quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Eu e a quinta série

Estamos numa eterna quinta série. A vida nos trata assim: com avaliações, fofoquinhas, disputas inúteis e joguinhos típicos dos 11 anos. Comigo nunca funciona, nunca funcionou, nem na quinta série. Eu sempre fui direta demais pra isso. Quando gostava de um menino, ele sabia que eu gostava. Algumas vezes eu falava. Outras eu simplesmente me fazia entender. Aos 5 anos eu beijei um menino que gostava. Sou assim e sempre me ferrei porque não me encaixei no quinta série way of life.

Não sei porque estou escrevendo isso. Talvez porque tenha acabado de voltar de férias e esteja naquele momento fundo do poço/ressaca, em que tudo lindo e legal que aconteceu já não vale mais e a vida é uma merda. Visitando o site da ONU e querendo ser voluntária. Revendo todas as coisas, como eu faço todos os anos.

Minha incapacidade de jogar o jogo da quinta série não me torna idiota, porém. Sei que há coisas que não posso falar. A necessidade de guardar dinheiro para meu próximo projeto pessoal não me permite que eu saia chutando o balde. Me sobra a angústia, o tédio e o desamor. E hoje eu senti que preciso de um remédio para lidar com tudo isso. E me odiei pra caramba, porque eu sei que esse remédio vai me tornar menos eu. Mais quinta série.

O que me leva ao momento em que parei de tomar pílula. Foi engraçado sentir aquele turbilhão de coisas, vontades, emoções, altos e baixos. "Porra, sou eu de novo", foi o que pensei. E era eu mesma. Só que, né, eu. As pessoas me chamam de louca. Sou impulsiva, aventureira, boca suja. Vou pra frente. Não fico tímida, não mais. Assusto às vezes, muitas vezes. Com a pílula, aquela coisa que me continha e equilibrava meus desejos e humores, era mais fácil. Passei 4 anos sendo eu. Até o momento em que me dei conta que não dava. Que era preciso um remédio que me tornasse um pouco menos eu, para que a vida fosse mais leve e menos suicida.

Hoje tomo pílula. E já não estou dando conta. Quero colocar mais um remedinho aí na fatura. Seja porque eu estou ficando cada vez mais selvagem, o bicho enjaulado que quer comer o braço do menino, seja porque o mundo tá jaula demais pra mim.

Queria entender. Fui burra demais pra não aprender noções básicas aos 11 anos. E talvez nunca aprenda, né.





terça-feira, 29 de julho de 2014

Eu to tão chata, mas tão chata que...

Vou escrever em forma de pequenas frases raivosas.

- Gente que subestima os outros. Tem uma pessoa que eu conheço que é assim: "ah, Fulano saiu daqui pra trabalhar no concorrente, é um bosta", "quem é Fulana de tal? Uma empreendedora que ganhou milhões com uma start up no Vale do Silício? Aposto que não tem conteúdo. A gente é melhor que ela". Juro, gente. Juro. Subestimar os outros é o erro número 1 que você pode cometer na vida.

- Gente que só acha que existe ela no mundo. Gente egoísta, cara. Esse povo do trânsito que acha que só eles têm direito. Que tem nojinho de transporte coletivo porque "tem outras pessoas". Que critica qualquer coisa que ocupe um espaço que ele considera dele. Chego a ter cólicas.

- Não quero que me adicionem no Facebook. Quero menos gente. Quero ser eu um pouco, sabe. Facebook que tem a Tia Flau, a secretária da minha chefe na Inglaterra, uma mina que eu conheci um dia e nunca mais vi e a minha amiga de infância quando eu tinha 12 anos não funciona. Tento compensar isso postando coisas aleatórias e herméticas. Não funciona porque eles curtem tudo e comentam: "TOP"

- Vou tirar férias semana que vem. Quero desligar o celular. Vou pro deserto. Mas volto. Acho.

Momento feliz e efêmero:
- Comprei um móvel LINDO que é igual o masp. O nome dele é Rack Masp. Ele é vermelho e lindo e acomodou minha coleção de copinhos de cachaça. <3 p="">

terça-feira, 1 de julho de 2014

Não vou falar de Copa

Mas de certa forma, vou. Ontem o Suárez (meu parente, hehe) pediu desculpas pelo que fez, de ter dado a mordida no italiano. Disse que não voltará mais a fazer e etc. Achei legal demais, principalmente porque ele negou mil vezes que tinha mordido. Não voltou atrás. Acho que foi pressionado pelo clube ou alguém "importante", sei lá. Mas pediu desculpas, falou que tava errado e tal.

A merda dessa nossa cultura (nem sei de onde vem isso, porque não conheço uma só cultura que não tenha isso) é nunca podermos voltar atrás. Mudar de ideia é uma vergonha. Reconhecer que fez merda. Que não pensou direito e foi lá fazer sem saber. Na semana passada mesmo fiquei puta porque um fornecedor disse que se enrolou com a agenda da Copa e não conseguiu ver um negócio que eu pedi pra ele. Foi sincero, sabe. A grande maioria daria um migué qualquer e fingiria que está fazendo. Mentiria só pra não revelar a fraqueza.

Como a gente cobra essas coisas dos outros, acaba internalizando também, né. Vejo isso na política. Os debates podres que rolam na internet. Se a pessoa reavalia o seu pensamento, se repensa suas ideias, é fraca. Se admite que errou, também. É ruim isso, né. Impede a gente de crescer.

Outro dia o Victor falou um negócio tão lindo pra mim (como eu amo esse homem) que uma coisa que ele gostava no nosso relacionamento era o fato de pensarmos diferente. Que eu desafio ele o tempo todo. A repensar as verdades dele. E a melhorar como ser humano, e tal. Quase morri de amor, mas isso não vem ao caso. Queria que mais pessoas pensassem assim, que é possível voltar atrás, pedir desculpa, mudar de ideia, sem ser um banana ou um fraco. É uma bobeira, né, mas ia fazer diferença no mundo, eu acho.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Gentileza gera...ops

Quando eu fui morar fora, li tratados, matérias e mil blogs sobre como as pessoas são, como tratá-las, cultura e etc. Queria chegar lá causando o menor impacto possível, ser educada, me adaptar e tal. Acho que fiz bem. Me preparei, por exemplo, para o fato de os holandeses serem tão diretos que beiram a falta de educação. Não me ofendi com nada, apesar de ter levado várias "patadas".

Outra coisa que aprendi foi que os nórdicos detestam ser ajudados sem pedir. Por exemplo, se uma velhinha está tentando atravessar a rua ou carregar compras, NÃO ofereça ajuda. Eles têm um senso de independência muito forte e querem fazer tudo sozinhos. Se não conseguirem, pedem ajuda, e isso pra eles é muito difícil. O que aqui é educação, lá é humilhação pública.

O que me leva à minha total identificação pessoal com a velhinha nórdica. Além de detestar pedir ajuda, eu fico puta pacarai quando querem me ajudar sem que eu precise.

Bom, tudo isso aí em cima foi para desabafar sobre um fato muito recorrente em minha insignificante vida. Eu tenho um colega de trabalho tão legal, mas tão legal que eu chego a ter dó. Porque ele é o tipo da pessoa que pode oferecer um rim pra um desconhecido. É o altruísta universal - que me ajuda, me dá caronas, quebra mil galhos e etc. Não tô reclamando. Só que essa pessoa legal me irrita deverasmente quando passa dos limites da ajuda média (que seria dar carona, por exemplo). Ele chega ao ponto de oferecer dinheiro para coisas totalmente desnecessárias, ofereceu o salão de festas do prédio dele para meu marido (que ele não conhece) fazer uma festa com os amigos dele. É, nesse nível.

Diálogos comuns:

(eu) - Putz, esqueci de transferir o pagamento para a conta da minha professora.
(ele) - Você quer que eu pague pra você? Eu transfiro agora.
(eu) - Mano, sério. Qual a diferença entre dever pra ela e dever pra você?

(eu) - Vou pedir um táxi. Será que 45 reais dá pra chegar lá?
(ele) - Dá sim, com certeza. Mas você quer que eu te empreste uma folha de cheque?
(eu) - Não, eu tenho cartão de crédito. Vou pedir pelo aplicativo.

Essa gentileza toda me irrita um tanto. Mas um tanto. Porque assim, eu não quero ajuda, pô. Se eu precisar eu peço. Mas não quero.

Eu sei que posso estar exagerando. Certamente estou. Nunca pedi dinheiro pros meus pais depois que vim pra SP - e olha que eu ganhava BEM pouco. Fico irritada quando amigos tentam me proteger do assédio de outros caras (sei falar e dar foras sozinha, tks). Mas é que eu acho que até pra ajudar os outros tem limite.

