Olha só que coisa engraçada
Ouvi uma conversa furtiva no ponto de ônibus (que é, junto com o interior do ônibusm onde se ouvem as melhores conversas). Duas pessoas idosas relembrando os "bons tempos" da ditadura militar.
Na verdade, eles lamentavam e comentavam o quanto foi sofrido. Um deles, ex-PM, dizia ter matado muitos, "mas sem torturar". Arrastou o corpo de um bandido pelo asfalto. MAS NÃO TORTUROU.
Outra, ex-operária ou estudante, hoje é faxineira. A história dela eu não entendi bem, mas soube que ela ficou viúva muito jovem, rasparam a cabeça dela e ela teve que usar peruca. Ouvi alguns fragmentos e não soube entender bem quem era ela.
Mas foi dela a revelação chocante: em uma visita ao Mackenzie (pra quem não sabe, pólo de concentração de estudantes de direita em SP), ela encontrou Geraldo Vandré. Velhinho, mas ainda trabalhando. Como lavador de carros em um posto de gasolina na Martins Fontes.
Me deu uma tristeza enorme. Não pela ditadura em si, mas pelas mentalidades que ainda permanecem. Ou pela ingratidão de um país que trata tão mal seus artistas (os de verdade). Ou por ter a nítida sensação de que eu não faço absolutamente nada qe não seja tentar ganhar dinheiro e garantir a minha sobrevivência confortável.
Nenhum comentário:
Postar um comentário