade pequena. Não, não é bom, ao contrário do que possam pensar os paulistanos: enquanto aqui se tem uma individualidade extremada, lá a coletividade te engole. Nunca se pode ser você mesmo. Todo mundo fala de você, vigia seus passos, seus relacionamentos, inventa coisas. Te rotulam, te obrigam a se encaixar.

O maior medo que eu tenho é o de voltar. Mas estamos trabalhando nisso.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Muletas familiares

Eu elegi o mundo como minha família. E foi uma escolha difícil. Me afastar, aos poucos, de uma cidade, de um núcleo, de um relativo conforto. Em busca de algo que não sabia o que era, ainda não sei. Mas me afastei.

Fiz uma escolha boa. Lutei muito. Conheci um monte de gente legal, coisas incríveis, comportamentos novos. Derrubei centenas de preconceitos. Me preocupo minimamente com o que os outros pensam. Venci neuras, inseguranças. O afastamento me deixou mais forte: é um modo de vida, ser sozinho e forte.

Desenvolvi outras muletas: meu trabalho, meus amigos, meu amor, minha fome de mundo. Minha muleta maior, porém, foi a auto-suficiência. É comigo que eu conto, com a minha capacidade de raciocinar, tomar decisões, ponderar.

Foi duro, tem sido duro. Tenho tentado ser mais suave. Tenho tentado chorar. Criar laços com minhas raízes. Dói bastante, mas não há como fugir do que se é. E, enquanto isso, enquanto tiro todos os monstros empoeirados do armário, entendo que essa, sim, é a minha fraqueza.

(essa é a segunda versão desse texto. tirei a última frase)

quarta-feira, 8 de junho de 2011

blasé

Era assim: eu cheguei e me deslumbrei com os prédios enormes, a diversidade das pessoas, o anonimato. Me emocionava com isso, com as tribos, com o fato de ser diferente e normal. Achava engraçado as caras de enfado no metrô, já que se tinha tanta coisa pra ver. Por que aquelas caras?

Aí eu fui vivendo. Percebi, primeiro, que olhar as pessoas no metrô podia parecer uma afronta, podia parecer uma paquera. Fiquei mais contida, mas ainda assim curiosa.

Depois fui me acostumando. Minha mãe vem pra cá e quase arranca o meu braço quando vê um monte de japonês na Liberdade, vários casais gays na Paulista, um cara de cabelo verde e piercings espalhados pela cara toda. Eu, que vejo dezenas de tipos diferentes todos os dias, não acho nada demais.

Não há nada mais pra se olhar no metrô, agora. Talvez a TV metrô, talvez a roupa de alguém, mas nada muito especial. Os assuntos estão tão rasos, meus amigos conhecem todos os trending topics do twitter, o último tumblr, todos deram o último furo e fizeram a melhor piada sobre ele.

E é nessa hora que eu percebo que eu virei blasé. Eu ganhei aquela cara de enfado que eu não entendia quando olhava todas aquelas pessoas no metrô. E, eu não sei como, não consigo deixar de relacionar isso com uma produtora de TV que conheci, que só se animava com uma pauta quando ela tinha várias mortes. Porque carnificina, sim, é que é pauta.

E fatalmente chego a uma conclusão de que uma vida com emoção demais torna a gente cada vez menos humano. Espero, de verdade, estar errada.

terça-feira, 7 de junho de 2011

a tia do metrô

Na semana passada, eu fui pegar o metrô às cinco da tarde. Pra quem não conhece SP, pra quem não conhece o metrô, pra quem não conhece a linha vermelha, é uma coisa linda de se ver. Ainda mais às cinco da tarde. Eu não tinha escolha, o salário não tinha caído na conta e o trânsito ainda não me permitia pegar um táxi, então fui com a cabeça vazia e o coração humilde.

Peguei a maior concentração de pessoas que já tinha experimentado dentro de uma estação de metrô. Tudo bem, respirei, eu tinha tempo. Peguei a fila humildemente e vi passar um, dois, três trens. Me intrigou o fato de a fila não diminuir tanto quando os trens chegavam, como geralmente acontece em estações mais vazias. Me aproximei e vi. As pessoas não enchiam totalmente o trem. Algumas entravam, se sentavam. Outras, poucas, ficavam em pé. E tinha espaço pra mais pessoas entrarem, só que elas não entravam. Fiquei meio intrigada, mas o tempo passava e já começava a apertar.

Foi quando eu encontrei a tia. Ela estava lá na frente. Falando até babar. Reclamando que as pessoas não respeitavam os outros, que só pensavam em si mesmas. Porque ela preferia não entrar no trem quando tinha a possibilidade, porque queria esperar pra ir sentada. Mas que muitas pessoas passavam na frente, fingiam que iam entrar no trem e não entravam só pra ficar na frente dela e elas, sim, irem sentadas.

Ela estava louca de tanto falar. Repetiu a mesma coisa pra umas cinco pessoas, e quando alguém não dava mais atenção, ela elegia uma outra pessoa com o olhar. Se rolava um contato visual, ela voltava ao mesmo assunto.

E aí o trem chega. E ela calcula que, nesse, ela também não conseguirá ir sentada. E eu, atrasada, começo a tentar entrar. Ela, parada, impassível. Eu peço licença. Ela, imóvel, NA FRENTE DA PORTA DO TREM. Parada. Eu peço de novo, dessa vez com um tom mais audível. Ela começa a berrar, descarregando toda a sua ira contra os que passam na frente: "Estou no canto, minha filha, dê a volta e entre, lofnaoefjkcvndklvfnhcfl". Nâo tinha como dar a volta. Me enfiei entre duas pessoas e consegui entrar no trem relativamente vazio. Fui em pé, claro. Mas sem problemas. Cheguei atrasada ao meu destino.

REFLITAM.

E não, não vou comprar um carro.

terça-feira, 31 de maio de 2011

short story

Os pés na areia, uma areia grossa, quase pedra. A água do mar lambia os pés, deixando pequenas linhas, pequenas curvas, desenhos sem fim. Que sumiam. E logo voltavam, em outros lugares.

