E ele fica lá, enorme, no meio da sala. Eu faço ioga e ele me olha, estou no computador e ele dá uma trombada em mim, e não sai mesmo quando mais pessoas estão em casa. E só eu percebo que ele está lá, elefando do nosso lado.
Até nos meus sorrisos, é como se estivesse escrito: e-l-e-f-a-n-t-e, uma letra em cada dente. É tudo mentira, gente, ninguém percebe?
Ontem eu li uma matéria sobre o quanto as pessoas estão usando cada vez mais remédios atidepressivos, pra dormir, pra acordar, sei lá o que. Pra aguentar a rotina. Pra ser feliz e normal enquanto trabalha, trepa, fica no trânsito, sai pra beber com os amigos, sorri e lava louça. Você faz tudo isso, menos saber. Menos ser e pensar o que você é. É difícil explicar mais burramente do que eu expliquei, mas é mais ou menos isso.
Eu lido com esse peso e essa dor de ser eu mesma faz ó, um tempão. Nunca quis falar sobre isso, nunca quis um remédio pra não ser isso. Eu escrevo às vezes, mas não quero fingir que o elefante não está lá. Eu quero comer o elefante, matá-lo num safári, quero ser engolida por ele. Qualquer coisa menor tomar uma bala mágica pra que ele se torne transparente ou vire um passarinho feliz.
Enfim, é isso, ele tá de volta, incomodando muita gente. E eu só preciso saber dividir espaço, ficar amiga dele ou convidá-lo a sair. Não tá fácil, viu.
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