terça-feira, 23 de agosto de 2011

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

ensaio sobre a lucidez

Eu e um amigo conversávamos quando a gente chegou à conclusão de que, na casa dos 30, com muitos sonhos realizados, as coisas ficaram simplesmente sem graça. Não que a culpa fosse do trabalho, da vida ou das posses financeiras. A gente até que está longe do topo, falta comprar muito, fazer muito, ainda não chegamos lá (tomando como o ponto ótimo da vida de alguém). É que de repente a gente não tem mais aquelas certezas todas. E deu vontade de largar tudo, pegar a lancheira, um polenguinho, e ir tomar toddy no parque.*

Ele ficou com medo de estar virando um louco. Acho que, no fundo, ele (como eu) se sente meio idiota ou um ingrato com a vida por estar frustrado com tantas conquistas, aquelas conquistas bem legais que foram acontecendo e que a gente comemorou tanto aos 20 e poucos. E que, aos 18, jamais imaginava que conseguiria ter.

Eu achei que é síndrome de país rico. Aquela coisa de ficar deprimido quando se perde o desafio. Ou então, talvez, um ataque de hiperlucidez, de gente que tá se preocupando com as contas, com a dieta, com a próxima viagem, com o medo de beber demais ou ficar muito louco e depois não saber como se portou. São preocupações novas. Assustadoras e meio paralisantes, eu acho.

O que a gente não sabe direito é até que ponto a hiperlucidez vira loucura e o círculo começa do começo. de novo.






O que, se formos pensar, até que é uma ideia bem reconfortante.


* contribuição do meu amigo :-)



quinta-feira, 18 de agosto de 2011

A manicure

Eu tenho essa manicure, a Cíntia. Ela é uma menina bem legal e descolada, toda tatuada e com um corte diferente a cada vez que eu a encontro. Ela gosta muito de ler e sempre tá de olho no que está acontecendo no mundo - eu a admiro de verdade porque ela é super batalhadora, mas está sempre de bom humor, além de ter um papo ótimo.

Há uns meses, ela saiu do salão porque tinha conseguido uma oportunidade pra trabalhar numa empresa grande. Ela ia ser uma atendente de call center, mas ia ter um fixo direitinho, plano de saúde, bônus, aqueles benefícios todos de empresa grande. Fiquei feliz por ela, porque na minha visão limitada de classe média que quer ver os outros "crescerem na vida" (com todas as aspas do mundo), ela estava dando um passo adiante.

Depois de um tempo, ela volta pro salão. Diz que na empresa grande, não queriam saber de resolver o problema do cliente, mas sim de bater meta de atendimento. Que quando ela começou a tentar resolver esses problemas, a produtividade dela caiu e os chefes nem deram ouvidos, já foram cobrando. E, além de ganhar pouco, ela passava o dia todo trancada no escritório e ainda tinha que trabalhar aos domingos.

Existe um discurso muito consagrado de que trabalhar em escritório é legal. Eu inclusive acredito que parte das pessoas que lê esse blog também acredita nisso, e que, como eu, também acha que sair de um salão pra ser base da pirâmide em uma empresa grande pode ser um ótimo negócio.

Olhando por essa perspectva (a da manicure), eu vi o quanto estava enganada. O emprego dela é muito bom. Ela ganha fixo mais adicional por unha que ela faz, ela conversa com as pessoas o dia todo e sempre aprende coisas novas (foi ela que me disse isso), tem flexibilidade de horário e pode faltar num dia e compensar no outro. Não tem plano de carreira, nem plano de saúde nem nada disso, mas poxa, ela gosta do que faz.

E nós, da classe média, perseguimos loucamente esse ideal de emprego bom, de crescer na carreira, de trabalhar numa empresa cada vez maior (ou cada vez mais importante), de ter status e grana a um custo muito alto de ter cada vez menos tempo e paciência pras coisas realmente importantes.

Isso me lembrou o caso de um taxista que, nos idos de 2006, me contou que tirava 10 mil reais por mês. Ele era super humilde, não tinha nenhum estudo e morava num bairro longe pra cacete. Não tinha nenhum dos indicadores de status que valorizamos tanto, mas tava lá, montando uma frota de táxi e ajudando todos os parentes e tal.

