quinta-feira, 16 de abril de 2009

Compreensão

O homem já era velho e estava lá, naquela mesa, sentado entre jovens executivos de sucesso. Ele era um imigrante que venceu na vida e que já estava com fórmulas batidas demais para que alguém entendesse o que ele queria dizer.

Olhou para a platéia. Estudantes universitários, profissionais muito novos, cheios de vontade de encher os bolsos fazendo um MBA ou um curso qualquer que promova networking, que os torne hands on e mais outras bobagens corporativas.

Não reparou na menina impaciente de jaqueta jeans que acompanhava tudo de forma deslumbrada, sorvendo as gotas de sabedorias de papas de 30 anos que mostravam como vencer na vida tendo pai e mãe ricos. Ele não sabia que ela andava de ônibus e estava com vergonha das roupas que usava no meio de ternos.

Quando começou a falar, ela perdia a paciência com seus clichês de auto-confiança, auto-conhecimento e sua apresentação poluída e extravagante de power point. Não quis ouvir muito do que dizia, porque já era tarde e os pés dela, metidos em sandálias, estavam congelando naquele ar condicionado.

Quando saiu, não percebeu que ela se levantou correndo e foi ao banheiro, aliviada por aquilo ter acabado. Não soube que ela foi pra casa e chegou bem rápido, porque queria dormir um pouco antes de recomeçar o dia.

Ela compreendeu muito depois. E chorou ao pensar que estava se tornando uma máquina hand on, que pensava em ir a festas para fazer networking. E que não tinha idéia que, dividindo uma kitchenette com uma pessoa grande, contando moedinhas pra pegar o ônibus, era muito mais feliz que papas de 30 anos que não se lembravam dos pais e mães ricos.

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