Rimos, jogando as cabeças para trás. As mãos se apertam, fortes, toda a força que temos. O mar cinza, feio, a areia cinza, feia. Do céu, chove quase pouco. O casaco de lã que mal cobre a minha nudez, sujo de areia, sujo de corpo, de maresia. Ele me olha com o olho mais preto do mundo. Meu dente dói.

Antes, bem antes, havia uma cidade, um apartamento. Amigos, família, vinho às sextas, um plano de previdência. Um trabalho. Dois trabalhos, o meu e o dele. Havia malas prontas pra viajar nas férias de janeiro. Passeios no shopping, vontade de comer sorvete nos dias de sol. Havia.

Depois daquele ano, quando decidimos vir. Viemos, atravessando o mato todo com malas. Viemos trazendo as coisas de barco, as poucas coisas, móveis, coisas pra comer, coisas pra fazer comida. Uma casa só nossa, na beira da praia, sem plano de previdência, sem passeios no shopping. Uma casa de dois andares. Rede, sexo, um vinho às vezes. Saídas furtivas para comprar comida, que medo de sermos descobertos.

Bate um vento e meu cabelo embaraça mais. O dente dói, e rimos. Os pés nus começam a ficar arroxeados, anoitece. Venta mais, e meu cabelo preto voa na cara dele. Somos jovens. Choramos, as mãos se apertam demais.

Desde aquele ano espaçamos nossas idas. Fugimos sempre, fingíamos sempre. Tortura de ir à cidade, andar pelas vielas mais sozinhas. Conversar um pouco pra não despertar ninguém. Conversávamos bem. Somos velhos. Ninguém desconfia. Voltávamos tristes, angustiados. Deitávamos na areia e passávamos o dia assim. Pálidos e calados. Mortos de medo e sono.

Aos poucos, a areia. Caminhamos, caminhamos, íamos e voltamos. Ríamos. Menos roupas, também no frio. A casa ficou distante, mesmo a poucos metros. Os quartos. A cozinha com aqueles móveis todos. Nada de fazer comida.

Comemos. Uma papaia que caiu no chão ali. Rimos com as sementes brotando de nossas bocas. Meu cabelo, branco, o dente que dói. Ele é lindo. Me lembra que temos papaias, rimos da nossa dieta, papaias, peixe cru e flores coloridas que podemos esfregar na cara também. Ele, magro, magro.

Depois que deixamos a casa, fui lá uma vez. Vi ratos comendo restos quase nada. A maresia já começava a comer um pouco das coisas. Voltei feliz. Deixei a porta aberta, e andei aqueles cem metros até a praia, a casa continua ali, fazendo sua sombra sobre nós. Lá deixei nossas roupas, com exceção do casaco velho de lã e da camiseta rota que usávamos. Somos nus. Nossos corpos brilham de sal, mesmo à noite.

Deitamos e encostamos as pontas de nossas cabeças. O mar avança e molha o meu casaco, está tão frio. Os dentes batem e rimos, rimos. Eu passo a mão no cabelo dele, o cabelo caindo. O olho preto, sinto me olhando, mesmo no escuro.

Depois da papaia, não comemos mais. Olhamos o mar, ele avança e volta, deixa linhas, mas não nos movemos. Os pés tão gelados, vimos o sol nascer por trás de tantas nuvens. Chegam ostras. Comíamos ostras antes de pararmos com a comida, com as roupas. As mãos sangram, as unhas crescidas apertam demais. Os topos das cabeças encostados, olhamos pra cima. De repente, ele dá um pulo e me lembra. Seus olhos, pretos, pretos. Entramos no mar, e caminhamos.

Não paramos de rir, de repente ficou tudo engraçado.

Somos jovens.

me deixa

E se os seres humanos não tivessem descoberto o fogo, a roda, a tecnologia? E se depois de milhares de anos continuássemos os mesmos, com estruturas sociais mais complexas, talvez. Mas sem tecnologia.

A TPM talvez já tivesse sido "sacada" pelos machos de então. E as próprias fêmeas teriam dado um jeito de se proteger, se afastar e tentar sofrer menos bullying da sociedade só porque, daqui a alguns dias, fatalmente irão sangrar.

Hoje, cercada de tecnologia, concreto e absorventes higiênicos, eu penso que, caso o planeta sofra uma hecatombe nuclear e precisemos voltar à idade da pedra, ou caso não tivéssemos evoluído, eu agiria como os elefantes quando vão morrer. Me afastaria. Fingiria que ia comprar cigarros e não voltaria mais. Esperaria o bando ir embora, passaria os meus dias de menstruação de boa curtindo uma cachoeira, e depois esperaria outro bando chegar e começaria novas relações sociais. CERTEZA.

Mas como estamos cercados de coisas que foram criadas para que precisemos delas, tenho que menstruar sentada na cadeira, digitando no computador. Fingir que nada está acontecendo e carregar uma necessaire de bolinhas ridícula toda vez que for ao banheiro é parte do preço que tenho que pagar por viver numa sociedade com ipads, chocolates e cobertores felpudos.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

o jornalismo e as pessoas normais

Há algum tempo eu já desconfiava que a relação dos jornalistas com o jornalismo era algo muito próximo à masturbação. E isso inclui os assessores de imprensa, relações públicas e todos os operários da notícia.

Eu vejo tantas séries sobre a importância do jornalismo, entrevistas com jornalistas 'consagrados', debates sobre o futuro do jornalismo. E realmente me pergunto se alguém, além dos jornalistas, se importa. Porque, se as pessoas normais não sabem definir o que faz um assessor de imprensa ou um relações públicas, se a maioria delas não tem ideia de como é feita uma matéria, imagina se elas vão ter interesse no futuro do jornalismo diante da evolução das novas plataformas digitais. Até eu fico com sono só de ler isso (apesar de reconhecer a importância e etc).

