Eu vivo bem com a minha dor. Me acostumei com ela, constante, presente, como uma companhia que a gente se habitua.
Minha dor é diária. É como ter um nariz meio esquisito. Você se esquece que tem, e de repente alguém olha, ou você mesmo se olha no espelho e vê aquele nariz lá. Pode incomodar às vezes, mas não é todo dia que você vai achar seu nariz esquisito, afinal é o seu nariz.
A minha dor é assim. Afinal, é minha, é cotidiana, mas também é dor, e machuca às vezes. Se faz presente. E eu vivo como se fosse um super-herói com uma identidade secreta, porque nunca falo da minha dor e escondo ela como se esconde um defeito. Mas ela não é defeituosa, é só a dor mesmo. E eu nem saberia falar dela, se quisesse, se pudesse, porque, afinal, o que se fala de uma dor?
Já a minha fome é diferente. Ela é constante também. É motivo de piada às vezes. Como uma pessoa pode sentir fome o tempo todo? Eu sinto. Mas às vezes ela some também. Lógico, some quando eu como muito, mas volta rápido. E passa alguns dias sumida também, quando tudo está triste. Ou seja, ela e a dor são companheiras, mas não se bicam muito. Como duas amigas muito lindas que competem pelo amor de alguém. No caso, eu sou esse alguém. Dividida entre a minha dor e a minha fome.
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