quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

os anos ímpares

Eu não tinha nada contra eles, mas aí comecei a observar. Não que os anos ímpares sejam precisamente ruins, mas em comparação com os últimos anos pares, que foram incríveis, eles ficam meio apagadinhos. E perdem espaço no meu coração.

Estou com uma expectativa pra 2012 que mal posso conter. Eu acho que vai ser um ano foda, a despeito de todos os prognósticos que apontam o contrário. Mas ninguém me engana, eu vou tirar férias em menos de 15 dias e vou fazer 30 anos. É uma mistura que não pode dar errado.

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Fim de ano combina com recolhimento, e eu acho que as pessoas não sabem lidar com isso. Todo mundo sabe, todo mundo sente que é hora de desacelerar, o que parece piorar o comportamento frenético de compras-festas-comilança-agito dessa época. E eu, enquanto isso, dei uma diminuída no álcool, perdi (um pouco) da gula absurda e desencanei das baladas. Nem TV eu tô vendo, nem na academia eu tô indo, nem conversar direito eu tô conversando, pra não estragar as coisas que estão rolando aqui dentro. E tá bem bom, viu.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

quinta série

Religiosamente ele me procura. É engraçado porque eu quase nunca me lembro dele, mas ele sempre surge com uma dúvida, uma pergunta, um comentário ou algo do tipo. Ele sempre me manda uma mensagem ou um email ou um recado no facebook.

Ele nunca me tratou bem, e continua não me tratando. Num passado bem passado, quando eu gostava dele e ele sabia, ele me esnobava como ninguém. Mas não sumia. Jamais. Eu nunca fui burra, apesar de ter sido bastante inocente, e sabia o que isso significava. Que ele queria manter uma certa reserva de mercado para que, quando ele precisasse, quando estivesse sozinho e sem opções, sempre tinha aquela menina magrela que gostava dele.

Só que isso já faz tempo. E ele continua. Me chamando por apelidos depreciativos, fazendo comentários infantis, me perguntando coisas que só eu sei. "Como é o nome daquela banda que vc gostava mesmo? Tô querendo lembrar aquela música". Não faz sentido. São perguntas que só eu posso responder, e muitas das coisas eu nem me lembro mais. Mas ele continua. Forçando um contato, e esperando talvez que eu tivesse continuado como reserva de mercado, agora menos magrela.

E isso só reforça a grande, sábia e inexorável teoria de que nunca saímos da quinta série. Bendito o dia em que me foi dada essa sabedoria.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

uma fuga de Bach

O que mais me angustia é o fato de eu entender cada vez menos das motivações dos outros. O que afeta diretamente as minhas próprias motivações.

Eu não sei porque as pessoas vivem em busca de carros casas roupas viagens baladas restaurantes cabelos silicones lipos melhores e incríveis. E ficam nesse engolimento todo dessas experiências e coisas que não fazem o MENOR sentido. Mas no dia seguinte eu acordo louca pra sair comprando como se não houvesse amanhã.

E eu ando triste porque o meu engolimento que me tirava de tudo, meu alcoolzinho que me fazia tão legal e descolada e inteligente e engraçada, "olha como a Vívian é doida", não tem mais cabimento nenhum. E isso é triste pra caralho. Tomar uma decisão tão racional de ser você mesmo e ter que encarar tudo isso. Sem remédios. Sem drogas. Sem consumir nem comprar nada. Porra, é uma dor. Tapas na cara diários de realidade.

E o fato de estar lúcida e mais lúcida me faz entender menos ainda os outros. E perder a conexão com tudo isso. E a mente vagueia por aí, sem rumo, mendigamente.

Eu não quero nada disso. Não quero queijos e vinhos nas sextas à noite, não quero amigos com hora marcada pra ir embora dizendo como sou legal, não quero ir no bar/bistrô da moda pra falar que fui, não quero roupas indie, música indie, festivais indie, os indies que se fodam. Não quero ficar nessa espiral de substituir o happy hour de um dia pela viagem do fim de semana pelas férias fantásticas pela praia exclusiva pelo iPhone iPad iPod.

Cara, e como eu tô sozinha nisso tudo.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

o elefante voltou

E ele fica lá, enorme, no meio da sala. Eu faço ioga e ele me olha, estou no computador e ele dá uma trombada em mim, e não sai mesmo quando mais pessoas estão em casa. E só eu percebo que ele está lá, elefando do nosso lado.

Até nos meus sorrisos, é como se estivesse escrito: e-l-e-f-a-n-t-e, uma letra em cada dente. É tudo mentira, gente, ninguém percebe?

Ontem eu li uma matéria sobre o quanto as pessoas estão usando cada vez mais remédios atidepressivos, pra dormir, pra acordar, sei lá o que. Pra aguentar a rotina. Pra ser feliz e normal enquanto trabalha, trepa, fica no trânsito, sai pra beber com os amigos, sorri e lava louça. Você faz tudo isso, menos saber. Menos ser e pensar o que você é. É difícil explicar mais burramente do que eu expliquei, mas é mais ou menos isso.

Eu lido com esse peso e essa dor de ser eu mesma faz ó, um tempão. Nunca quis falar sobre isso, nunca quis um remédio pra não ser isso. Eu escrevo às vezes, mas não quero fingir que o elefante não está lá. Eu quero comer o elefante, matá-lo num safári, quero ser engolida por ele. Qualquer coisa menor tomar uma bala mágica pra que ele se torne transparente ou vire um passarinho feliz.

Enfim, é isso, ele tá de volta, incomodando muita gente. E eu só preciso saber dividir espaço, ficar amiga dele ou convidá-lo a sair. Não tá fácil, viu.