O que eu sei das pessoas normais é que elas não leem tanto quanto parece, elas trocam fotos no facebook, querem saber de futebol e celebridades. Querem a previsão do tempo para o fim de semana e se o dólar vai fazer as férias ficarem mais baratas. É isso. Elas podem até achar (e acham) que os jornalistas sabem muito e que tudo aquilo que está escrito (falado, televisionado) saiu da cabeça deles. Mas não importa. Elas não sabem e nem querem saber o nome de quem assina a matéria da qual gostaram. Não se importam se a pauta X foi sugerida pelo assessor Y ou se fez parte da estratégia de um RP para a empresa Z. Elas simplesmente não se interessam. Quem faz isso, achando que uma entrevista, um debate, um chat ou uma série sobre o "fazer jornalístico" são algo de interesse público, somos nós, os jornalistas.

Nós e nossos egos enormes, nosso clubinho seleto do qual sabemos o nome dos integrantes que fazem parte dos grandes veículos/empresas/assessorias, nossas carteiras vazias e bocas cheias para falar nome e sobrenome corporativo. Nós e nosso inconfessável medo de que as novas plataformas digitais nos engulam e revelem ao mundo todo que somos normais, como todos. A única diferença é que a nossa masturbação preferida é outra.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

in wine we trust

Eu super compreendo o alcoolismo, e quando ele é consciente é ainda mais lindo, né.

Desde que a sociedade "explica" os vícios, ficou mais fácil se entregar a eles. Eu, quando era criança, não tinha a menor ideia do motivo pelo qual os drogados decidiam se drogar. Até que virei adolescente e descobri que esses motivos não existem: desde meus amigos que pegaram pesado até as minhas próprias experiências nada pesadas, todos bebem ou usam drogas pelo simples fato de usar. Mas aí a gente teve tanta palestra sobre drogas na escola, né, a gente leu tantos livros sobre o assunto, que ficou simplesmente impossível tentar não explicar tudo com o combo curiosidade/vontade de participar da turma/fuga para os problemas.

O item "fuga para os problemas" é o meu preferido. Porque é uma beleza, né, toda vez que eu estou cansada, chateada, puta, triste, de TPM e até mesmo quando estou feliz, eu recorro ao bom e velho álcool. Ficamos todos bem: eu, porque fico bêbada, o álcool, que continua sendo consumido e a minha consciência, porque, afinal de contas, todo mundo precisa de uma válvula de escape de vez em quando.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Estamos fadados a migrar eternamente

Eu gosto das redes sociais. Uso mesmo, tenho Facebook, twitter, LinkedIn e um Orkut amplamente utilizado no passado. E eu sei que todo mundo fala que o que aconteceu com o Orkut vai acontecer com o Facebook: sorry, babies, já aconteceu. Note que eu não estou higienopolizando e fazendo comentários como "Olha, a classe C entrou no orkut, se a minha empregada usa, eu não uso mais".

Eu fiquei bem chateada porque eu achava que o Facebook era uma coisa diferente, já que as pessoas precisavam pedir autorização para ser amigas. E daí que eu pensei, que ótima ideia, é uma boa rede social pra você compartilhar coisas pessoais, como fotos e pensamentos toscos, com gente que você realmente conhece e convive. Ou que conviveu no passado mas que continua fazendo diferença.

Ledo engano. Eu não contava com a minha capacidade limitada de dizer não e com a capacidade exagerada dos outros de insistir que você seja parte de seus 432 amigos colecionáveis.

A história foi assim: uma amiguinha de infância com a qual não tenho o menor contato e que nunca foi tão amiga assim me adicionou no FB. Como eu sempre faço com pessoas que quero ignorar, eu a ignorei. Não satisfeita, um mês depois ela me manda uma mensagem me cobrando porque eu não virei amiga dela. Aí eu a adicionei como amiga porque já tava virando uma saia justa, já que nesse meio tempo ela virou amiga do meu irmão e já está no nível "potencial cunhada". E depois disso ela nunca mais falou comigo, beijos.

Tudo bem que eu sou uma idiota e deveria continuar ignorando. Tudo bem que eu sou mais idiota ainda por refletir sobre isso a ponto de escrever um post que ela pode ler se virar minha cunhada (tomara que leia mesmo). Mas eu me senti mal com essa história por vários motivos:

- O fato de o Facebook ser fechado não significa que você vai manter seu facebook fechado. Porque uma rede social não domina o ser humano que está por trás dela (pelo menos ainda não), e no meu caso, eis um ser humano que cede a cobranças desse tipo;

- Gente que adiciona amigos compulsivamente em redes sociais, apenas para ter 805 contatos e não parecer um loser com 15 pessoas que realmente fazem diferença na vida (sim, estou exagerando);

- Me senti parte de um jogo de interesses onde o objetivo final era pegar meu irmão, e isso é muito estranho porque em momento nenhum ele fez parte do lado canalha da história;

- Me senti uma errante, tentando ir de rede social em rede social, em busca de pessoas que realmente façam sentido pra mim e zzzzzzzz

Só antes de ir, gostaria de saber dicar pra desabilitar umas pessoas do Facebook. Eu realmente queria tentar voltar a um mundo ideal onde só existem 15 pessoas.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

três mil e quinhentas pessoas

Três mil e quinhentas pessoas fizeram um abaixo-assinado para impedir que o seu feudo, o bairro de Higienópolis, ganhasse uma estação de metrô, o meio de transporte mais rápido, fácil e democrático dessas paragens.

São três mil e quinhentos que, provavelmente ricos e bem-nascidos, estudaram nas melhores escolas, falam inglês fluentemente e usaram bastante os metrôs de Londres, Paris ou Nova York. Três mil e quinhentos que concentram boa parte do PIB da cidade, e que não se importam que suas empregadas domésticas tomem três ônibus por dia, contanto que cheguem na hora. Eles têm carro, e andam a pé pelo bairro, que delícia tomar café da manhã na padaria de luxo e frequentar aquele shopping que tem lojas tão caras que já excluem a maior parte da cidade.

São os mesmos três mil e quinhentos cujos amigos, ali no Clube Pinheiros, proibiram as babás de não usar uniforme, afinal, elas precisam ser identificadas como serviçais. Os mesmos que dominam uma das maiores universidades do país, onde também não se pode ter metrô, porque veja bem, vai entrar "gente de fora" na USP. Não pode.

