Eu sempre fui desastrada. Esquecida. Desajeitada. Enrolada. Parte é pela minha genética fofa, parte pelo fato de eu ser canhota, parte inexplicada. E aí que eu nunca liguei muito pra isso, sempre fiz piada com o fato de o meu anjo da guarda ser o melhor e ficava meio brava quando as pessoas me chamavam pra realidade.
Só que um belo dia, mais precisamente no dia 07 de fevereiro, estava eu curtindo minha última semana de férias quando sofri o acidente mais ridículo da minha vida. Entrei numa loja, não vi direito onde pisei e caí de uma altura considerável. Bati as costas, a perna e trinquei a bacia. Fiquei duas semanas de repouso e me culpando mortalmente por não ser mais cuidadosa.
O bom de ter ficado essas duas semanas em casa, além das visitas e dos mimos que recebi, foi entender que eu nunca, jamais, em tempo algum, posso passar tantos dias sozinha. Eu sempre achei que o melhor emprego do mundo era trabalhar de casa, frilando e organizando meu horário como quiser. Defendi o home office com unhas e dentes. Mas não, minha gente. Ficar em casa (e eu cheguei a semi-trabalhar uns dois dias) só me tornou mais louca, descontrolada, deprimida e ansiosa.
Gente faz falta. Faz falta reclamar de alguém, ficar irritada com o colega que grita, fofocar na hora do almoço, fazer uma piada com a pessoa que tá do lado, ouvir um cochicho na outra mesa. Dar risada da roupa ou do cabelo de alguém que veio trabalhar mais inspirado. Resmungar do outro que fez corpo mole e não quis te ajudar. Levantar pra pegar uma água e dar uma olhada geral no que tá rolando no escritório.
Esta semana vim trabalhar com o maior sorriso e ninguém está entendendo nada, porque estou convalescente, meio mancando e devia querer descansar. E, juro, termino o dia desejando loucamente a minha casa. A diferença é que eu cheguei à conclusão de que aquela sensação de "que saco trabalhar" é até que gostosinha. Faz bem e alimenta a alma ter algo do que reclamar quando se chega em casa. (Além da parte boa, mas se esse blog fosse de partes boas ele não teria esse nome, né.)
terça-feira, 28 de fevereiro de 2012
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012
coaching para mendigos
Eu tenho um ~~~~amigo~~~~ no meu ponto de ônibus (chamá-lo de meu é total licença poética, porque o ponto fica na Paulista, mas é o que eu uso então é meu).
Todos os fucking dias o jovem senhor aborda todas as fucking pessoas que estão no ponto para pedir dinheiro. Só que é assim: ele sofreu um avc ou derrame ou sei lá e fala BEM DEVAGAR. E ele aborda as pessoas assim:
- Bom dia. (velocidade menos cinco, gente, sério, o bom dia dele dura uns 15 segundos)
- Bom dia.(e vc tem que responder, né, bom dia também)
- Obrigado pelo seu bom dia. Eu fico muito feliz por você me dar atenção. Vou falar com você porque eu não aguento mais a minha vida. Eu sofro porque eu tenho uma filha de cinco anos que chora de fome todo dia e eu estou aqui vendendo essas balinhas...(e conta a história mais longa da vida na velocidade mais lenta da vida)
A questão é que eu sou uma pessoa simpática. Trato ele muito bem e ouço todo dia a mesma história. Eu já dei dinheiro várias vezes, mas ele não se contenta com o dinheiro, se ele falar 'bom dia' e você der o dinheiro, ele não aceita, ele quer contar a historia. E se você diz "moço, ontem eu falei com você, lembra? já sei a história, toma o dinheiro", ele não aceita. Você tem que ouvir a fucking história todo dia senão ele fica ofendido. E quase nunca dá pra ouvir porque ele fala tão devagar que o ônibus sempre chega antes. E você deixa ele lá falando devagar e sozinho.
Eu me sinto mal, sabe? Por não ter paciência, por deixá-lo falando pra pegar meu ônibus, por dar logo a moeda pra ele antes de ele contar a história. Tá tão foda que eu tô quase mudando de ponto. Porque realmente a história é triste, mas eu já decorei tudo e ele não me dá nem a opção de pagar pra não ouvir tudo.
E tudo o que esse homem precisava era de um coaching de mendigos. Eu na minha breve experiência como caloura pedindo dinheiro daria vários toques incríveis: ponto de ônibus é um ótimo lugar porque as pessoas têm trocado (ponto pra ele!), velhinhas e senhorinhas são ótimas vítimas e é sempre bom ter um resumo da ópera pra não se cansar de contar a mesma história (a minha desculpa era: os veteranos malvados roubaram meu sapato e só vão devolver se eu der dinheiro pra eles).
OK, vou pro inferno, já sei.
Todos os fucking dias o jovem senhor aborda todas as fucking pessoas que estão no ponto para pedir dinheiro. Só que é assim: ele sofreu um avc ou derrame ou sei lá e fala BEM DEVAGAR. E ele aborda as pessoas assim:
- Bom dia. (velocidade menos cinco, gente, sério, o bom dia dele dura uns 15 segundos)
- Bom dia.(e vc tem que responder, né, bom dia também)
- Obrigado pelo seu bom dia. Eu fico muito feliz por você me dar atenção. Vou falar com você porque eu não aguento mais a minha vida. Eu sofro porque eu tenho uma filha de cinco anos que chora de fome todo dia e eu estou aqui vendendo essas balinhas...(e conta a história mais longa da vida na velocidade mais lenta da vida)
A questão é que eu sou uma pessoa simpática. Trato ele muito bem e ouço todo dia a mesma história. Eu já dei dinheiro várias vezes, mas ele não se contenta com o dinheiro, se ele falar 'bom dia' e você der o dinheiro, ele não aceita, ele quer contar a historia. E se você diz "moço, ontem eu falei com você, lembra? já sei a história, toma o dinheiro", ele não aceita. Você tem que ouvir a fucking história todo dia senão ele fica ofendido. E quase nunca dá pra ouvir porque ele fala tão devagar que o ônibus sempre chega antes. E você deixa ele lá falando devagar e sozinho.
Eu me sinto mal, sabe? Por não ter paciência, por deixá-lo falando pra pegar meu ônibus, por dar logo a moeda pra ele antes de ele contar a história. Tá tão foda que eu tô quase mudando de ponto. Porque realmente a história é triste, mas eu já decorei tudo e ele não me dá nem a opção de pagar pra não ouvir tudo.
E tudo o que esse homem precisava era de um coaching de mendigos. Eu na minha breve experiência como caloura pedindo dinheiro daria vários toques incríveis: ponto de ônibus é um ótimo lugar porque as pessoas têm trocado (ponto pra ele!), velhinhas e senhorinhas são ótimas vítimas e é sempre bom ter um resumo da ópera pra não se cansar de contar a mesma história (a minha desculpa era: os veteranos malvados roubaram meu sapato e só vão devolver se eu der dinheiro pra eles).
OK, vou pro inferno, já sei.
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