quarta-feira, 30 de novembro de 2011

A metrópole

Não é fácil viver numa metrópole. Pra quem sempre viveu, talvez seja uma coisa orgânica, algo que não se pensa muito sobre. Para mim não. Eu penso nisso o tempo todo. Na verdade, viver numa metrópole tem sido o centro da minha vida desde que eu vim parar, meio sem querer, em São Paulo.

É um estilo de vida que eu adoro desde sempre, mas que ultimamente eu tenho aprendido a não gostar também. Eu nunca vou esquecer a frase de um amigo (paulistano nascido na Mooca, mas radicado em Juiz de Fora) que, cheio de carinho, me disse: "cuidado, magrela, essa cidade te engole". Na hora eu não prestei muita atenção, e nem nos anos seguintes, mas hoje, nossa, é uma fixação minha essa coisa de ser engolida.

Eu sou engolida com gosto. Incorporei gírias, mudei meu gosto por comida (passei a gostar de japonês, árabe, indiano, deixei de comer pizza com catchup, me viciei em hamburguerias), valorizo como nunca a diversidade (e aprendi a perder a cabeça com gente preconceituosa). Ando sempre apressada, discuto caminhos, preencho meu tempo, amo a Paulista, amo o centro. Não me perco mais. Uso as roupas que se usa aqui (e é só aqui mesmo, gente). Sou malvestida pro resto do Brasil, e como todo bom paulistano, não dou a mínima pro que pensam disso.

Eu vou à 'padoca', eu tomo uma 'breja', eu gosto de chopp com colarinho e sou exigente com todos os tipos de serviço. Reclamo do excesso de gente, descubro lugarezinhos exclusivos, me gabo de não pegar trânsito. Adoro andar sozinha e agora moro do lado da Augusta, com tudo de bom e tudo de ruim que isso possa trazer. Eu amo um paulistano, gente, e essa é a coisa mais óbvia que eu posso pensar pra traduzir o quanto eu sou parte disso tudo.

Eu só queria dizer que a metrópole me moldou. Que é meio parte da minha alegria e da minha tristeza. Porque nada mais solitário do que estar cercado de tanta gente. E dá pra sentir muito tédio com tanta coisa pra fazer. Tudo tão longe e tão perto ao mesmo tempo. Olha, é ser engolido com categoria.

E nesse fim de ano, e nessa hora de querer mais, e desejar, eu só consigo pensar em coisas boas pra metrópole. É isso. Boa sorte pra gente.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

amor

E nos momentos mais bizarros é que eu me dou conta do quanto estou apaixonada, e do quanto continuo boba com tudo o que ele me diz. O fato de ele me chamar na internet (porque ele quase nunca faz isso), quando ele me olha daquele jeito ou quando ele comenta que eu estou bonita. Quando ele faz uma dancinha boba ou me chama pra fazer alguma coisa só com ele. E isso porque a gente mora junto.

Pode ser meio estranho, pode ser uma pessoa se contentando com migalhas de atenção, pode ser qualquer coisa, mas eu chamo de amor mesmo.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

as horas

Eu devia ter uns vinte anos, mais ou menos. Eu fui ao cinema assistir um dos poucos filmes 'fora do circuito' que passavam na cidade em que eu morava, se é que um filme com Meryl Streep e Nicole Kidman poderia ser considerado fora do circuito. O filme era "As Horas", e era melancólico e poderoso. Não é uma história que possa ser contada, e por isso não vou fazer isso.

Naquele dia uma coisa muito importante aconteceu. Eu saí na rua meio desorientada e não sabia porquê. Alguma coisa tinha acordado dentro de mim, e eu senti que não podia mais continuar com a vida que eu tinha. Naquele dia eu senti aquele esmagamento de alguém que de repente se dá conta do turbilhão do mundo, dos sentimentos, dos outros. Foi muito triste, mas ao mesmo tempo, libertador.

Eu acho que, naquela hora, começou a nascer a pessoa que eu sou hoje. Que não conseguiu mais viver com aquela inconformidade toda e precisou sair. Eu não consegui suportar aquela dor, e ela dói até hoje, e ainda sim eu não tenho a menor ideia do que se trata.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Deus não dá asa a cobra

Hoje na aula teve um texto sobre uma herdeira milionária que não gasta menos de 50 mil reais num vestido. E que não quer trabalhar nem fazer nada na vida além de compras.

Lá em Minas tem um ditado que diz: Deus não dá asa a cobra. O que é total verdade, porque eu cito sempre essa máxima com toda a convicção de que, se eu tivesse toda essa grana, eu ia dividir os gastos entre o financiamento das pesquisas para o teletransporte, o estudo infinito dos assuntos que eu amo e a leitura compulsiva de livros. E nunca, nunca mais, nunquinha, eu ia parar de viajar.