Provavelmente em Higienópolis mesmo há muito mais de três mil e quinhentos que pensam diferente, só não sei se eles têm força o suficiente para fazer com que o público se curve ao privado. Se bem que essa é que é a regra, né. Surpreendente seria se tivéssemos estações de metrô em Parelheiros, Jardim Pantanal e no Tremembé.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

quarta-feira, 4 de maio de 2011

eu queria poder comprar um divã

estilo vitoriano, bem grande
botaria no meio da cozinha
no banheiro, se coubesse
no corredor do trabalho, se desse

compraria um analista bem bonito
velho e com um relógio de bolso
e quando desse o tempo:
"acho que ficamos por aqui"

um analista com quem pudesse falar
reclamar sobre meu banheiro pequeno
minha falta de privacidade
minha vontade de ser mais independente
e como custou caro o divã vitoriano

o bom é que eu não comprei
afinal, não caberia
afinal, eu não poderia
e tenho que trabalhar aqui
porque já está dando o tempo

bad

Hoje é um daqueles dias, que chegam e se instalam como um parente folgado. Logo senta no sofá da sala, abre a sua geladeira e liga a Tv. E, olha, tá passando Zorra Total.

Dias como esse me dizem tantas coisas. Sobre esse incômodo que é viver, e sobre como não somos feitos pra essa rotina de todo dia. Eu não me incomodo de viver dura e pegar ônibus todo dia, mas nesses dias, passar por isso é massacrante. E aí você chega em casa e está tudo lá: o apartamento pequeno, precisando desesperadamente de uma faxina, todas aquelas roupas das quais você se cansou. A inquietação pelo fato de o tempo estar passando e de você não ter continuado o mesmo. E a mesma inquietação te mostrando no espelho que você tá mudando sim, e rápido.

Dias como esse não prestam. Nem com chocolate quente, cobertor e filminho. Nem com um livro que faça chorar e muito menos com o sol bom que tá lá fora. Combinam muito menos com esse computador, essa sala cheia de luz branca enquanto o sol amarelo e o céu azul gritam na janela à sua esquerda. Os telefones tocando, as piadas corporativas, as teclas fazendo o seu trabalho cotidiano de teclar sem nunca reclamar de nada. Os olhos, olheiras, cansados, quanta canseira, meu Deus, será que passa?

E aí você se dá conta de que está na TPM. E tudo só piora.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

resolução de pós-páscoa

(já que o ano novo já passou faz tempo)

Me preocupar menos com os problemas dos outros, me preocupar menos com os problemas dos outros, me preocupar menos com os problemas dos outros, me preocupar menos com os problemas dos outros, me preocupar menos com os problemas dos outros, me preocupar menos com os problemas dos outros, me preocupar menos com os problemas dos outros, me preocupar menos com os problemas dos outros, me preocupar menos com os problemas dos outros, me preocupar menos com os problemas dos outros, me preocupar menos com os problemas dos outros, me preocupar menos com os problemas dos outros, me preocupar menos com os problemas dos outros, me preocupar menos com os problemas dos outros, me preocupar menos com os problemas dos outros, me preocupar menos com os problemas dos outros, me preocupar menos com os problemas dos outros, me preocupar menos com os problemas dos outros, me preocupar menos com os problemas dos outros, me preocupar menos com os problemas dos outros, me preocupar menos com os problemas dos outros, me preocupar menos com os problemas dos outros, me preocupar menos com os problemas dos outros, me preocupar menos com os problemas dos outros.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

A cachorrização das pessoas

Que o mundo se rendeu aos animais já é fato, né. Afinal de contas, é muito melhor se relacionar com alguém que não fala, não te decepciona, abana o rabo pra você quando te vê e faz com que você se sinta importante.

Aí, enquanto humanizamos cachorros e gatos, com coisas bizarras como salão de beleza, padaria e casamento , cachorrizamos pessoas.

Não sou idiota a ponto de fazer sermão pra isso, principalmente porque adoro bichos e gosto cada vez menos de pessoas, mas que é um fenômeno, é. Inegável.

Vamos ilustrar:

São Paulo, segunda-feira de manhã.
Lá estou eu, no supermercado, fazendo compras. Uma senhora na fila atrás de mim aponta pra um produto de limpeza que eu comprei e me pergunta: "onde você achou isso?". Acostumada que estou a ser ignorada pelas pessoas nesse ambientes públicos (e rapidinho aprendi a ignorar também), achei aquilo estranhíssimo. Cheguei a considerar que a véia tava doida. Mas respondi (meio de qualquer jeito, assumo): ah, tava lá, na prateleira de produtos de limpeza.
Aí a pessoa em questão, no caso eu, saio do supermercado, vejo um gatinho lindo miando, faço aquela graça e quase levo pra casa, dou um banho e faço trancinha no bigode.

Ou seja. Eu achei estranho uma pessoa se direcionar a mim no supermercado pra conversar. Como se fosse um cachorro falando comigo. E, no fundo, estamos acostumados a ignorar estranhos, como se cachorros fossem. Isso vai na direção contrária à adoração obsessiva que estamos desenvolvendo pelos bichos.

É um assunto para se pensar, acho.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

incoerência, trabalhamos

Toda vez que eu vou para algum lugar, seja de férias, seja um breve feriado, algum lugar onde eu ainda não morei e não enchi o saco, eu fico querendo me mudar pra lá.

Foi assim com todos os lugares que eu já conheci e minimamente gostei. A lista é longa: vai de Ibitipoca até Londres.

O ridículo é que eu sei que na maioria dos lugares eu mal me adaptaria durante quinze dias. Que dirá a vida toda. Como lidar com a minha enlouquecida necessidade de programas culturais numa cidade de mil habitantes? Como lidar com o meu ódio a trânsito e a multidões em uma megalópole? (SP está durando bastantinho, até)

Mas, ingenuamente, frivolamente, eu me apaixono por toda nova cidade. Chego a visualizar o "casamento": onde eu moraria, com o que trabalharia (porque jornalista não, né), como seria minha rotina, em uma estratégia totalmente incoerente que vai de ermitã a ativista social, passando por dona de hostel, guia turística e massagista. OU seja. 29 anos e ainda estamos trabalhando com a falta de pensamentos adultos.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

um post sério

Eu quase nunca falo sério. Mas vamos lá.