Eu queria terminar com uma lição de moral linda e florida, mas acho que não precisa.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

os incríveis

Eu sempre quis ser uma pessoa incrível. Na pré-adolescência, achava que ser incrível era usar roupas com marcas legais, ter cabelos sedosos e aloirados, uma altura suficientemente aceitável e peitos. Nessa época, eu tinha um leve bigodinho que já começava a me apavorar, pernas finas como dois gravetos e duas blusas de frio, que eram rigorosamente alternadas. Fracasso define.

Depois, lá pros 15 anos, eu comecei a achar que ser incrível era ter amigos muito doidões e ouvir músicas muito doidonas, conhecer gente diferente e participar de suas vidas. Eu queria ser popular e engraçada, mas só conseguia ficar meio quieta ouvindo o que as pessoas incríveis tinham a dizer, com episódios agudos de impulsividade insensata. O bigode eu já não tinha mais, mas as roupas eram duramente batalhadas nas promoções pela minha mãe.

Quando eu saí da faculdade e comecei a trabalhar, passei a me achar um pouco mais incrível: eu era foca e batalhadora, fazia matérias muito legais e corria toda a cidade ouvindo um rádio de polícia. Virei meio malaca e, por ser a repórter mais nova de todo o edifício, acabei me tornando uma mistura freak de mascote e ninfeta. E comprava algumas roupas pra mim, obviamente na promoção.

Vir pra SP me deixou ainda mais confiante: eu tinha 23 anos, nenhum dinheiro, mas estava animada com o fato de não morar mais com minha mãe, pela recém-solteirice e pelo anonimato. Mas as meninas incríveis mesmo moravam em Perdizes, iam pra baladas caras e tinham roupas bem mais legais que as minhas.

Hoje eu meio que perdi a esperança. Eu tenho umas roupas mais legais, outras menos e celulites que me incomodam muito. Muita vontade de enlouquecer na noite, mas pouco dinheiro, pouca companhia e, no fundo, pouca disposição. Tenho um trabalho legal onde continuo a ser uma das mais novas, um marido bacana e inteligentão e duas aulas de ioga por semana. Confesso que tá longe do que eu chamaria de incrível, mas pelo menos tamos aí pagando as contas e degustando pílulas periódicas de diversão.

E o meu conceito de incrível, quem diria, se tornou bastante elástico: pessoas que me façam rir. São as melhores.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

não há saída

E aí que ontem eu fui ver o Melancolia, do Lars von Trier. Foi engraçado porque eu estava muito ansiosa pra ver esse filme, por vários motivos: um deles é que eu amo o diretor. Outro é que melancolia (a palavra e o sentimento que ela representa) sempre me fascinou.

De certo modo, eu estava me guardando pro filme, cultivando a minha dor de uma forma extremamente dura e gostosa, e eu realmente não sei como explicar isso bem. A dor já tava quase explodindo quando eu fui ver o filme, e foi muito bom porque eu saí meio aérea e pensativa de lá. Demorei um pouco pra entender tudo o que eu estava sentindo, e isso é um forte sinal de que eu amaria esse filme. Não esperava que fosse tão tenso, mas ao mesmo tempo tão libertador: eu tremi o tempo todo. No final, eu tava aliviada porque o mundo ia acabar: com isso acabava-se toda aquela tensão e aquele sentimento de deslocamento tão insuportável.

Desde criança, eu achava engraçado esse meu alívio quando percebia que não havia saída: a parte de se entregar no momento da morte, não lutar, não correr do bicho papão, já que ele vai te pegar mesmo. Eu nunca entendi muito bem esses personagens que lutavam bravamente contra a morte - o meu bom senso e a minha preguiça sempre me convenceram de que era melhor não gastar energia com isso e sentir todo o tesão de deixar o carrasco te matar.

O filme me deu esse alívio. Quando não há saída, não há saída, e eu gostei muito da personagem de Kirsten Dunst (que admiro cada vez mais como atriz), que parece uma louca inconsequente e mimada no começo do filme, se afunda gostoso na depressão pra depois submergir numa lucidez impressionante. Caralho, que personagem.

