sexta-feira, 6 de junho de 2014

Gentileza gera...ops

Quando eu fui morar fora, li tratados, matérias e mil blogs sobre como as pessoas são, como tratá-las, cultura e etc. Queria chegar lá causando o menor impacto possível, ser educada, me adaptar e tal. Acho que fiz bem. Me preparei, por exemplo, para o fato de os holandeses serem tão diretos que beiram a falta de educação. Não me ofendi com nada, apesar de ter levado várias "patadas".

Outra coisa que aprendi foi que os nórdicos detestam ser ajudados sem pedir. Por exemplo, se uma velhinha está tentando atravessar a rua ou carregar compras, NÃO ofereça ajuda. Eles têm um senso de independência muito forte e querem fazer tudo sozinhos. Se não conseguirem, pedem ajuda, e isso pra eles é muito difícil. O que aqui é educação, lá é humilhação pública.

O que me leva à minha total identificação pessoal com a velhinha nórdica. Além de detestar pedir ajuda, eu fico puta pacarai quando querem me ajudar sem que eu precise.

Bom, tudo isso aí em cima foi para desabafar sobre um fato muito recorrente em minha insignificante vida. Eu tenho um colega de trabalho tão legal, mas tão legal que eu chego a ter dó. Porque ele é o tipo da pessoa que pode oferecer um rim pra um desconhecido. É o altruísta universal - que me ajuda, me dá caronas, quebra mil galhos e etc. Não tô reclamando. Só que essa pessoa legal me irrita deverasmente quando passa dos limites da ajuda média (que seria dar carona, por exemplo). Ele chega ao ponto de oferecer dinheiro para coisas totalmente desnecessárias, ofereceu o salão de festas do prédio dele para meu marido (que ele não conhece) fazer uma festa com os amigos dele. É, nesse nível.

Diálogos comuns:

(eu) - Putz, esqueci de transferir o pagamento para a conta da minha professora.
(ele) - Você quer que eu pague pra você? Eu transfiro agora.
(eu) - Mano, sério. Qual a diferença entre dever pra ela e dever pra você?

(eu) - Vou pedir um táxi. Será que 45 reais dá pra chegar lá?
(ele) - Dá sim, com certeza. Mas você quer que eu te empreste uma folha de cheque?
(eu) - Não, eu tenho cartão de crédito. Vou pedir pelo aplicativo.

Essa gentileza toda me irrita um tanto. Mas um tanto. Porque assim, eu não quero ajuda, pô. Se eu precisar eu peço. Mas não quero.

Eu sei que posso estar exagerando. Certamente estou. Nunca pedi dinheiro pros meus pais depois que vim pra SP - e olha que eu ganhava BEM pouco. Fico irritada quando amigos tentam me proteger do assédio de outros caras (sei falar e dar foras sozinha, tks). Mas é que eu acho que até pra ajudar os outros tem limite.

Reflitam: o poeta Gentileza pode estar errado.

Um comentário:

  1. Isso me lembrou a antiga comu do Orkut "sou legal, não tô te dando mole", só que, no caso, acho que ele não é só legal, ele tá te dando mole.

    Também não suporto que me ajudem, preciso estar com um pé na cova e outro na casca de banana para pedir ajuda. Ou nem assim. Viva a Holanda!

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