Todo mundo falando sobre bullying. Aí vão criar uma lei sobre bullying. E o que vai acontecer? O bullying vai aumentar. Anota aí: uma hora dessas vão anunciar que aumentou o bullying depois da lei.

Sempre acontece isso. Provavelmente aconteceu com a Lei Maria da Penha, com o racismo e vai acontecer com a homofobia também. Mas o que não explicam é o que está por trás dos números.

Existe uma coisa chamada subnotificação. Que é assim: o seu marido te bate, você não denuncia. A violência acontece mas não é notificada. A partir do momento que tem a lei, que ela é divulgada, que você vê que funciona, vê homens sendo punidos, as pessoas se sentem mais dispostas a levar o caso adiante. E aí aumentam as notificações. Mas os casos, eles continuam. Ou até caem, a médio prazo.

Ou seja, é bem estúpido tratar dados como se eles fossem coisas isoladas. É ruim pegar um número e fazer um auê em cima, sem tentar saber o que está por trás deles. Os números são terríveis - eles podem ser manipulados de vários jeitos.

É sempre bom desconfiar, daí.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

o meu amigo de cartas

Eu tinha um amigo de cartas na adolescência. Era assim: a gente nem era amigo de verdade. Quando estávamos juntos, não tínhamos assunto - ficávamos meio constrangidos, meio calados, e era isso. Mas aí eu me mudei de cidade, a contragosto, e começamos a trocar correspondência. Ele escrevia poesia, eu escrevia reflexões e filosofias sobre a vida. Muito adulto, por sinal (COF). Isso durou pouco, meses, até que a adolescência chegasse de verdade e eu passasse a me dedicar à esbórnia.

Hoje eu pensei nele e em como eu sinto falta de ter um amigo de cartas. Porque não faz mais sentido você escrever sobre como está sendo a sua vida pras pessoas, tem o email, o twitter, tá barato ligar de tim pra tim, né, então carta virou um negócio meio inútil, a não ser que seja pra filosofar. Aí sim seria legal.

Bom, voltando ao meu amigo. Ele era um cara estranho. Não o tipo de estranho que sofresse bullying. Ele era esquisito mas tinha o cabelo comprido e entendia muito de rock. E escrevia poesias. Era feio, mas nada que o prejudicasse demais. Era tímido, mas isso não o impedia de conviver com as pessoas. O pai dele era dono de um pequeno armazém, ele tinha muitos irmãos, era de uma família pobre, mas não era uma coisa que destoava do resto da cidade. Era um cara legal.

Fiquei torcendo de verdade pra que ele tenha saído de lá. Porque gente como ele não sobrevive num lugar como aquele. Se tem uma coisa que pode acabar com a autenticidade e a individualidade de uma criança é crescer numa cidade pequena. Espero que ele tenha encontrado um tipo de vida que tivesse mais a ver. Aí, quem sabe, a gente poderia trocar umas cartas, falando sobre essas coisas todas. Poesias, filosofias, sei lá.

mea culpa

Eu sou uma idiota.

Não entendo essa sua timidez, mas que burra que eu sou, logo isso que é a coisa mais linda do mundo. Essa sua calma tão deliciosa e esse desejo de se preservar. Eu, logo eu, que falo demais, que me arrependo sempre de ter uma boca gigante. A rainha dos micos recrimina seu ritmo, seu jeito, seu tempo, seu momento. Burra.

E de repente eu venho falar com você, pregando todas as regras cretinas. Eu sou a enciclopédia dos conselhos babacas. Não me ouça. Eu não posso dizer o que você tem que fazer porque eu não sei absolutamente nada. Nem sobre mim, nem sobre a vida, nem sobre porra nenhuma.

Eu nem sei como fazer isso, porque afinal sou tão correta e sempre tenho conselhos e teorias, mas esse texto é um pedido de desculpas. Pela minha arrogância, pelas minhas certezas. Por demonstrar uma força falsa, que eu não tenho. Por ter construído um personagem duro e cruel, uma imagem de mulher moderna e racional. Não sou assim, te enganei o tempo todo, e (olha que ironia) agora eu te peço desculpas por ter sido assim todo o tempo. Talvez você ame exatamente isso, esse holograma de mim. Mas não é assim que eu sou, viu.

Eu sou mesmo, mesmo, mesmo, uma menina magrelinha que tinha uns olhos enormes, medo de levar bronca e vontade de ter alguém que cuidasse de mim.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

que texto merda

eu me arrependo dos textos mas não tenho coragem de apagá-los
foi o que aconteceu com o texto abaixo
não gostei, mas mantenho sua publicação para me lembrar que posso ser mais idiota do que pensava e menos genial quanto gostaria de acreditar

PS: sou eu ou todo mundo está discutindo a causa mortis do knut?

quando as peças não encaixam

você começa a pensar o porquê das coisas.

e se questionar seriamente se não valeria a pena ser só alguém que não fez uma universidade, não fez estágios, não se mudou pra uma cidade com oportunidades melhores, não trabalhou, não teve aumentos e tapinhas nas costas, não batalhou terrivelmente por todas essas oportunidades.

e se de repente fosse bem melhor ter encostado em alguém: um pai, uma mãe, uma avó, e ser apenas aquela prima/irmã/cunhada/whatever que todo mundo tem na família e que é meio fracassada e que todo mundo olha, balança a cabeça e fala: "coitada".

uma pessoa com algum pequeno problema de drogas e alcoolismo que não impeça de ter uma vida social bem mais legal que a minha e que faça academia, massagens e compre roupas numa loja bacana sempre às custas de alguém, sempre tem alguém disposto.

assim, não dá pra entender.

enquanto você dá umas moedas pra um mendigo e lembra que aquelas eram as últimas moedas que te mantinham no azul, você simplesmente cai na real e pensa porque raios mesmo você tinha tanto medo de virar um mendigo. Porque né, sempre tem alguém disposto.