Fora que tem a trlha sonora foda de Wagner, tem a Charlotte Gainsbourg fazendo uma coisa diferente, tem aquela luz na Suécia que puta que pariu.

Saí de lá com uma coisinha gostosa dentro de mim: se for pra morrer, que seja devido a um choque com um planeta azul (note-se que isso exigiria a extinção da humanidade na Terra e não é isso o que eu estou desejando, claro).

Beijos

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

alter ego

Eu já disse algumas vezes nesse blog que, em determinados momentos do mês, eu fico completamente louca com a ciranda dos hormônios. É muito divertido, cansativo, desgastante e emocionante, mas eu garanto que vale a pena ter dado adeus à pílula e redescoberto o meu eu verdadeiro depois de conter a minha verdadeira e brilhante personalidade por décadas. (exagero mode on).

Bom, eis a questã: em um determinado período do mês, o mais enlouquecedor de todos, eu simplesmente acho a minha vida um porre, chata, monótona e coxinha. E desejo ardentemente ser outra pessoa.

Meu alter ego do mês usa bastante maquiagem preta nos olhos, é de 10 a 15 centimetros mais alta, mal-humoradamente engraçada e tem cabelos desalinhados e lindos. Não trabalha com nada particularmente interessante, o que lhe permite frequentar a noite, encher a cara e estar de pé no dia seguinte pra fazer o que quer que seja.

Vamos ver o que podemos fazer pela fantasia do mês, estamos trabalhando nisso.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

mudanças

Daqui a algumas semanas, vou mudar de casa, sair do bairro de que gosto tanto e do apartamento onde vivi muitas coisas legais. Vou pra outro bairro que também gosto muito e pra um apartamento maior, que promete outras coisas diferentemente legais.

Ontem eu meio que demiti a minha terapeuta, porque, além da falta de dinheiro e da dificuldade logística, eu senti que não havia mais nada pra dizer. E olha que eu nem consegui falar metade das coisas que deviam ser ditas pra ela. Pelo menos agora, não valia a pena.

E, enquanto isso, uma amiga querida se muda de cidade, outra muda de vida, gente querida sai do emprego, meu marido começou um emprego, relacionamentos importantes acabam, as bolsas despencam, o filme do Lars Von Trier sobre o fim do mundo estreia.

Eu amo mudanças, e sinto uma alegria imensa quando elas acontecem. Mas dá um medo. Dá uma sensação de perda absurda. Enquanto uma parte de mim acha tudo isso o máximo e adora as novidades que toda essa transição promete, outra parte sente que tá envelhecendo, perdendo pessoas, momentos, vida.

Mas ok, temos que lidar, estamos sem terapeuta e sem dinheiro para tal. Bora tomar umas.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

decepções

Em 29 anos, eu tive até que bem poucas decepções na vida.

Tirando a parte amorosa, onde 89% dos problemas foram causados por mim e pela minha mania psicótica de me apaixonar louca e perdidamente, o resto foram coisas absolutamente pontuais.

O caso é que, quando olho pra trás e vejo onde está a fonte das decepções, percebo que elas foram causadas principalmente por uma fobia de rejeição que eu desenvolvi com muito gosto durante minha adolescência magrela e sem peitos. Aí era sempre assim: eu não sabia que tinha sido rejeitada (ou lá no fundo sabia, mas queria ter certeza absoluta), e insistia até que uma bosta gigante acontecesse e a decepção se materializasse em sua forma pura, frustrante e cheia de rancor. Lágrimas não, porque eu não sou de lágrimas. E essas coisas sempre me causaram problemas, e eis a explicação de eu ter tantas histórias legais pra contar. Que, aliás, só são legais hoje, vistas de longe.

Com o tempo, a gente aprende a ficar mais controlada, mas o bichinho da fobia de rejeição tá sempre lá, à espreita. E se manifesta, claro, nos melhores momentos, quando a vida tá boa. Tô de olho.

Pra quê terapia quando se tem um blog, né?