quarta-feira, 28 de maio de 2014

Vida-game

Foi assim: uma amiga reclamando que vivia irritada, que a vontade dela era espancar as pessoas. Sem motivo. Eu me identifico, gente, porque consigo perder a paciência com o ser mais puro e bonzinho do mundo. Agora imaginem a sensação com quem me irrita de propósito. Instintos assassinos.
Daí que eu comecei a falar pra ela:
"  vc precisa ter mais perspectiva sobre a sua vida
vc tá muito mergulhada nesses seus problemas cotidianos
MBA, trabalho, hômi, falta de grana
e aí vc vive isso, isso te consome e vc não consegue pensar em mais nada
na sua vidano que vc quer, o que vc deseja, seus sonhos, suas aspirações, sobre quem é você
seus amigos, pô
a gente precisa se ver, cara
a vida da gente virou um video game em que o próximo passo é passar de fase"

Ela falou: amiga, que bonito isso. Video game. Hahahaha, cagamos de rir. Video fucking game.
Eu falei do fundo do coração, gente. Acho a analogia super válida, mas foi engraçado na hora e etc.



Mas eu acho isso mesmo e continuo pensando.
Quando é que a gente vai sair dessa, gente? Todos nós, eu digo.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Existencialismo de primeira página

Eu estou lendo Sartre, "A Náusea". Confesso que comecei a ler porque achei chique ler Sartre - e porque li "A Idade da Razão" há um tempo e gostei. Bom, o fato é que estou lendo e gostando muito.

Aí fui falar pro Victor, que é acadêmico, cabeção e tal, sobre o livro. Li uma frase lá que achei de impacto e comecei a explicar o livro, tentando definir de alguma forma o existencialismo que ele coloca no livro, através do personagem. Falhei. Falhei vergonhosamente, horrivelmente. Falhei de forma humilhante e dolorida. Não consegui explicar o conceito e só consegui descrever umas cenas lá em que ele dá uma canivetada na mão.

Essa falha foi tão ridícula que me fez lembrar de algumas coisas:

- 2002, faculdade de Comunicação, aula de semiótica. Fui a última da turma a entender "que porra é essa que esse cara tá falando". Sério, levei dois meses para começar a juntar uma palavra com a outra e formar uma ideia. Falhei vergonhosamente (mas passei na matéria, rs)

- 2014, USP, numa matéria equivocada que resolvi acompanhar como ouvinte. Tive que ler textos com conceitos aleatoriamente abstratos, sofri por não entender nada, escondi isso de toda a turma, mas na hora de propor um projeto de pesquisa pra fessora como trabalho final, falhei miseravelmente. Ela falou que aquilo não tinha nada a ver com a matéria e eu nunca mais voltei pra aula.

O que me leva a: não consigo entender conceitos abstratos, gente. De alguma forma eu consigo sentir e experimentar, acho até bonito quando leio. Mas não consigo entender. Sequer explicar pra alguém. Sou jornalista e penso em fatos, acontecimentos. Sei contar histórias. Sei reproduzir falas.

Digamos que eu sou um papagaio de luxo. Ou talvez nem isso, né. Quanto custa um papagaio?

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Eu nem gosto de Clube da Esquina

Mas preciso ser mais Maria. Ter gana raça fé na vida, sonho sempre e tal.

A gente tem mania de querer que as coisas boas pulem na nossa frente. E ó, logo eu que sempre corri atrás delas. No fundo, tudo o que eu posso concluir é que SP me acostumou mal.

Como se eu pudesse culpar SP.

O fato é que estou aqui e não vou sair tão cedo, mas sou uma velha coroca reclamona botando toda a culpa nessa metrópole fedida onde...

1- Trabalhei com mil coisas legais

2- Conheci mil pessoas legais

3- Conheci o meu amor (óin)

4- Virei gente, perdi preconceitos, ganhei dinheiro, abri a cabeça

SP me levou a todos os caminhos possíveis. E agora que ela está aqui, agonizando sem água (seria águanizando?), eu não quero mais brincar.

veja bem

Várias pessoas não querem mais brincar. E há 8 anos, todos os fucking dias só o que eu ouço é falarem mal de SP. Uma hora a gente entra na onda e começa a falar mal também, né. Afinal, é tendência - falar mal de SP é mais popular que a coxinha do Veloso, o sanduíche do Estadão, o Bauru do Ponto Chic.

Eu amo SP de um jeito bem estranho. Mas amo. Acho.


terça-feira, 8 de abril de 2014

Isso não é um poema

Todos os dias eu acordo meio sem pensar muito (se eu pensar eu desisto)

Levanto e faço todas as tarefas automáticas bem rápido, mas nem tanto, porque eu tenho uma hora pra me arrumar e eu preciso disso

Preciso ter tempo pra tomar café banho ler notícias arrumar tudo fazer maquiagem

É um ritual bom

Eu juro que não sinto falta de ter tempo demais - já tive e sei que não é bom

Mas juro que sinto falta de ter um pouco de tempo a mais

Eu queria pegar um cinema, fazer um poema, queria andar mais a pé, ver as coisas no Sesc, flanar um pouco na cidade que eu sempre amei

Queria ir numa festa na quinta-feira  (de verdade), queria poder beber e me permitir ter  um pouco de ressaca na sexta, e ainda assim poder trabalhar

Dá pra fazer isso

Eu não preciso desse dinheiro benefícios cargo legal oportunidades carreira

Eu preciso só ser eu um pouco

Só não sei o que fazer com isso tudo

terça-feira, 18 de março de 2014

Sempre pode piorar

Nos últimos dias:

- Escutei um volume de preconceitos babacas coxinhas inimagináveis na vida, do tipo: "ele tem sotaque do interior, MAS é um bom profissional", "polícia tem que bater em manifestante mesmo, é pra isso que serve" e "meu filho pode ter a profissão que quiser, tipo, sei lá, dançarino, mas quando quiser um carro eu vou falar: olha filho, que vida você escolheu". Sim. SIM. Eu ouço essas coisas todos os dias.

- Fui fazer reavaliação física na academia, já ciente que não estava lá aquela beleza, mas não só engordei MUITO como ganhei MUITA gordura e fui perguntada se eu tenho ciência do meu "problema de retenção de líquidos". "Sim, eu sei, tenho total consciência do quanto é abominável e tento tratar e esconder desde os 14 anos". Mas nada funciona e eu continuo nessa. Ah, e fui chamada de falsa magra. Falsa magra = gorda, amiguinho.

- Comecei uma matéria como aluno especial na USP me achando a fodona intelectual e não entendi nem uma palavra de nenhum dos 4 textos que li. Sou a patricinha burra de uma sala cheia de acadêmicos que não se penteiam e usam colar de frutos do mar, mas que sabem citar teóricos clássicos da Geografia.


-  Vivo a vida como se fosse um zumbi, preenchendo cada brecha da vida  com uma aula joguinho internet rede social para não pensar nessa grande merda em que eu me atolei.

- Tive que acordar em horários nunca dantes acordados para vir trabalhar.


- Fiquei gripada por causa do ar condicionado antártico que fica zunindo nas minhas costas.

Mas sempre pode piorar, né, gente.
Então calemo-nos.

terça-feira, 11 de março de 2014

A questão é: cansei

Como 70% das pessoas que moram nessa cidade.

Eu ficaria se fosse num esquema super mega conveniente, tipo ir a pé pro trabalho e fazer um horário, sei lá, de 11h às 20h. Com direito a fins de semana e feriados. E um salário decente, claro. Mesmo assim eu pensaria meia vez para ir para, digamos, Luxemburgo, ganhar metade do meu salário e trabalhar de atendente de hostel.

Aqui não posso ter tempo, não posso ter a minha própria casa, não vejo meus amigos, não vejo o meu marido que mora comigo, não faço academia do jeito que quero porque sempre estou cansada demais, não tenho lazer no fim de semana porque só quero dormir porque estou cansada demais, não vou no cinema porque tem muita fila, vamos continuar essa lista até o fim dos tempozzzzzzzzz.

Fora que super vai dar merda, eu tenho pesadelos com o nível do reservatório da Cantareira na Copa. Caos zumbi agora, imagina na Copa.

Alguém me salva de SP, por favor.

Todo carnaval tem seu fim

(Aprendam: quando uma pessoa cita Los Hermanos, ou significa que ela está melancólica ou então, sei lá, ela é esquisita mesmo. Eu gostei um pouco de Los Hermanos uns anos atrás, mas sofria demais quando ouvia, então meio que desisti. Ia cortar os pulsos a qualquer momento.)

A questão é que: na minha vida, não há Carnaval perfeito. O desse ano foi o mais próximo de perfeito que se pode chegar, mas como eu precisei viajar mais de 13 horas para ir e 13 horas para voltar, incluindo carona, ônibus cata-jeca, crianças chorando de madrugada, trânsito indecente no meio do caminho que me atrasou pelo menos umas duas horas AND paradas rodoviárias escrotas, perfeito não é exatamente a palavra a ser usada aqui. Minas é mais longe que a Europa, gente.

Mas quando cheguei na casa do meu irmão e vi meus dois sobrinhos, a minha linda que está enorme e quase uma moça, o pequeno que é um pacotinho que fala, canta, corre e me chama o tempo todo, sumiram todas as 26 horas de viagem. Fiquei com eles o tempo todo e extravasei toda a minha maternidade inexistente porque né, filhos, SP não trabalha.

Resumindo: limpei bundas, nadei na piscina e inventei a brincadeira do sapo com xixi venenoso, fiz minha sobrinha escrever a primeira carta da vida dela pra mim (a ser recebida). Meu sobrinho perdeu o medo de molhar o cabelo e não perdeu o sotaque de Cebolinha. O resto da família também foi, aquela bagunça, jogamos baralho, fizemos churrasco, bebemos, essas coisas de família. Tudo ok e sem brigas.

Mas aí eu precisei voltar né. Depressão total. Assisto os vídeos do meu sobrinho em looping e já dei umas choradinhas e tal. Vou ali escutar Los Hermanos, não sei se volto e etc.