terça-feira, 29 de março de 2011

bala

no fundo, eu acho que ser feliz estraga um pouco a poesia da gente

sexta-feira, 25 de março de 2011

essa noite eu tive muitos sonhos coloridos

sonhos de um mar-tsunami azul azul com ondas engolidoras
nadei bastante até de noite e depois fui embora querendo levar uma onda pra casa, foi o que eu disse

não levei

levo um coração tristíssimo que não perde essa mania boba de ser feliz

(me deixa, estou lendo um livro sobre poetas)

quarta-feira, 23 de março de 2011

currículo

eu já quis ser mãe
desenho com casinha, estrada e sol
quis ser piloto de avião, caminhoneira, pedestre
e uma escola que nem existe mais

hoje sou amor e letras
um pouco de estudo de coisas chatas
outro pouco de coisas mais legais
hoje sou amiga, poeta, cantora e brava no telefone

amanhã eu sou algo que não sei
porque ainda não tenho certeza
é futuro, uai

segunda-feira, 21 de março de 2011

bicicleta

foi assim: eu fiquei nervosa e triste. que saco que é ter as suas melancolias e pra piorar estar sem dinheiro. aí eu queria fugir de casa, fugir da minha vida, como faço todas as vezes. semi-fugi: peguei a bicicleta e dei uma volta pelo bairro. descobri ruas novas e um castelo abandonado. descobri meandros da cidade que são como os meandros da minha mente: desconhecidos e sozinhos. era uma parte da cidade que não tinha carros, não tinha gente, uma pequena zona rural no meio da metrópole. sentei, chorei um pouco, percebi que de vez em quando era preciso visitar a casa da roça pra tirar as teias.

voltei revigorada com o vento no rosto e as coxas doendo.

sexta-feira, 18 de março de 2011

brindes

Você devia ver como eu fico quando ganho um brinde. Desde os bichinhos do Mc Donalds até as tralhas que muito jornalista ganha de assessoria, eu fico feliz com tudo. Dou gritinhos de alegria a cada novo brinde, consigo achar um novo aspecto pra uma caneta ou um bloco.*

Aí foi assim:
- Hoje eu recebi uma caixa em formato de baú.
- Antes de abrir eu já fiz um escândalo, o que atraiu a atenção dos colegas em volta.
- Ao abrir a caixa, vi que tinham várias moedas de chocolate, daquelas da Pan. Morri que tinham MOEDAS num BAÚ. (vá ao verbete TESOURO)
- Continuei abrindo e vi que tinha um pendrive em formato de carro. Eu já achei o máximo quando achei que o carro era um imã de geladeira, quando vi que era um pendrive eu quase infartei.
- Pra completar a alegria, tinha um RELÓGIO DE SOL. Eu não tenho nem relógio e nem sol, Brasil, mas um relógio de sol com uma bússola (é muita emoção saber sempre onde estão os pontos cardeais) foram demais pra mim.
- Depois disso eu comecei a dar pulos até com os isopores em formato de cheetos que tinham dentro do baú.

Resultado: Tenho um tesouro em forma de chocolate, um relógio de sol e um pendrive/carro. E vários cheetos de isopor bonitinhos que eu não tenho coragem de jogar fora.

FELICIDADE EM FORMA DE BRINDES.





* só não gosto de folder. Não tem como gostar de folder.

segunda-feira, 14 de março de 2011

calculadora

Tanta coisa pra ser dita, mas nem funciona mais.
Hoje o dia é branco, é barro molhado, é melancolia e leite frio. Hoje o dia é dois de tão dia (chega logo, noite). Hoje o dia é você. Os dias são sempre você quando não são eu, já reparou? (it's all about us).

eu tô com vontade de inverno, e olha que eu nunca senti isso. e quando você me disse que eu tô triste há mais de um ano, eu fiz as contas e percebi: amor, vamos embora logo que o meu nada tá acabando.

ele

ele agora escreve e, meu Deus, quanto amor

http://casapo.blogspot.com

quinta-feira, 10 de março de 2011

googlelícia

Eu sempre olho a seção "estatísticas" desse blog com um puro interesse científico.

E me choca a quantidade de pessoas que são direcionadas ao post "Eu sou magra", que não vou linkar aqui. São pessoas que digitam "sou magra e normal" ou "sou magra e feliz" ou "quero ser magra" no Google e burramente são direcionadas pra cá.

É muita gente, sério. Divido em duas categorias: pessoas que precisam do aval da internet para ver beleza nelas mesmas e pessoas que querem ser magras e acham que a internet vai dar todas as respostas. Duas categorias de gente que acha que felicidade se conta em quilos.

3 dicas: andem, trepem, encontrem os amigos

Terças e sábados

Eu preciso ter muito cuidado com o que escrevo aqui. E espero que as pessoas entendam que é pessoal. E que eu não sei escrever nada nesse blog que não seja pessoal ou autobiográfico ou algo que o valha.

O importante é dizer que existe alguém com alma aqui. Alguém que faz coisas erradas, dá mancadas, magoa pessoas. Alguém que tem celulite e nem sempre combina as roupas certas. Pão-dura, inflamável, impulsiva, ciumenta. Uma pessoa que não entende muito bem as fraquezas dos outros e que, infelizmente, não consegue enxergar as suas próprias.

Uma pessoa tão indecisa que comprou dois vestidos de noiva. E tão decidida que avisou a todos os convidados que o casamento seria em uma quarta, mesmo sem conferir com o cartório. (Que acabou de ressaltar que, casamentos, só às terças e sábados)

quarta-feira, 2 de março de 2011

esperando o inverno

Às vezes eu esqueço o porquê de ter gostado tanto de São Paulo quando me mudei pra cá. Mas eu só esqueço no verão, porque quando chega o inverno eu me lembro.

Foi assim: no meu primeiro inverno, eu estava apaixonada e não tinha a menor ideia do que era um inverno. Eu tinha pouco dinheiro e nenhuma blusa de frio. Comia miojo quando chegava em casa ou então ia para algum bar fazer o milagre da multiplicação das cervejas. Era bom e eu tinha poucas preocupações porque tinha poucas coisas.

