segunda-feira, 11 de abril de 2011

o meu amigo de cartas

Eu tinha um amigo de cartas na adolescência. Era assim: a gente nem era amigo de verdade. Quando estávamos juntos, não tínhamos assunto - ficávamos meio constrangidos, meio calados, e era isso. Mas aí eu me mudei de cidade, a contragosto, e começamos a trocar correspondência. Ele escrevia poesia, eu escrevia reflexões e filosofias sobre a vida. Muito adulto, por sinal (COF). Isso durou pouco, meses, até que a adolescência chegasse de verdade e eu passasse a me dedicar à esbórnia.

Hoje eu pensei nele e em como eu sinto falta de ter um amigo de cartas. Porque não faz mais sentido você escrever sobre como está sendo a sua vida pras pessoas, tem o email, o twitter, tá barato ligar de tim pra tim, né, então carta virou um negócio meio inútil, a não ser que seja pra filosofar. Aí sim seria legal.

Bom, voltando ao meu amigo. Ele era um cara estranho. Não o tipo de estranho que sofresse bullying. Ele era esquisito mas tinha o cabelo comprido e entendia muito de rock. E escrevia poesias. Era feio, mas nada que o prejudicasse demais. Era tímido, mas isso não o impedia de conviver com as pessoas. O pai dele era dono de um pequeno armazém, ele tinha muitos irmãos, era de uma família pobre, mas não era uma coisa que destoava do resto da cidade. Era um cara legal.

Fiquei torcendo de verdade pra que ele tenha saído de lá. Porque gente como ele não sobrevive num lugar como aquele. Se tem uma coisa que pode acabar com a autenticidade e a individualidade de uma criança é crescer numa cidade pequena. Espero que ele tenha encontrado um tipo de vida que tivesse mais a ver. Aí, quem sabe, a gente poderia trocar umas cartas, falando sobre essas coisas todas. Poesias, filosofias, sei lá.

Um comentário:

  1. Nossa Vi...vc me fez lembrar de uma fase da minha vida em que trocava cartas. MAs diferente de você, eu não conhecia mesmo a pessoa pessoalmente.

    No colegial, eu passei a me comunicar com o cara que sentava na mesma carteira que eu. Deixávamos os bilhetes num buraquinho dentro dela. Era tão mágico. Não rolava nada além de amizade. Era bem bacana. Um certo dia marcamos e nos conhecemos. Foi bem legal!

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