Reflitam: o poeta Gentileza pode estar errado.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Vida-game

Foi assim: uma amiga reclamando que vivia irritada, que a vontade dela era espancar as pessoas. Sem motivo. Eu me identifico, gente, porque consigo perder a paciência com o ser mais puro e bonzinho do mundo. Agora imaginem a sensação com quem me irrita de propósito. Instintos assassinos.
Daí que eu comecei a falar pra ela:
"  vc precisa ter mais perspectiva sobre a sua vida
vc tá muito mergulhada nesses seus problemas cotidianos
MBA, trabalho, hômi, falta de grana
e aí vc vive isso, isso te consome e vc não consegue pensar em mais nada
na sua vidano que vc quer, o que vc deseja, seus sonhos, suas aspirações, sobre quem é você
seus amigos, pô
a gente precisa se ver, cara
a vida da gente virou um video game em que o próximo passo é passar de fase"

Ela falou: amiga, que bonito isso. Video game. Hahahaha, cagamos de rir. Video fucking game.
Eu falei do fundo do coração, gente. Acho a analogia super válida, mas foi engraçado na hora e etc.



Mas eu acho isso mesmo e continuo pensando.
Quando é que a gente vai sair dessa, gente? Todos nós, eu digo.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Existencialismo de primeira página

Eu estou lendo Sartre, "A Náusea". Confesso que comecei a ler porque achei chique ler Sartre - e porque li "A Idade da Razão" há um tempo e gostei. Bom, o fato é que estou lendo e gostando muito.

Aí fui falar pro Victor, que é acadêmico, cabeção e tal, sobre o livro. Li uma frase lá que achei de impacto e comecei a explicar o livro, tentando definir de alguma forma o existencialismo que ele coloca no livro, através do personagem. Falhei. Falhei vergonhosamente, horrivelmente. Falhei de forma humilhante e dolorida. Não consegui explicar o conceito e só consegui descrever umas cenas lá em que ele dá uma canivetada na mão.

Essa falha foi tão ridícula que me fez lembrar de algumas coisas:

- 2002, faculdade de Comunicação, aula de semiótica. Fui a última da turma a entender "que porra é essa que esse cara tá falando". Sério, levei dois meses para começar a juntar uma palavra com a outra e formar uma ideia. Falhei vergonhosamente (mas passei na matéria, rs)

- 2014, USP, numa matéria equivocada que resolvi acompanhar como ouvinte. Tive que ler textos com conceitos aleatoriamente abstratos, sofri por não entender nada, escondi isso de toda a turma, mas na hora de propor um projeto de pesquisa pra fessora como trabalho final, falhei miseravelmente. Ela falou que aquilo não tinha nada a ver com a matéria e eu nunca mais voltei pra aula.

O que me leva a: não consigo entender conceitos abstratos, gente. De alguma forma eu consigo sentir e experimentar, acho até bonito quando leio. Mas não consigo entender. Sequer explicar pra alguém. Sou jornalista e penso em fatos, acontecimentos. Sei contar histórias. Sei reproduzir falas.

Digamos que eu sou um papagaio de luxo. Ou talvez nem isso, né. Quanto custa um papagaio?

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Eu nem gosto de Clube da Esquina

Mas preciso ser mais Maria. Ter gana raça fé na vida, sonho sempre e tal.

A gente tem mania de querer que as coisas boas pulem na nossa frente. E ó, logo eu que sempre corri atrás delas. No fundo, tudo o que eu posso concluir é que SP me acostumou mal.

Como se eu pudesse culpar SP.

O fato é que estou aqui e não vou sair tão cedo, mas sou uma velha coroca reclamona botando toda a culpa nessa metrópole fedida onde...

1- Trabalhei com mil coisas legais

2- Conheci mil pessoas legais

3- Conheci o meu amor (óin)

4- Virei gente, perdi preconceitos, ganhei dinheiro, abri a cabeça

SP me levou a todos os caminhos possíveis. E agora que ela está aqui, agonizando sem água (seria águanizando?), eu não quero mais brincar.

veja bem

Várias pessoas não querem mais brincar. E há 8 anos, todos os fucking dias só o que eu ouço é falarem mal de SP. Uma hora a gente entra na onda e começa a falar mal também, né. Afinal, é tendência - falar mal de SP é mais popular que a coxinha do Veloso, o sanduíche do Estadão, o Bauru do Ponto Chic.

Eu amo SP de um jeito bem estranho. Mas amo. Acho.