Não, não ia comprar uma casa milionária, nem roupas, nem joias, nem jiboias. Não ia fazer viagens espaciais nem nada que esses ricos excêntricos fazem. Eu ia ter uma casa na roça, lá em Minas, só pra me receber quando eu precisasse de um banho de cachoeira. Com um par de cavalos, uma pequena fábrica de queijo, uns pés de manga e um fogão a lenha. Pra que mais?

E de resto, ia vivendo assim, do jeito mais esquisito que alguém jamais imaginou. Dividindo a vida entre o sonho e os sonos.

Pra que mais?

instabilidade

Sou incapaz de lidar com a instabilidade alheia. Não que eu seja a pessoa mais estável do mundo (não sou), mas deixo os meus altos e baixos guardadinhos dentro do meu cérebro e/ou reservados para as pesquisas do Google. Isso significa que, no período de 24 horas, eu posso resolver fazer um mestrado, mudar para a Nova Zelândia para ser trabalhadora rural ou comprar uma bicicleta elétrica (é sério, essa é uma programação absolutamente normal do meu dia). Mas eu não sou idiota e nem sádica pra compartilhar todos esses pensamentos com os outros, especialmente com as pessoas que amo. Até porque eu sei muito bem que no dia seguinte serão outros planos, e outros, e outros, numa espiral esquizofrênica sem fim.

O fato de eu ser assim (indecisa AND sonhadora) não ajuda em nada para que eu seja mais compreensiva com as mudanças de ideia repentinas dos outros. O que quer dizer que, quando alguém me diz que está planejando fazer uma grande mudança em sua vida (e até mesmo uma pequena), eu me engajo no projeto, apoio, discuto o assunto e REALMENTE ACREDITO nos planos desse ser humano. O problema é que, no dia seguinte, a mesma pessoa muda de ideia e me conta um outro plano totalmente diferente do outro. E isso, pasmem, me mata de raiva.

É lógico que o problema é meu. Sei disso e continuo sentindo raiva da instabilidade na mesma medida, mesmo com essa consciência toda. O fato é que eu acho que as pessoas não calculam o impacto que causam na vida dos outros. Eu penso nisso o tempo todo, e talvez por esse motivo eu tenha essa péssima mania de resolver meus problemas sozinha. Porque não quero dar trabalho/causar preocupação nos outros.


Ou talvez eu seja apenas uma idiota mesmo.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Para poucos

Prólogo: Pensando seriamente em fazer um blog só sobre putaria. Porque o espaço aqui tá sendo pequeno...

Um dos filmes da Mostra de Cinema que eu vi ontem se chama "Para Poucos". É um francês muito bom que conta a história de dois casais que começam amigos e, logo no começo do filme, formam um "quadrado" amoroso. É uma relação muito interessante porque, como bons franceses, eles aparentemente lidam muito bem com o fato de que a mulher está transando com outro, desde que eles também participem comendo (ou dando para) alguém.

O legal do filme nem é isso. O interessante é observar como esse tipo de situação vai causando impacto sobre a autoestima, o ciúme e a relação de tdas as pessoas envolvidas. E você vai percebendo como cada um reage, vai vendo os limites e inseguranças, e acaba não sabendo bem onde começa o amor e onde termina o sexo. Se é que tem uma linha divisória, né.

No filme, a coisa foi evoluindo de um jeito que se tornou incômodo pra todo mundo. De repente, uma relação sem regras foi ficando cheia de segredos e de instruções sobre o que fazer e o que não fazer. A ponto de uma das mulheres ser proibida de encostar os pés no marido da outra. As pessoas sofrendo porque não conseguiam pensar em outra coisa a não ser no outro casal. E eles acabaram terminando, e a cena de término é sensacional. As duas mulheres chorando ao telefone, e uma perguntando pra outra: "mas vocês vão passar as férias sem a gente?", "eu posso ligar pra vocês se tiver saudade?". Parece muito aquele tradicional diálogo de dois quando estão no fim. É algo.

Me fez pensar sobre o quanto as pessoas estão dispostas a viver aventuras (de todos os tipos, não só as sexuais) hoje em dia. E elas estão bem dispostas, eu acho. O problema é que elas não dão conta das consequências. Uma coisa é você querer algo, outra bem diferente é lidar com tudo aquilo que aquela escolha te traz e que você só tem ideia do que é depois que chega. Parece papo de mãe pra filho adolescente, mas é isso mesmo. É para poucos.