Mal posso esperar o inverno de 2011, se é que ele vai vir. É no inverno que São Paulo se revela mais. As pessoas ficam mais sozinhas, tudo fica mais cinza e triste, as ruas ficam mais vazias, as imagens mais nítidas. Há sopa em todos os cantos. Há café e vinho, há toda uma cultura do recolhimento.

Eu odeio o frio. Odeio inverno. Mas gosto do inverno aqui porque ele exacerba tudo o que São Paulo tem de autêntico e de seu. E eu sempre, sempre, tenho a mesma sensação do primeiro inverno: pobre, apaixonado e milagreiro.


* é no inverno que as mulheres ficam mais elegantes, já dizia um velho não tão sábio.

terça-feira, 1 de março de 2011

2011 e o Imposto de Renda

Dessa vez ela chegou bem rápido. Nem sei se vai demorar pra passar, porque afinal de contas as coisas em volta não ajudam.

Eu já sabia que o ano ia ser uma bosta mas não sabia que ele ia se revelar ENQUANTO ANO BOSTA tão rápido. Odeio esses anos ímpares. Pra mim, são anos em que se trabalha muito e se vê muito pouco do resultado do trabalho. Aí os anos pares são aquela beleza, né. Só recompensa. Pelo menos pra mim. Eu criei aquele ranço dos anos ímpares porque sei que são anos difíceis, em que eu vou reclamar, sofrer, cansar. No final passou o ano e eu lá acariciando a depressão. Tô super acariciando. Pra ter uma ideia, eu quero ir pra casa fazer o meu imposto de renda. Ano passado eu queria ir pro bar. Tenho convite pro bar e me obrigo a ir, e sei que no final vai ser bom, mas né. O imposto de renda me esperando em casa. E eu ansiosa pra saber se, afinal, tem ou não tem restituição.

* Caralho. Eu tô na semana do meu aniversário, é uma semana que eu adoro. E eu tô aqui morrendo, me afogando no vômito da autocomiseração. Que ridículo.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

segunda-feira

Depois de três semanas sem um final de semana livre, um domingo que seja, com plantão marcado para o próximo (que é carnaval e meu aniversário também), me bateu um enorme desânimo da vida. De lutar sem saber o motivo.

Eu sei que vai passar e depois de algumas noites bem dormidas eu vou continuar lutando como sempre. Mas esse dia de hoje, cinza, sem dinheiro, cheia de coisas pra fazer, com poucas perspectivas de que 2011 seja um ano bom, é de desanimar qualquer usuário de Prozac.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

e antes que eu me esqueça

eu queria falar sobre isso
sobre como o mundo ficou chato de repente. e as pessoas se cobrando tanto por serem felizes.
só que ser feliz (segundo essa concepção de mundo) envolve:

- ser magro (não comer)
- ser trabalhador(não se divertir)
- ser eficiente, fiel e leal (não se permitir erros)
- ser generoso e sustentável (não ser egoísta)
- ser saudável e sóbrio (e não ter o prazer do pé na jaca)

e por aí vai a lista que nunca acaba
e se ser feliz envolve negar coisas que nos tornam mais felizes...qual o sentido?

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Vislumbrando uma carreira post mortem

Tem uma época do mês em que eu fico maluca, né. Pirada mesmo.
É bem nessa época que eu escrevo melhor, confirmando a teoria de que os loucos são geniais. Tenho as ideias mais incríveis, mesmo sem ter pra quem mostrar.

Há quase um ano, quando passei um mês fora e fiquei maluca praticamente os 30 dias corridos, eu comecei a escrever um livro. A personagem principal era um alter-ego que me fez bem demais porque ela deu vida à minha imaginação e às coisas que eu não fiz porque, vejam bem, limites físicos e morais. Imagine que sou uma pessoa com limites morais bastante liberais. Limites esses que a minha personagem ignorou completamente e foi BASTANTE além.

Foram vários capítulos com histórias que podem ser bem melhoradas. Mas muito legais. E todo mês, bem na época dos surtos, sinto vontade de escrever sobre ela, só pra poder liberar um pouco o que a minha limitação moral não me permite. Vai ser a minha obra-prima só publicada depois que eu morrer, hohoho.

E olha que eu nem vou ter vergonha de ter escrito tanta putaria.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

on fire

Irritação é o meu nome do meio, então prepare-se.

1. estou irritada com erros de revisão. Erros de ortografia me deixam louca. Erros de revisão igualmente. Eu estou com ganas de arrancar o aviso que a síndica semi-analfabeta colocou no elevador e torturá-la até ela confessar que não sabe usar vírgulas. SÍNDICO TEM QUE SABER ESCREVER, GENTE, É TIPO SEGUNDO GRAU COMPLETO.

2. não aguento mais esse lugar que chove. Ontem eu saí da yoga e estava super tranquila, caminhei calmamente pela chuva até o longínquo ponto de ônibus, as pessoas me olhavam como se eu fosse um fantasma lambido (eu estava de camiseta branca, viva o top que me salvou). Aí chego em casa linda, troco de roupa, vou no supermercado e adivinha? UM CAMINHÃO PASSA NA POÇA E ME ENCHARCA, BEIJOS.

3. eu quero ter o direito de estar mal-humorada. Quero ter o direito de ter as minhas piadas devidamente entendidas. Quero ter o direito de reclamar que as coisas estão mais caras que nunca. E quero ter o direito de reclamar e continuar sendo uma pessoa feliz. Acontece a cada 457 anos.

4. eu ia escrever uma quarta coisa mas tenho medo que os envolvidos leiam. Sim, eu tenho mania de perseguição.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Minha guerra contra os travessões

Os travessões não servem apenas para os diálogos. Eles servem para explicar coisas que vem a seguir - como essa, por exemplo.

Os travessões eram bons amigos. Até um dia em que li vários textos meus e desobri que eles são os melhores amigos. Eles estão presentes em quase todos os textos que eu escrevo. Me deu raiva ver uma figurinha fácil assim. Como se eu tivesse uma muleta, uma fórmula que funciona sempre chamada travessão. Um vício.

