quarta-feira, 8 de junho de 2011

blasé

Era assim: eu cheguei e me deslumbrei com os prédios enormes, a diversidade das pessoas, o anonimato. Me emocionava com isso, com as tribos, com o fato de ser diferente e normal. Achava engraçado as caras de enfado no metrô, já que se tinha tanta coisa pra ver. Por que aquelas caras?

Aí eu fui vivendo. Percebi, primeiro, que olhar as pessoas no metrô podia parecer uma afronta, podia parecer uma paquera. Fiquei mais contida, mas ainda assim curiosa.

Depois fui me acostumando. Minha mãe vem pra cá e quase arranca o meu braço quando vê um monte de japonês na Liberdade, vários casais gays na Paulista, um cara de cabelo verde e piercings espalhados pela cara toda. Eu, que vejo dezenas de tipos diferentes todos os dias, não acho nada demais.

Não há nada mais pra se olhar no metrô, agora. Talvez a TV metrô, talvez a roupa de alguém, mas nada muito especial. Os assuntos estão tão rasos, meus amigos conhecem todos os trending topics do twitter, o último tumblr, todos deram o último furo e fizeram a melhor piada sobre ele.

E é nessa hora que eu percebo que eu virei blasé. Eu ganhei aquela cara de enfado que eu não entendia quando olhava todas aquelas pessoas no metrô. E, eu não sei como, não consigo deixar de relacionar isso com uma produtora de TV que conheci, que só se animava com uma pauta quando ela tinha várias mortes. Porque carnificina, sim, é que é pauta.

E fatalmente chego a uma conclusão de que uma vida com emoção demais torna a gente cada vez menos humano. Espero, de verdade, estar errada.

Um comentário:

  1. Bom, mas daí vivemos no dilema estilo Tostines: melhor viver sem emoção quase nunca para aproveitar bem uma delas, ou melhor ter emoções frequentes (e frenéticas) para não curtir nenhuma? Eu acho que, você como eu, no fundo no fundo, se satisfaz no enfado e prefere as emoções diárias...

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