terça-feira, 16 de agosto de 2011

os incríveis

Eu sempre quis ser uma pessoa incrível. Na pré-adolescência, achava que ser incrível era usar roupas com marcas legais, ter cabelos sedosos e aloirados, uma altura suficientemente aceitável e peitos. Nessa época, eu tinha um leve bigodinho que já começava a me apavorar, pernas finas como dois gravetos e duas blusas de frio, que eram rigorosamente alternadas. Fracasso define.

Depois, lá pros 15 anos, eu comecei a achar que ser incrível era ter amigos muito doidões e ouvir músicas muito doidonas, conhecer gente diferente e participar de suas vidas. Eu queria ser popular e engraçada, mas só conseguia ficar meio quieta ouvindo o que as pessoas incríveis tinham a dizer, com episódios agudos de impulsividade insensata. O bigode eu já não tinha mais, mas as roupas eram duramente batalhadas nas promoções pela minha mãe.

Quando eu saí da faculdade e comecei a trabalhar, passei a me achar um pouco mais incrível: eu era foca e batalhadora, fazia matérias muito legais e corria toda a cidade ouvindo um rádio de polícia. Virei meio malaca e, por ser a repórter mais nova de todo o edifício, acabei me tornando uma mistura freak de mascote e ninfeta. E comprava algumas roupas pra mim, obviamente na promoção.

Vir pra SP me deixou ainda mais confiante: eu tinha 23 anos, nenhum dinheiro, mas estava animada com o fato de não morar mais com minha mãe, pela recém-solteirice e pelo anonimato. Mas as meninas incríveis mesmo moravam em Perdizes, iam pra baladas caras e tinham roupas bem mais legais que as minhas.

Hoje eu meio que perdi a esperança. Eu tenho umas roupas mais legais, outras menos e celulites que me incomodam muito. Muita vontade de enlouquecer na noite, mas pouco dinheiro, pouca companhia e, no fundo, pouca disposição. Tenho um trabalho legal onde continuo a ser uma das mais novas, um marido bacana e inteligentão e duas aulas de ioga por semana. Confesso que tá longe do que eu chamaria de incrível, mas pelo menos tamos aí pagando as contas e degustando pílulas periódicas de diversão.

E o meu conceito de incrível, quem diria, se tornou bastante elástico: pessoas que me façam rir. São as melhores.

2 comentários: