segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Sim, tem carnaval em SP

E foi legal, e eu fui em dois blocos, um deles cantou Beatles em ritmo de samba, só tinha gente linda e não tava lotado, começou a chover uma chuvinha boa e bater um ventinho bom e naquele momento eu fui feliz.

Depois fui num outro perto de casa, as pessoas estavam civilizadas, meus amigos gays se esbaldaram porque toda a comunidade estava lá e eles trocavam figurinhas sobre quem já pegou quem e me mostraram a bunda mais bonita de São Paulo.

Em ambas tinham pessoas com fantasias legais e criativas e o clima tava tão bom, gente, nem parecia o mesmo lugar que no dia anterior estava cheio de PMs armados até os dentes.

Mas eu bebi pouco, não fiquei muito tempo e nem abri uma brechinha para enlouquecer, porque não posso mais. Pessoas que começam a ter dor de cabeça quando bebem a segunda latinha (fígado fail) e sofrem terrivelmente porque no dia seguinte precisam acordar às cinco: VELHICE. O resultado disso tudo é que fui dormir no impressionante horário de nove e meia da noite. Acordei às 3 com meu digníssimo esposo assaltando a geladeira e não consegui dormir mais.

Mas eu fui feliz em, sei lá, duas horas do fim de semana. O que já é uma puta vitória.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Bitch

Eu sou chata pra caramba. Quando era adolescente eu era uma fofa. Engolia todos os absurdos que me falavam. Não discutia, mal falava. Era tímida, achava que eu devia ficar quieta no meu canto e concordar com tudo para que as pessoas gostassem de mim.

Aí cresci. E durante boa fase da minha vida adulta eu continuei assim. Só que eu sou uma pessoa que gosta de falar. Eu não consigo manter essa boca fechada. E falando todas as merdas que passam pela minha cabeça, percebi que as pessoas podem, sim, gostar de alguém que emite opiniões (nesse caso, eu).

De uns tempos pra cá esse processo evoluiu um pouco mais. Escolho as discussões das quais vou participar, mas participo VALENDO. Não brigo porque acho ridículo, mas uso todos os argumentos possíveis e defendo a minha opinião. Talvez seja algo que aprendi no ano passado, quando morei fora e convivi com gente que sabe debater pra caralho. (Vai discutir qualquer tema com um sueco pra você ver. Eles não perdem JAMAIS. Minha amiga de lá me disse que eles têm aula de debate desde a alfabetização. Aos dez anos de idade precisam se posicionar em frente à toda a turma se são contra ou a favor do aborto e porque).

Daí que voltei, convivi demais com essas meninas aí e fiquei assim, virei a barraqueira da feira. Ontem discuti no facebook da minha mãe com um senhor chamado Jesus. Que né, deveria ser uma briga não comprada, porque ele só digita em caps lock e escreve "ediôndo". Mas ficamos lá, discutindo a opinião da Sheherazade do SBT (eu sei, gente, que arrependimento). E no final eu fui muito foda, apelei para Jesus (o original) e disse que ele (o Jesus caps lock) precisava ler mais os ensinamentos do xará dele.

(pausa para rysos)

O véio ficou possuído e defendeu a pena de morte para pessoas como eu.
Pois é, agora sou assim, bitch, barraqueira, compradora de briga com pessoas que gritam na internet sem saber, hipócrita religiosa e ameaçada de morte.

Ainda bem que o mundo tá acabando porque eu nem quero ver a evolução disso.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Burrice

Ontem eu tava conversando com uma amiga. Ela acabou de pedir demissão, assim, do nada. Não quer mais fazer o que ela vem fazendo até agora, cansou da empresa, da profissão. Deu uma piradinha (responsável, mas deu). Vai ficar 4 meses na Austrália com o marido e quando voltar vai ver qual é.

Ela trabalhava em uma empresa das 10h às 19h. Não podia atrasar 10 minutos que recebia cara feia, a mesma cara feia que faziam quando ela saía às 19h. Achavam que tinha que ficar mais. "Se dedicar", se quiser "crescer". Mostrar ambição, comprometimento, essas coisas. Eu sei porque já escrevi muito sobre essas paradas de RH e Carreira, meu dedo já escreve sozinho, não preciso nem pensar. Diria até que eu ajudei a criar o monstro.

Aí ela falando: "mas por que eu tenho que ficar até depois das 19h? Aliás, por que eu preciso ficar até às 19h? Tá cheio de gente olhando Facebook, procrastinando, enrolando trabalho, horário. Essas pessoas podiam estar em casa, almoçando, malhando, vivendo, indo no cinema, estudando, sei lá. Mas estão lá NÃO TRABALHANDO, mas já que têm que fazer o horário, vamos lá, né, olhar Facebook".

Gente. E isso é tão verdade. As empresas hoje pedem que a gente trabalhe mais, e aí precisamos estar disponíveis e responder emails às dez da noite e jamais nos atrasar. E aí não podemos sair, digamos, às quatro da tarde porque chegamos mais cedo. Ou porque trabalhamos muito no dia anterior. Mesmo que não tenha nada para fazer. Muitas vezes fica aquele bando de abobado lendo blogs  sites de notícias com o cérebro no piloto automático só porque ainda não deu a hora de sair. A HORA DE SAIR. que coisa velha, gente.

Daí hoje eu estava indo linda e sonolenta pegar um chá na cozinha da firma, com o objetivo de esticar as pernas e descansar os olhos. E no caminho vi um cantinho em uma das salas, uma sala de reuniões que quase sempre está vazia. Um cantinho que me cabia deitadinha lá, esticada, tinha um solzinho agradável (combinado com o ar condicionado daqui). Parei e fiquei olhando aquele cantinho um segundo. Me deu vontade de deitar lá. Agora imaginem a cena: uma funcionária levanta, pega um chá, entra em uma sala vazia de reuniões e deita no chão. E fica lá de olhos fechados até que alguém a descubra.

Eu tive essa epifania e pensei que, poxa, deitar ali não seria má ideia. Todo mundo ia me achar uma louca, né, claro. Porque normal mesmo é passar horas babando na frente de um monitor vendo Instagram de blogueiras fitness, gifs de gatinhos fofos e vídeos idiotas no Facebook.


terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Updates

Mataram um cara na minha rua. A polícia tem andado bastante por lá, parece que há muitos crimes de homofobia acontecendo, além dos assaltos e outros crimes "normais" (eu chamando crime de normal, gente, alguém me interna).

Acharam os bandidos, uma gangue de skatistas que batia nos gays com os skates e depois roubavam tudo, carteira, celular, tênis, bilhete único, para o cara não ter como voltar pra casa. Um negócio de humilhação mesmo.

Faltando água. Eu tomando banhos de 30 segundos porque tenho medo de morrer de sede no curtíssimo prazo.

Aí eu chego em casa e meu fofo cônjuge me conta que leu a entrevista de um cientista fodão que fala que em 20 anos estaremos começando uma guerra por água e hordas de imigrantes irão para os extremos do planeta em busca de um clima habitável e que em 100 anos 6 bilhões de pessoas morrerão.

Daí eu acordo às 6 da manhã de hoje (como todos os dias, desconfio que o que fode a minha vida é acordar às 6), ainda está escuro e um filho da puta de um vizinho LAVANDO A GARAGEM COM MANGUEIRA - e ainda fazendo barulho.

Eu tento, gente, eu tento. Mas tá foda.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Tem coisas que nem daria para escrever

Ontem tive uma recaída. De novo. Aquela tristeza de merda do cansaço, dessa luta insana que jamais entenderei, por chegar em casa com chuva e ter medo do fuzil enorme que vi na mão do policial dando geral em vários meninos, Deus, na minha rua. Entrei no chuveiro a ponto de chorar, e ele estava tão feliz, havia sido um dia bom para ele. Ele elétrico me contando tudo, e eu só pude dizer: foi um dia normal. Para não dizer que tinha sido ruim, que o ponto alto foi ver meus amigos no almoço mas foi tão rápido que me deu mais tristeza ainda.

Brigamos porque eu me sinto tão sozinha que ele jamais entenderá.

Brigamos porque ele se recusa a se entregar à minha dor.

Eu espero muito que eu esteja errada, mas é como se eu estivesse me transformando em um ser inanimado. Sem alma. Como se eu mesma me olhasse nos olhos e não visse nada lá no fundo.

Meus lampejos de vida são acompanhados imediatamente por uma ressaca moral tão grande, tão maior que todas as ressacas morais que já senti na vida. Como se meus freios estivessem me dominando tanto que me levassem a uma perfeita conformidade que me apodrece toda.

Alguém me explica isso?



sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Ungida

Olha que ironia.

Uma amiga, daquelas boas, tem ouvido esse mimimi abaixo acho que por tempo demais, coitada. Me mandou um email com um link de uma mensagem de um pastor lá não sei das quantas. Um pastor americano, esse pessoal que estuda Teologia e Bíblia e filosofia. Fui meio com preguiça ler, ai que saco mas tenho que responder o email da minha amiga pra mostrar que me dei trabalho de ler, e, gente.

(pausa dramática)

ME UNGIU O TROÇO.

hahaha, não é pra tanto, vai

Mas assim. Foi bom porque me deu uma perspectiva do quanto eu estava sendo mimada e ridícula com essa reclamação blasé de "ai, consumo", "ai não tenho vida social tempo e como as pessoas são rasas e não me identifico". SIM, AMIGUINHA, É ASSIM QUE A VIDA É, ACEITE.

E acordei melhor hoje. :-)

Pra vocês verem o que spam de pastor anda fazendo por aí, pessoal.

(O meu nível de vergonha foi tanto que tive que falar que o pastor é americano e estuda filosofia, caindo na mesma vala comum das ~pessoas rasas~ e tal. É bom quando o autoconhecimento acaba com a sua moral)

Cuidem-se.



segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Aviação é o meu nome do meio

Lá estava ele, sentado no metrô. Calça de moletom furada, faltando os dois dentes da frente. Uma camiseta velha. E, do lado, a filhinha que devia ter um ano. Linda, de fralda, roupa escrito "Princesa" com glitter, um sorriso ainda com todos os dentes que são possíveis. Fazendo o maior sucesso com toda a sua simpatia. Nesse dia, eu juro que vi o olho triste dele contrastando com a alegria dela. Não tinha motivo nenhum, mas saí com o coração partido.

O moço estava vendendo camisetas no shopping, tanta gente, tanta tanta gente, só ele para atender. Uma barraquinha com camisetas num ponto tão bom, meu Deus, será que esse moço teve tempo de almoçar? Olha a mão dele ali tremendo. E fazer o que se não almoçou? Deixar a barraca sendo invadida por hipsters tão consumistas quanto o resto das pessoas, mas que compram camisetas com desenho de bicicletas vintage que nunca terão? Dei uma barrinha pra ele. Ele ficou me olhando com cara de Q e eu saí correndo com vergonha.

Uma menina do Couchsurfing me mandou um email falando que o cara que hospedou ela não a tratou tão bem assim, ai meu Deus coitada da menina, vem pra minha casa, eu faço um cafezinho e tento mostrar que SP tem gente legal também, mesmo que sejam só os mineiros.

O moço me pediu um dinheiro na porta do supermercado já faz meses, eu não tinha, ele me disse, "Minha filha, eu vou sair dessa. Logo eu que já estive tão bem..." - e saiu com a voz embargada. Nunca mais esqueci dele.

Preciso de uma dose de durepox no coração, senão viro água antes das Olimpíadas.