E aí que eu entrei em processo de desintoxicação dos travessões. Presto bastante atenção quando vou escrever para não cair na tentação de usar um deles. Hoje tive uma semi-vitória: escrevi um texto enorme sem nenhum travessão. Mas usei dois pontos. Estou tentando não trocar um vício por outro, mas sabem como são os compulsivos. Terríveis.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

mood

Sabe o que me incomoda tanto em pagar contas? Não é o dinheiro, eu não ligo pra dinheiro. Tanto que poderia ser uma semi-mendiga se tivesse um bandejão, um albergue pra dormir e cinema grátis ou poderia ser também uma milionária perdulária. É indiferente.

O que me incomoda em pagar contas é que elas chegam no meu endereço. Elas sabem quem eu sou. Elas conhecem meus hábitos de consumo, as pessoas que importam pra mim, se eu gosto de viajar e até mesmo os momentos mais ociosos do meu dia. Elas são tipo as minhas melhores amigas pra quem eu dou dinheiro regularmente. E eu não sei nada sobre elas. As contas carimbam a burocracia na minha cara todo dia, controlam tudo o que eu faço e AI DE MIM se atrasar um dia o meu compromisso religioso com elas. Elas literalmente fodem com a minha vida.

Contas são tipo contratos, são pequenos tentáculos que te prendem a coisas e pessoas a que normalmente você não quer estar preso.

Continuo em busca de um terapeuta.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

terapia online

Quem assiste TV hoje em dia? Eu não assisto. Só pra ver alguns seriados ou então deixar a TV ligada enquanto você toma café da manhã, sem prestar muita atenção no que é dito, porque, né. SONO.

O fato é que eu uso internet. E eu vi uma notícia de uma menina que foi traída pelo marido durante um reality show de troca de famílias. Achei a notícia pitoresca e, como eu amo coisas pitorescas, fui lá pra saber mais.

Resultado: que fiquei obcecada por essa história. Assisti ao programa procurando pistas da traição (Bentinho feelings), sonhei com essa porcaria, fiquei pensando na possível vida marital dos casais envolvidos, digito o nome da nega no Google e quero saber mais. Tipo Caso Isabella do reality show.

Agora o que eu não entendo é o que essa história tem de tão incrível, visto que as pessoas se traem todo dia, eu não assisto reality show, não conheço os personagens em questão e obviamente se trata de um universo paralelo ao meu. Fica a pergunta pra um possível terapeuta, né.

* Será que é medo de ser traída? Que loucura, porque eu pensei bastante sobre isso e cheguei a uma conclusão de que pode ser, porém não, mas talvez etc

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

dia 4 de fevereiro

eu estou precisando muito daquela sensação de que se está indo no rumo certo.

no momento, a única coisa que consigo sentir é solidão (e medo de esquecer de pagar alguma conta)

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Oi, meu nome é Vívian

e eu largo os textos do blog pela metade porque tenho preguiça de continuar, beijos.

A lucianohuckzação do Brasil

Eu gosto médio do programa do Lobão. Acho que ele fala demais, que é muito confuso e que ele não consegue verbalizar a maior parte das coisas que ele pensa de uma forma inteligível. Acho que foi por isso que o programa foi cancelado, né. Motivos óbvios.

Mas ele deu uma entrevista essa semana que eu achei muito legal. E, óbvio, tem muitas coisas que ele fala que eu curto de verdade. Uma delas é essa crítica ao politicamente correto, que é muito antiga, desde que o politicamente correto existe. Mas ele dá um olhar muito legal pra essas coisas.

Ele falou acho que pensando na capa da Veja dessa semana, que coloca o casal Huck como representantes da era do bom-mocismo. E ele falou que tá muito limpinha a coisa, as pessoas só ficam se elogiando, ninguém critica nada, não há debate e quando é, é agressão.

Gostei demais. Gostei inclusive porque eu sou uma daquelas que confunde debate com agressividade. Eu sou totalmente fruto dessa geração do politicamente correto, eu separo o lixo, chego sempre na hora, respeito os velhinhos e pago as contas em dia. Não gosto de chatear as pessoas e sou fofa.

Mas é um saco mesmo esse negócio de bom-mocismo. De não poder fumar na TV e nem falar palavrão. De não poder falar mal de alguém com medo de ser processado ou julgado pela opinião pública. Como se a vida fosse uma novela do Manoel Carlos e todo mundo fosse herdeiro bronzeado pelo sol do Leblon.

E aí a gente vê coisas dos anos 80 e lembra que houve tempos em que isso tudo fazia bem pouco sentido. Experimente você pegar um Roda Viva dessa época em que mal se vê o entrevistado sob toda aquela cortina de fumaça.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Confusa

E aí que eu vi essa história de uma menina de uns 30 anos que a cada 7 anos faz um ano sabático. Ela trabalha durante sete anos e no outro ano tira um sabático. E é jornalista, vejam bem.

Eu amo e ao mesmo tempo odeio esse tipo de história. Pelo mesmo motivo: porque saber que isso existe mostra que é possível. E que existem pessoas com propósitos de vida que ultrapassam o próximo fim de semana. E que existem pessoas que sacrificam suas finanças durante sete anos (o que, para um jornalista, é deveras sacrificante) para viver um ano em um outro lugar fazendo outra coisa absurdamente diferente. E que essa pessoa provavelmente abdicou de outros sonhos como comprar uma casa, ter filhos ou até mesmo poder se aposentar algum dia.

Ou então ela é rica mesmo e eu estou aqui fazendo papel de idiota.

Sem mais.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Só podia ser um Rosa

"Tudo que muda a vida vem quieto no escuro, sem preparos de avisar"
(João Guimarães Rosa)

Agora eu estou com essa mania de Guimarães Rosa. Apesar de ter que estudar, de ter que terminar minha monografia, de ter que limpar a casa, fazer as coisas sérias, eu, auto-sabotadora profissional, vou assistir a seriados, vou a restaurantes e ao cinema.

Mas o meu segredo, o mais querido, amado e guardado de todos: antes de dormir, eu pego o meu Grande Sertão: Veredas de cabeceira, leio meia página ou apenas uma frase e ganho o dia, a semana, o ano inteiro.

E sempre tenho vontade de chorar de plenitude com sabedoria tão simples.