Às vezes eu esqueço o porquê de ter gostado tanto de São Paulo quando me mudei pra cá. Mas eu só esqueço no verão, porque quando chega o inverno eu me lembro.
Foi assim: no meu primeiro inverno, eu estava apaixonada e não tinha a menor ideia do que era um inverno. Eu tinha pouco dinheiro e nenhuma blusa de frio. Comia miojo quando chegava em casa ou então ia para algum bar fazer o milagre da multiplicação das cervejas. Era bom e eu tinha poucas preocupações porque tinha poucas coisas.
Mal posso esperar o inverno de 2011, se é que ele vai vir. É no inverno que São Paulo se revela mais. As pessoas ficam mais sozinhas, tudo fica mais cinza e triste, as ruas ficam mais vazias, as imagens mais nítidas. Há sopa em todos os cantos. Há café e vinho, há toda uma cultura do recolhimento.
Eu odeio o frio. Odeio inverno. Mas gosto do inverno aqui porque ele exacerba tudo o que São Paulo tem de autêntico e de seu. E eu sempre, sempre, tenho a mesma sensação do primeiro inverno: pobre, apaixonado e milagreiro.
* é no inverno que as mulheres ficam mais elegantes, já dizia um velho não tão sábio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário